O Poder Do Destino. Capítulo 27.



Windenburg. Terça-feira.


Naquela fresca manhã de verão, Pedro convidou a família e os amigos para sair. Foram a uma cafeteria no centro de Windenburg.




Ele tentava alegrar o dia da irmã, que ainda estava triste pelos acontecimentos de domingo. Amanda sofria por não estar com Hugo, mas fazia de tudo para não incomodar a família, sofrendo em silêncio. No entanto, isso só piorava as coisas, pois todos notavam como ela estava distante e alheia às conversas e interações.

— Ela tá tão triste... — lamentou Sarah.

— Isso vai passar, só temos que ter paciência — respondeu Pedro, tentando confortar a esposa e a si mesmo.

— Se ao menos ela se alimentasse! Mal faz uma refeição por dia... Não come e nem dorme direito!

— Ela vai ficar bem, Sarah! Amanda tem a nós, que amamos muito ela.

— Mas o amor que ela quer não é o nosso...




Na mesma cafeteria.





Vivian e Otacílio chegaram mais cedo e já estavam pagando a conta para seguir com sua rotina diária.

— Vou esperar lá fora, preciso tomar um pouco de ar.

— Tá bom, querido, mas cuidado. Sua pressão continua baixa.



Otacílio não havia dormido bem, e sua pressão arterial continuava irregular. Antes de sair, notou uma mulher cuidando de sua filha e, sem perceber, ficou observando-as.

Sarah notou o homem bem-vestido parado ali, olhando para ela, e decidiu cumprimentá-lo.



— Bom dia! Tudo bem?

— Bom dia! — respondeu Otacílio, um tanto desconcertado, percebendo que havia ficado tempo demais olhando para mãe e filha. — Me desculpe, não quero incomodar!

— Imagina! O senhor não está incomodando. Meu nome é Sarah, e esta é minha filha, Sofia.

— Prazer em conhecê-las! Me chamo Otacílio Brandão. Sua filha é uma menina linda, mas... bem incomum. Por favor, não me entenda mal!

— Tudo bem, eu sei que a Sofia chama atenção. Tem a pele morena, os olhos verdes e o cabelinho vermelho que herdou de mim.

— A pele morena... Ela deve ter herdado do pai, mas... — Otacílio sentiu um calafrio ao olhar para as outras pessoas sentadas no local. 

— O seu marido é aquele homem?



— Sim! O nome dele é Pedro.

— Pedro?... Pedro Barros?

— Ele mesmo. O senhor conhece?

Pedro, que ouvia a conversa, reconheceu a voz de Otacílio assim que ele falou as primeiras palavras.




— Como vai, Álvaro Barros?

Otacílio ficou paralisado.

— Pedro... — murmurou ele, sem acreditar no encontro inesperado.

Sarah olhou confusa para o marido e, em seguida, para Otacílio.

— Pedro, esse não é o nome dele. Ele se chama Otacílio Brandão! Espera aí... Você disse que o sobrenome dele é Barros? Amor, você confundiu tudo?!





— Não confundi. Esse é o nome dele, o mesmo que está na minha certidão de nascimento!

— Pedro, meu filho! Há quanto tempo não nos vemos! Essa é a sua família? Onde está Amanda?

— Já se passaram doze anos desde que você saiu de casa e nunca mais voltou! Mas eu sempre vejo você nas notícias... Afinal, você é um dos empresários mais bem-sucedidos de Windenburg!

— Você sabia que eu morava aqui? Então por que não me procurou?

— Você deixou de ser meu pai quando abandonou minha mãe para viver com outra mulher... e por dinheiro! Até mudou de nome e sobrenome. Por que eu iria procurar por você?

— Sei que errei muito com vocês, mas tive meus motivos...

— Não quero saber! Não me importo com você. Continue vivendo sua vida e deixe a nossa em paz!





Sarah ficou surpresa com a revelação.

— Pedro... esse senhor é o seu pai?

— É sim! Ou pelo menos já foi, um dia.

— Pedro, meu filho, vamos conversar?




A conversa chamou a atenção de Amanda e seus amigos.

— Quem é aquele senhor? Por que o Pedro parece tão irritado com ele?

— Pois é, tô achando estranho também... Mas não deve ser nada — comentou Luísa, observando a cena.

— Talvez seja um cliente? — sugeriu Tae.

— Se for cliente, tá devendo pro Pedro, porque ele tá com uma cara de raiva! Eu vou lá ver o que é!

— Amanda, vamos esperar aqui. Esse cliente é do Pedro! — Luísa tentou poupar a amiga de mais uma preocupação, mas Amanda decidiu ir.




— Pedro, o que tá acontecendo?

Quando Amanda olhou para o homem idoso, sentiu um frio na barriga. Após alguns segundos, reconheceu-o.

— Pai?

— Filha?!... Como você está linda! Se tornou uma bela mulher.

— Eu não acredito... É você mesmo?

— Sim, sou eu, Amanda. O seu pai!





Vivian terminou de pagar a conta e se aproximou de Otacílio.

"Mas quem são essas pessoas malvestidas? O que querem com o velho?"





— Otacílio? O que está acontecendo aqui? Quem são essas pessoas?

Amanda estranhou o nome que a mulher usou.

— "Otacílio"? O seu nome é Álvaro Barros, não Otacílio! Quem é essa mulher?

— Quem sou eu? Você não vai responder, Otacílio?!

— Vivian, não é um bom momento! — Otacílio, ou melhor, Álvaro, tentava evitar uma confusão ainda maior.

— Essas pessoas estão pedindo alguma coisa para você? Emprego, dinheiro...? O que é desta vez?

— Vivian, não!





— E por que a gente pediria alguma coisa pra ele? Quem é você, hein?

— Sou a noiva de Otacílio Brandão. Vivian!





— Você tá noivo de uma mulher que tem idade de ser sua filha? — Amanda ironizou.

— Ela não é tão jovem quanto parece! Podemos conversar com calma, por favor? — pediu Otacílio, tentando acalmar os ânimos.

— Por que isso não me surpreende? Esse comportamento é típico seu! Nunca foi fiel a nenhuma esposa, não é mesmo? — Pedro se lembra das infidelidades do pai.

— Se você está pensando que traí minhas ex-esposas, está enganado!




— Como enganada? Você enganou a nossa mãe e depois abandonou a gente! Ela morreu apaixonada por você! — Amanda lembrou do passado e se revoltou. — Quer saber? Vai embora! Desaparece de novo! Não queremos saber de você!

— Amanda, minha filha, vamos nos acalmar. Podemos conversar em outro lugar, por favor?

— Já conversei! E você não é mais meu pai! Deixou de ser quando abandonou a mamãe. Vá viver sua vida de rico com essa perua!

— Muito bem, você ouviu a desajeitada. Vamos embora viver a nossa vida, Otacílio! — Vivian falou, encarando Amanda com desdém.

Pedro franziu a testa ao ouvir o nome da mulher.

— O seu nome é Vivian?... Você não é desta cidade, é?

— É lógico que não! Mas antes que pense que estou me aproveitando do meu noivo, saiba que tenho minha própria riqueza. Estamos juntos por amor! Mas isso não é da sua conta!

— Por amor? Difícil de acreditar... Mas não é mesmo da nossa conta! Não queremos saber da vida de vocês! — Amanda cortou a conversa.





— Por favor, meus filhos, me deem uma chance de me explicar? Vamos conversar com mais calma... É tudo que eu quero.





Sarah interveio.

— Olha, acho que vocês poderiam conversar melhor. Não faço parte dessa família há muito tempo, mas amo vocês. E agora temos a Sofia... Será que ela não pode conhecer o avô?

Amanda estava inconformada.

— Sarah, ele nunca quis saber de nós! Nunca procurou a gente! Você acha mesmo que vai se importar com a Sofia?

Sarah olhou para os amigos de Amanda.

— Luísa, Tae... O que vocês acham?

— Acho que a conversa é o melhor caminho para um entendimento — opinou Tae.

— Mesmo que ele não mereça, concordo com o Tae. Vocês deveriam conversar com calma e decidir depois o que fazer — acrescentou Luísa.




— Tudo bem... Vamos ouvir o conselho da minha cunhada e dos meus amigos. Vamos conversar para resolver essa situação. Mas pode ter certeza: nunca vou perdoar você pelo sofrimento que fez minha mãe passar! — Amanda não conseguia perdoar o pai que os abandonou.

— Nem eu vou perdoar! Mas entraremos em contato quando decidirmos o dia dessa conversa — Pedro concordou, relutante.

Otacílio se surpreendeu.

— Então você também sabia como me encontrar? Deveria ter me procurado, meu filho.

— Se você quis sumir, deixei que sumisse...

— Não espero que me perdoem, mas pelo menos tenho a chance de explicar o que aconteceu. Vou aguardar o contato de vocês para conversarmos.

Vivian, por outro lado, estava furiosa.

"Velho desgraçado! Ele me enganou! O que eu vou fazer agora? Não posso dividir meu dinheiro com esses mortos de fome! Eu tenho que resolver esse problema... Não vou abrir mão de nada, nem que tenha que matar um por um!"





Amanda e Pedro concordaram em conversar com o pai em outro dia. Otacílio se despediu e saiu caminhando em direção ao estacionamento, seguido por Vivian. Os dois estavam calados, mas Otacílio parecia não se sentir bem.





— Jonas, traga o carro. Eu não estou me sentindo bem.

— Senhor Otacílio, o que aconteceu? Vamos pro hospital!

— Só preciso tomar meu remédio...






Otacílio se desequilibrou, e Jonas o amparou.

— Dona Vivian, precisamos levar ele pro hospital! — Ele falou assustado e preocupado, mas Vivian não parecia se importar com a saúde do noivo.

— Não se preocupe. Ele teve uma queda de pressão por causa das fortes emoções que passou recentemente. Vamos pra casa, e no caminho eu ligo pro médico dele.

— Mas, dona Vivian, ele tá muito pálido!

— Senta ele naquele banco e vai logo buscar o carro, Jonas! Eu sei o que é melhor pra ele!





Horas depois.




— Então te vejo amanhã pra gente almoçar juntas?

— Claro, Luísa! A gente se vê amanhã!

— Mas se precisar conversar, me liga, tá?

— Tá bom, eu ligo, sim!





Amanda se despediu dos amigos com um abraço carinhoso.





Dentro de casa.




— Pedro, você sabia onde nosso pai tava? Desde quando?

— Desde o enterro da nossa mãe.

— Como assim?

— Ele estava lá.

Pedro viu Álvaro, seu pai, acompanhando de longe o enterro da mãe deles. No início, não teve certeza se era ele, mas, quando decidiu se aproximar, Álvaro fugiu.

— Meu Deus... Eu não acredito nisso! Por que você não me contou?

— Não ia adiantar nada. Você já estava sofrendo demais! Eu nem tinha certeza se era mesmo ele.

— Mesmo assim, eu tinha o direito de saber!

— Amanda, ele não queria se aproximar de nós! Tanto que fugiu quando tentei falar com ele.




— Se não queria, por que quer agora? E como você tem o contato dele? Como sabia quem ele era só de olhar? Você nem ficou surpreso quando viu ele todo engravatado daquele jeito!

— Talvez porque ele se arrependeu? — Sarah opinou.

— Se arrependeu e nunca procurou os filhos que abandonou quando mais precisou dele?! Eu nunca vou perdoar pelo que fez com a mamãe... Nunca! — Amanda estava furiosa e confusa.

Pedro respirou fundo antes de continuar:

— Dois anos depois da morte da mamãe, vi ele de novo. Dessa vez, em uma rede social, durante uma pesquisa de trabalho. "Otacílio Brandão". Era assim que ele se chamava e... é um dos empresários mais ricos de Windenburg.

— Mais rico? Por isso tava tão bem vestido... Mas como?

— Ele se casou com uma milionária idosa. Alguns anos depois, ela morreu e deixou tudo pra ele. Foi assim que se tornou rico.

— Então ele abandonou nossa mãe por dinheiro!...

— Se você não quiser, não precisamos conversar com ele. Não quero que sofra mais do que já tá sofrendo.

Sarah interveio novamente:

— Vou me meter de novo... Vocês precisam conversar com ele, nem que seja pra esclarecer essas dúvidas e resolver essa situação. Perdoar ou não será uma decisão de vocês.

Amanda olhou para Sarah, desconfiada.

— Você também sabia dele?

— Não, ela não sabia! — Pedro respondeu rapidamente. — Eu escondi isso da Sarah também.

Amanda suspirou, cansada.

— Já deu por hoje. Vou pro meu quarto trabalhar. Não precisam me chamar pra almoçar. Desço quando quiser comer alguma coisa.





Amanda subiu as escadas, mergulhada em pensamentos confusos. Sentia raiva e mágoa pelo abandono do pai, mas, ao mesmo tempo, queria perguntar por que ele fez o que fez.






Depois que ela saiu, Sarah cruzou os braços e encarou Pedro.

— Então você me escondeu isso?

— Me desculpe, Sarah...

— Só isso? Só um "me desculpe, Sarah"? Não vai me explicar por quê?





Pedro baixou os olhos.

— Eu queria não ter visto ele. Queria não saber. Fiquei com raiva ao descobrir que meu pai era rico e vivia como um rei enquanto nós sofríamos com dívidas e com a morte da mamãe. Você está brava comigo?

— Pedro, você sabe tudo sobre mim. Sobre meus pais, minha família louca... Te conto tudo, e você ouve com toda paciência do mundo, mesmo com tantos problemas na sua cabeça. Estou brava porque você não dividiu isso comigo. Somos marido e mulher. Não é só a cama que temos que dividir!





— Queria que ele nunca tivesse aparecido... Mas sabia que um dia isso poderia acontecer.

— Não guarde tanta mágoa. Essa conversa pode esclarecer muitas coisas pra vocês. Seja grato por esse reencontro!

Pedro riu sem humor.

— Grato? Esse homem nunca terá a minha gratidão.




Sarah acariciou seu rosto e depois o abraçou.

— Pedro, não fique assim, meu amor... Eu te amo e vou cuidar de você pelo resto da minha vida.

— Quem deve cuidar de você sou eu! Eu nunca vou abandonar você, Sarah. Nunca! Sempre serei o melhor marido e pai para você e para nossa filha. E também vou tentar me aproximar mais da Amanda e ser um bom irmão.

— Você já é o melhor. O homem mais lindo e mais bondoso que conheço. Eu te amo, Pedro. Mas, por favor, não esconda nada de mim, principalmente algo que te machuca assim.

— Não vou esconder! Me desculpa, amor?

— Promete?

— Prometo!

Sarah sorriu.

— Então eu te desculpo. Vamos subir. Quero descansar um pouco.




Pedro segurou sua mão e a puxou para perto.

— Vamos. E depois que a Sofia dormir, vou te fazer uma massagem.

Sarah ergueu uma sobrancelha, provocando-o:

— Você não estava triste e cansado?

Pedro sorriu e beijou sua testa.

— Sarah, você é o meu sol, ilumina qualquer escuridão. Eu te amo demais, mulher!

— Hmm... então eu vou aceitar essa massagem!



O dia passou bem rápido, apesar do clima tenso.

A noite chegou trazendo tranquilidade para alguns e mais sofrimento para outros.





Amanda passou a maior parte do dia trabalhando na sua loja virtual, tentando ocupar a mente com o trabalho. À noite, desceu para fazer uma refeição rápida. Pedro e Sarah estavam no quarto, cuidando de Sofia. Depois de comer, Amanda se dirigiu ao antigo quarto de Hugo.





Pedro já havia retirado todas as coisas dele, exceto a cama, pois Amanda pediu que a deixasse. Os lençóis ainda eram os mesmos que Hugo usava.

"Esse quarto tem o cheiro dele... Parece que tô ouvindo sua voz... Aquela voz que me tranquilizava... e aquela outra que me excitava. Aquele sorriso no canto da boca que me fazia feliz... Aquele olhar triste e, ao mesmo tempo, acolhedor e protetor..."

Amanda sentou na cama, sentindo um vazio enorme dentro de si, e chorou.

"Não tenho mais nada disso!... Ele nem me ligou pra saber como eu tô? Era tudo mentira?... Por que isso aconteceu de novo comigo?... Mas dessa vez tá doendo demais. É diferente do que senti com o Walter. Com ele, me senti traída. Mas com o Hugo... é como se nada fizesse mais sentido. E só se passaram dois dias... mas parecem dois anos!"




Ela chorou por um tempo, mas, logo depois, o cheiro dos lençóis impregnados com o perfume de Hugo a acalmou, e ela adormeceu.





Mansão Brandão – Windenburg

Após reencontrar seus filhos, Otacílio passou mal. Jonas insistiu para levá-lo ao hospital, mas Vivian não concordou. No carro, a caminho de casa, ela lhe deu os remédios, e ele se acalmou.

No caminho, conversaram sobre os filhos dele e sobre o passado. Vivian ouviu pacientemente, tentando entender a situação e encontrar uma solução para resolver o que agora seria um problema para ela.

Assim que chegaram à mansão, ela ligou para o médico de Otacílio, que foi até a residência para atendê-lo. Depois de medicado, ele dormiu tranquilamente.





Assim que o médico foi embora, Vi

vian pegou o celular e ligou para Murilo, pedindo que fosse encontrá-la. Ele foi imediatamente.



Assim que chegou, Vivian lhe contou tudo o que aconteceu.

— Mas, Vivian, essa notícia muda tudo! Não podemos continuar!

— Nós não só podemos como vamos continuar! Mas de um jeito diferente!

— O que você pretende fazer? Vai dividir a herança com os filhos? E se eles resolverem investigar a morte do pai?

Vivian o respondeu friamente.

— Eu não vou dividir nenhum centavo com aqueles mortos de fome. O dinheiro desse velho desgraçado é só meu!



Murilo a encarou com espanto.

— Só seu?

— Nosso! — corrigiu rapidamente. — Você sabe o que eu quis dizer! É nosso, não deles!

— Mas eles são filhos biológicos dele. No momento, têm mais direitos do que você.

— Você está do lado deles ou do meu? — Vivian estreitou os olhos.

— Do seu, mas... não sei se vale a pena continuar com esse plano. Antes, era mais seguro. Sem filhos e sem parentes, ninguém contestaria nada. Agora, teremos que dividir a herança e ainda podemos ser presos se um deles resolver investigar e...






PARA DE FALAR! — Vivian explodiu.

O tom de voz dela fez Murilo estremecer.

— Você não sabe quem eu sou! — continuou, com os olhos faiscando de raiva. — Eu nunca desisto do que quero. Não importa a dificuldade, sempre consigo o que quero!

Murilo respirou fundo, tentando se recompor.

— Tudo bem... Vamos nos acalmar? — Ele tentava manter a voz estável, mas, no fundo, estava apavorado com a verdadeira face de Vivian. Até então, a via como uma mulher frágil, oprimida pelos abusos de um milionário aproveitador. Mas agora...

— No que você está pensando? — perguntou.




— Otacílio vai fazer um testamento escrito à mão, deixando tudo para mim e renegando os filhos e netos! Vamos deixar tudo pronto e legalizado antes dele morrer. Falta só duas semanas para o casamento. Vai dar certo!

Murilo piscou, surpreso.

— Como você vai convencê-lo a fazer isso?

Vivian sorriu de canto, como se já tivesse tudo planejado.

— Conheço alguém que falsifica qualquer escrita ou assinatura com perfeição. Ela cobra caro, mas eu já tenho um dinheiro guardado. Vou ligar pra ela amanhã de manhã. Então, não se preocupe com nada. Apenas continue fazendo sua parte... eu cuido do resto!

— Mas se os filhos quiserem ir à justiça? — Vão perder tempo e não ganharão nada! E acho difícil eles irem, você não ouviu a parte que foram abandonados pelo pai? Eles não morrem de amores pelo velho.




Murilo desviou o olhar, pensativo.

"Se eu for preso, o que vai acontecer com minhas filhas? Sou eu que garanto a maior parte do sustento da minha família. Não sei se vale a pena esse risco. Mas... se der certo, vou ficar rico e posso garantir uma vida confortável para elas, mesmo que Regina peça o divórcio. Ela é a mãe das minhas filhas e merece ter uma boa vida..."

Seu devaneio foi interrompido pela voz de Vivian.

— Quero transar!




Ele piscou, confuso.

— O quê?

— Quero fazer sexo com você. Agora.

— Aqui?

— Sim! Aqui e agora! Você passou dias me pedindo isso. O que foi, não quer mais?

Murilo olhou ao redor, nervoso.

— Vivian, estamos em frente ao quarto do Otacílio!

Ela deu de ombros.

— Já transamos no quarto com ele dormindo na cama!

— Mas ele estava dopado!

— E agora também está. Eu dei o dobro de calmantes no suco que ele pediu.

Murilo ficou pálido.

— Mas ele já tinha tomado os remédios que o Dr. Robson receitou... Ele pode sofrer uma overdose! Você quer que ele morra antes do casamento?

Vivian revirou os olhos.

— O velho está bem. Quer conferir?

Ele ficou em silêncio, hesitante. Vivian, então perguntou, irritada:

— Você quer ou não quer transar comigo?

Murilo engoliu em seco.

— Quero, mas... não sei se consigo entrar no clima agora.

Vivian sorriu maliciosa.

— Eu sei como te deixar no clima...




Ela deslizou a mão pela própria perna, acariciando as partes íntimas lentamente. Sem hesitar, tirou a roupa de baixo, sentou-se no sofá e abriu as pernas para ele.





Foi o suficiente.

Não demorou nada para os dois ficarem à vontade.

Vivian se entregou ao prazer, e para sua surpresa, ela conseguiu relaxar.

"Eu não acredito que essa é a primeira vez que sinto um orgasmo com esse idiota sem precisar imaginar que ele é o Hugo... Devo estar bem carente mesmo!"

Mas, no fim, pouco importava.

Ela faria o que fosse necessário para conseguir o que queria. Sempre fez. Sempre faria.




Quarta-feira. Manhã ensolarada.




Amanda dormiu bem a noite toda, apesar das preocupações e tristezas que pesavam sobre ela.

Nos últimos dias, havia trazido quase todas as mercadorias da floricultura para casa. Algumas plantas agora enfeitavam o quintal, enquanto as mais delicadas estavam protegidas dentro da antiga garagem.





A loja estava sendo desocupada para ser colocada à venda. Pedro, Amanda e Sarah discutiram o assunto e chegaram a um acordo.





Para surpresa de Pedro e Sarah, Amanda aceitou a decisão sem resistência. Eles esperavam que ela se recusasse a vender a loja, mas, em vez disso, apenas abaixou a cabeça e concordou. No entanto, era visível que isso a entristecia profundamente.

"Eu queria tanto que aquela loja desse certo... Mas, infelizmente, ela morreu junto com a minha mãe. Não sei o que fazer agora. Tô com vontade de me mudar daqui, começar uma vida nova em outro lugar. Quem sabe assim essa tristeza vai embora... Preciso ir embora daqui!"




Mesmo desanimada, Amanda ainda tinha esperanças de que, de alguma forma, as coisas melhorassem.




Na tentativa de ocupar a mente, entrou na garagem para cuidar das plantas. Mas, assim que fechou a porta atrás de si, algo a fez parar.

Um cheiro familiar.

O coração dela acelerou.

"O cheiro do perfume dele?... Acho que tô ficando louca. Nem tem tanto tempo assim. Meu Deus, por que gosto tanto do Hugo? Será que vou enlouquecer de vez?"




Ela fechou os olhos, respirando fundo, e as lembranças vieram como um turbilhão.

"Eu sei por que gosto tanto dele... Ah, eu sei sim!"

Amanda reviveu cada momento ao lado de Hugo.

Os olhares cheios de carinho. Os beijos inesperados e intensos. O respeito com que ele a tratava. A forma como a ouvia atentamente, mesmo sem falar muito. O jeito protetor, o toque acolhedor.

"Eu te amo, Hugo..."

O pensamento veio como um sussurro no fundo da sua mente.

"Quando você vai voltar? Será que vai voltar mesmo? Será que tudo foi um sonho... e agora é o pesadelo?"





Continua...


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