O Poder Do Destino. Cap 26.
Hugo e Yan viajaram a noite toda e chegaram de manhã em Evergreen Harbor. Yan e Sâmia moravam há cinco meses nesse lugar, em uma casa afastada da cidade, onde tinham privacidade e segurança. Agora, Hugo passaria a morar por algum tempo com eles.
— Bem-vindo à nossa humilde casa! Sei que os seus padrões são mais altos, mas aqui estamos seguros.
— Não são mais tão altos! Estou optando por conforto e paz, espero encontrar as duas coisas nesse lugar, pelo menos até que eu decida o que fazer com a minha vida… Preciso organizar os meus pensamentos.
— Se precisar da minha ajuda, qualquer coisa, é só falar, chefe!
— Não sou mais o seu chefe!
— Mas…
— Somente, Hugo! Já falei para você, Yan!
Yan e Sâmia moravam juntos, eles tiveram um relacionamento amoroso no passado, mas devido a complicações por parte de Yan, o relacionamento se desfez e agora eram apenas bons amigos. Hugo manteve contato com os dois amigos durante o tempo que passou em Newcrest, mas optou pela descrição sobre o relacionamento dele com Amanda. Os dois ficaram sabendo naquele mesmo dia. Durante a viagem até a casa onde agora iria se esconder, Hugo contou um pouco mais sobre o amor que sentia por Amanda, coisa que não costumava fazer, falar sobre seus sentimentos, então Yan pode perceber o quanto ela era importante para o amigo.
Sâmia Castro. Vinte e cinco anos. Formada em TI.
Sâmia conheceu Hugo através de Yan, ele os apresentou e os dois trabalhavam para ele. Sâmia e Hugo se relacionaram sexualmente algumas vezes no passado, quando eles se conheceram, ela e Yan já estavam separados.
— Que bom te ver, Hugo! Preparei um quarto pra você, espero que goste e fique aqui por muito tempo. — Sâmia não escondia a alegria em vê-lo e estava feliz por ele estar ali, mesmo sabendo as condições que o levaram a ir para lá.
— Agradeço, Sâmia! Eu diria que é bom ver você também, mas não pretendia vir agora.
— Entendo. Mas vou ser egoísta um pouquinho, estou feliz demais em ver o nosso grupo se reunir de novo, ainda que seja só nós três!
— Pois é, né? O Hugo tá cansado, a viagem foi longa e ele precisa descansar! Conversamos depois? — “Não consegue disfarçar, já tá se jogando pra cima dele como sempre fez!… Eu queria saber o segredo desse cara, ele nem é de falar muito e elas se jogam, nem precisa dar em cima de ninguém, e depois que ele fica, aí é que elas querem mesmo! Agora eu tenho que ralar se quiser sair com alguém!… O que será que ele tem, pau de açúcar?”
— É claro! Me desculpe por falar demais, vocês dirigiram a noite toda até chegar aqui, deve estar cansado mesmo.
— Eu dirigi! — Yan estava com um pouco de ciúme, afinal ainda gostava de Sâmia, mesmo não tendo mais um relacionamento amoroso. Ele não gostava de saber que Sâmia e Hugo ficavam juntos, mas nunca se desentendeu com ele.
— Você pode me mostrar o quarto, agora? — Hugo pede para ela.
— Claro que posso! Vamos lá?
— Vou para o meu quarto! — Yan e Sâmia ficaram com os quartos de cima.
— Yan, sei que está cansado, mas pode resolver aquele problema?
— Considere resolvido!
— Que problema? Nem chegaram e já estão falando de trabalho? Posso trabalhar enquanto vocês descansam!
— Não se preocupe. Sâmia! O Yan sabe do que se trata e não vai dar trabalho algum.
Hugo estava pedindo para Yan terminar as negociações com Emílio Bracel que iria garantir a segurança da família Bastos dali por diante, era um favor devido, mas Hugo pagaria por uma quantia para manter essa segurança. As promessas feitas a Walter iriam se cumprir.
— Aqui está! Comprei o básico, você não me deu tempo de terminar, mas acredito que tem o que precisa. Espero que goste!
— Está ótimo! Obrigado!
— Fiquei surpresa quando disse querer o quarto térreo mesmo não sendo suíte. Você tá mesmo menos exigente!
— Conviver com pessoas de classes diferentes me fez lembrar de onde eu vim, quem eu era… e gostei do que aprendi.
— Você se refere a…
— Sim!… Aquela família me mudou, especialmente aquela mulher, Amanda.
— Você tá mesmo apaixonado por ela?
— Não!… Paixão é passageira, diferente de amor. Amo a Amanda, e não sei como, mas vou me casar com ela… algum dia!
— Como você pode ver, estamos seguros aqui! A irmandade nos protege bem, fazendo jus ao que pagamos a eles! Conseguimos trabalhar e tudo graças a você!
— Não me agradeça por manter vocês nesse estilo de vida, lamento por isso!
— Lamenta? Como assim?… Você lamenta porque metade do seu grupo foi perdido?
— Não só por isso, lamento por apresentar esse mundo a vocês, deveria parar enquanto pode! Eu mesmo pararia se pudesse, mas tenho trabalhos pendentes, não posso sair até terminar! E quanto aos membros do grupo, estou pagando bons advogados para todos, e não ficarão presos por muito tempo.
— Eu sei, você nunca abandona ninguém, por isso admiro você. Sou sua fã, sabia?… Hugo, sei que você não gosta de falar sobre seus sentimentos, mas você voltou tão triste, não gosto de te ver assim e quero ajudar, mas não sei como?
— Você não pode, mas agradeço mesmo assim!
— Você está triste por causa dela. Amar deve ser doloroso, não quero amar ninguém… não gosto de sofrer!
— Amar é bom e traz felicidade, o sofrimento é você não ter essa pessoa por perto, é não ter a certeza de que ela vai estar ao seu lado.
— Como você soube que amava ela? Quando foi que aconteceu?
— Não sei o momento exato, mas acho que foi quando senti que o sexo era o menos importante. Parece que já amei essa mulher desde sempre. Me sinto em paz quando estou com ela, e quero fazer o que é certo para merecê-la.
— Que sortuda!… Você é uma boa pessoa, então ela deve ser também e vão ficar juntos novamente!
— Espero que sim!… Mas quanto a você e o Yan?
— Estamos bem do jeito que estamos. Obrigada!
— Você sabe que ele ainda tem esperanças!
— Não tem mais volta e estamos resolvidos! Ele tem a vida dele e eu a minha! Ponto final!
— Que bom, então!
— E quanto a nós, a nossa amizade pode continuar a mesma, se você quiser e precisar conversar…
— Hm… Iremos reformular a nossa amizade. Mesmo estando separados fisicamente, eu e Amanda temos um relacionamento monogâmico. Não ficarei com outra mulher enquanto estiver com ela e pretendo permanecer assim.
— Tudo bem… Seremos amigos tradicionais, então. — “Não acredito nisso, ele se lamentando, sofrendo de amor, jurando fidelidade a outra mulher, e eu aqui sonhando e lembrando o que essa boca já fez comigo!?… Que tipo de pessoa eu sou?… Nossa, não tem como se concentrar na conversa com essa boca abrindo e fechando! Torço para eles ficarem bem ou se darem mal?”
Em Newcrest.
Vinte e uma horas. Amanda, Luísa e Tae, haviam chegado recentemente, conseguiram organizar a loja embalando algumas coisas para trazerem para casa. Amanda iria fechar a loja, como havia combinado com Pedro e Sarah. Os três pediram comida e jantaram na loja mesmo. Sarah estava preparando a filha para irem dormir.
Pedro também trabalhou bastante durante o dia, ele entregou para a locadora o carro que Hugo usava e esvaziou o quarto onde Hugo dormia, vendeu os aparelhos de academia para que Amanda não os visse e ficasse mais triste, mas ainda restaram algumas coisas que iria desmontar no dia seguinte.
Minutos antes de entrarem na casa. Pedro, Luísa e Tae levaram as últimas caixas para a garagem coberta, enquanto Amanda limpava a carroceria do carro. Pedro convidou ambos para conversar no quarto que era de Hugo.
— Chamei os dois aqui porque sei que ela não vai descer, deve ser doloroso pra ela ter que olhar esse quarto assim. Vazio!
— É sim! Ela tá sofrendo muito, tá controlada, mas conheço a Amanda, essa noite vai ser bem difícil pra ela. Queria dormir aqui, mas ela não deixou!
— Acho que ela precisa ficar sozinha. — Tae, sabia que Amanda precisava estar só para pensar e chorar até aliviar o que estava sentindo.
— Sei o quanto minha irmã está e ainda vai sofrer, eles estavam bem e eu nunca vi a Amanda tão feliz como quando estava com ele.
— Pois é, quem diria que ele é um criminoso?! Nem acredito ainda, ele parecia ser tão certinho, sempre tão educado e gentil com todo mundo! Como ele escondeu bem, hein? Nem você que trabalhava pra ele sabia disso?! — Luísa estava muito chateada com aquela situação de sua amiga.
— Eu não sabia. Se soubesse, nada disso teria acontecido, ele pode ter cometido um ou mais crimes, não me deu detalhes do que fez, mas nunca faltou o respeito com nenhum de nós, me apoiou, me deu emprego honesto e mesmo depois que saiu, deixou todas as contas pagas! Não posso ter raiva de uma pessoa que me ajuda!
— O cara é gente boa, pelo menos com a gente ele foi! Eu não tenho nada contra ele! — Tae deu sua opinião sobre Hugo.
— Gente boa, né?… Ajudou porque era fácil ajudar, ele tem condições, mas a gente nem sabe o que realmente ele fazia, que tipo de crime cometeu! E deixou a minha amiga sofrendo desse jeito! Pra mim, ele deixou de ser gente boa! Mas pra quê você chamou a gente aqui, mesmo, Pedro? Se foi pra falar bem do Hugo, eu não quero ouvir!
— Calma, amor! Não precisa ficar assim! — Tae, tenta acalmar a namorada furiosa.
— Entendo a sua raiva, Luísa, você e a minha irmã são boas amigas e é disso que ela vai precisar, do seu apoio. Quero pedir pra você ficar por perto enquanto ela passa por isso, só por alguns dias, por favor? Tenho que pensar o que vou fazer em relação aos homens que armaram essa armadilha. Se não fosse o Hugo, eu estaria no hospital agora, ou pior!
— Você tá falando do canalha do Walter, né? É só ir até a delegacia e contar o que aconteceu! Você já devia ter feito isso!
— Se fizer isso, vou complicar o Hugo e a mim mesmo! Não posso ir! Mesmo que você não entenda, por favor, fique com a Amanda esses dias, sei que você saiu do emprego e estão considerando vir morar em Newcrest.
— Estamos mesmo! O Tae já vai começar a trabalhar com o tio dele no restaurante, ele quer que o Tae gerencie, e eu vou ficar por perto, pelo menos por uns dias. Pode contar comigo, não vou deixar a Amanda passar por isso sozinha.
— Obrigado, Luísa! E parabéns, Tae!
— Valeu, Pedro! — Tae agradece.
Luísa se ofereceu para dormir com Amanda naquela noite, mas Amanda recusou.
— Tem certeza que não quer que eu fique? O Tae concordou, ele vai dormir na casa do tio dele e eu fico com você!
— Tenho certeza! Muito obrigada aos dois, mas não sou criança, posso lidar com os meus problemas! Podem ir! Amanhã a gente se vê, tá bom?
— Tá bom! Amanhã cedo eu tô aqui, vou até ativar o despertador no celular!
— Eu não vou vir cedo, tenho que resolver umas coisas com o meu tio, mas podemos jantar juntos e, se precisar de ajuda de novo, dou um jeito rapidinho e vou!
— Não se preocupe, Tae! Já trouxemos quase tudo pra cá, não vai precisar ir na loja. Muito obrigada, eu tô feliz que a Luísa tenha um namorado tão legal, dessa vez ela acertou!
— Não precisa agradecer, você se tornou a minha amiga também. Gosto de você e quero que fique bem!
— Vou ficar! Pode não ser tão rápido, mas vou ficar! — Amanda dá um abraço em Tae, Luísa fica triste ao ver como Amanda se esforçava para não preocupá-los.
Em seguida, as duas se despedem com um abraço apertado.
O casal se despede e vai embora. Amanda sobe a escada e vai para o seu quarto.
E quando finalmente fica sozinha.
Amanda poderia chorar sem que a família e amigos vissem, ela sentia a falta do seu amado, o que a deixava triste não era apenas a ausência, mas a incerteza de vê-lo novamente e, o fato de saber que Hugo não era exatamente quem ela pensava, quais crimes cometeu. — “Onde será que ele tá? Será que sentia mesmo o que me dizia, mentiu desde o começo, não dizendo a verdade… se me dissesse, eu não teria amado ele!… Ou talvez até teria mesmo assim!… Que pessoa sou, mesmo sabendo que ele fez coisas erradas, ainda quero que venha, eu quero o meu amor de novo! Preciso dele comigo!” — Amanda cobre o rosto e chora em silêncio.
Pedro amava a sua esposa, era um bom marido e se esforçaria para ser um bom pai.
— Pode colocar ela no berço, por favor? — Sarah entrega a criança para o marido, ela havia amamentado Sofia e a vestiu com roupas para dormir.
— Claro, meu amor! Você deve tá cansada, não tem dormido bem ultimamente. Vou cuidar dela essa noite pra você dormir!
— Nossa filha mama muito durante a noite, não consigo mesmo dormir! Mas hoje não vou conseguir de qualquer jeito!
— Tá preocupada com a Amanda?
— Sim, muito preocupada… ver ela daquele jeito parte meu coração. Gosto dela como se fosse minha irmã, não queria que sofresse.
— Nem eu, mas ela vai ficar bem. Vamos cuidar dela, juntos!
— Pedro, você acha que o Hugo vai voltar?
— Eu não sei!… Nem sei se quero que volte, acho melhor, não!
— Mas a Amanda ama ele!
— Você ainda quer que eles fiquem juntos?
— Não tenho certeza, mas sei que ele realmente ama ela.
— Só amar não basta, o Hugo não pode fazer a minha irmã feliz, não pode dar uma vida digna pra ela.
— Você tem razão!… Lamento muito por isso!
Pensava o que poderia ser feito para que nada tivesse acontecido, às vezes ficava com raiva do seu irmão por trazê-lo para a casa deles, mas logo a raiva passava, pois o amor que sentia por Hugo era imenso. — “Por que ele não responde às mensagens? Não visualizou nenhuma, até parece que mudou de número!… Será que eu vou ter mesmo que esquecer o Hugo?… Ele não me ama coisa nenhuma!… Se não me responder em cinco dias, já desisto dele! Vou superar isso, eu sei que vou!” — Amanda desliga as luzes e se deita na cama. Mesmo sofrendo, estava disposta a desistir de Hugo, sentia-se abandonada por ele.
— O que você tá tentando fazer, Sâmia?
— Tentando, não! O que eu já fiz! Café da manhã!
— A gente vai ter que comer?
— Você é tão engraçadinho, né?
— É que você não tem habilidades culinárias! Nem quero me lembrar do gosto da última refeição feita por você!
— Sei que não sou muito boa, mas andei praticando. Prova e depois você me condena!
— Senti um cheiro bom! — Hugo estava no banheiro enquanto Sâmia preparava o café da manhã.
— Bom dia, Hugo! Não vi quando passou.
— Você estava de costas. Fui ao banheiro!… Você cozinhou?
— Sim. Preparei um café da manhã saudável, prometo que é comestível!
— O cheiro está ótimo! Parece estar gostoso!
— Tá gostoso, sim!
— Ótimo! A dívida está paga! Obrigado, Yan.
— Por nada, chefe!
Um tempo depois. Hugo tenta se concentrar e focar no que terá que fazer para sair do país e levar Amanda, mas não tinha certeza de que ela estaria segura com ele e isso lhe trazia angústia e sofrimento.
Ele resolve sair um pouco para respirar ar fresco, havia passado o dia anterior inteiro trancado no quarto sem sair nem para comer. Evergreen Harbor é uma cidade industrial que antes era muito poluída, mas que na atualidade estava ecologicamente correta devido aos protestos e ações dos moradores daquela cidade. A maioria das indústrias fechou. Agora, Evergreen estava limpa e verde.
Hugo estava decidido em ir ver Amanda, agora que Emílio já havia cuidado dos problemas daquele infeliz dia de domingo.
Mas será que ela aceitaria viver com aquele Hugo? — “Aposto que se vier vai ocupar todos esses canteiros com suas plantas, adora fazer isso!… O que será que está fazendo agora? O que está pensando a meu respeito?… Será que continuará amando esse Hugo, o criminoso?”
— Mas o que o Hugo tá fazendo ali parado?… Tá triste pela tal da Amanda?… Ele mudou mesmo!
Hugo sofria com os conflitos na sua mente, ao mesmo tempo que decidiu trazer Amanda para o seu lado, não tinha certeza de que ela o amaria após saber a verdade sobre ele.
— Essa Amanda deve ser foda, pegou ele de jeito! Eu não acredito que vivi pra ver isso: o Hugo apaixonado e sofrendo por amor, logo ele que nunca teve uma namorada?… A Vivian não conta como relacionamento sério, aquela vadia louca!
Naquele momento, o medo de que ela deixasse de amá-lo era maior do que a vontade de trazê-la para perto dele. — “Preciso falar com ela, depois vejo se vou ou não.”
Continua…
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