O Poder Do Destino. Capítulo 21.

 





Ainda na terça-feira. 

— Acho que ele não vem fechar a loja com a gente. — Amanda olhava pela vitrine, o olhar inquieto. Esperava por Hugo.

— Talvez venha sim, só deve estar um pouco ocupado. Você ligou pra ele?

— Eu não!… E nem vou ligar. Ele sabe o horário que fechamos. Se ainda não apareceu, é porque algo mais urgente surgiu... talvez alguma cliente especial.

— Amanda?… Para com isso. Liga pra ele!

— Já disse que não!






As palavras cortavam o ar como tesouras entre as flores. Foi então que a porta da floricultura se abriu com o tilintar do sino.





— Oi... Me desculpem pelo atraso. Demorei mais do que o previsto. — Hugo surgiu no batente, um pouco ofegante, mas sereno.

— Não precisa se desculpar. Deve ter estado bem ocupado com seu trabalho, né? — Amanda respondeu com frieza. Seu tom era doce como espinho.

Hugo percebeu o veneno escondido nas pétalas da fala dela.

— Chegou na hora certa pra ajudar a gente a fechar. Faltam só trinta minutos! — Sarah tentou soprar leveza no clima denso.






— Nem precisava vir. A gente daria conta. Se veio correndo, podia ter ficado com suas clientes. — Amanda rebateu, como se cada sílaba fosse um desafio.

— Amanda tá de TPM, não liga pra ela! Foi bom você ter vindo, Hugo. — Sarah sorriu com doçura cúmplice.

Hugo observou Amanda em silêncio por um instante. Depois, disse, com aquele tom calmo e firme que fazia o mundo parar:

— Está aborrecida.

— Não!

— Tá sim! — Sarah confirmou.

— Vamos conversar. — Ele não pediu. Convidou, com o olhar. Amanda não resistiu.





Foram até o canto da loja, perto do caixa.

— Por que está agindo assim? — ele começou. Os olhos fixos nos dela. Era impossível fugir.

— Assim como?

— Como se eu tivesse feito algo errado.

— Eu não disse que você fez nada!

— Mas agiu como se dissesse. Amanda... você não confia em mim?

— O quê? Como assim?

— Você está insinuando que estive com alguma cliente... por diversão.

— Eu...

— Se queremos construir algo juntos, precisamos de confiança mútua. Eu não demorei porque quis. Surgiu um problema que exigiu mais tempo do que o esperado. Não estava com outra pessoa. E nunca vou trair você. Entendeu?







Amanda baixou os olhos, o coração se apertando.

— Você disse que voltaria logo, e... — a voz falhou. Ela se calou, engolindo a mágoa.

— Situações assim vão acontecer. E eu não quero ver esse olhar de desconfiança de novo. Eu amo você. Amo de verdade. E não posso carregar esse sentimento se não puder confiar que você confia em mim.

— Me desculpa… — Amanda murmurou. — Mas é difícil pra mim. Toda mulher olha pra você daquele jeito.

— Entre todas as mulheres, eu só preciso de uma. Você.






Ela o abraçou, como quem se agarra à última esperança. E ele retribuiu, como quem reencontra o lar




— Sou uma idiota, né?

— Não. Você é a mulher que eu amo. E sempre vou amar.

— Desculpa, tá? Nunca mais vou duvidar de você.

— Tudo bem, meu amor.

— Eu vou tentar controlar o ciúme, de verdade... mas não consigo parar de sentir! Olha pra você... e olha pra mim...

— Eu olhando. E tudo que vejo é uma mulher maravilhosa. Boa demais pra mim. Eu não mereço você... mas eu te amo.





— Eu é que te amo demais! Muito mais!...

— Não quero te perder, Amanda...

— Eu não vou pra lugar nenhum sem você.

— Minha princesa... Você se tornou o meu mundo.

— Hugo... — Ela se deixou levar pelo momento, e todos os fantasmas sumiram. O beijo deles foi um pacto silencioso.






De longe, Sarah os observava com ternura.

“Tão lindo o amor desses dois... não entendo como demoraram tanto pra se encontrar. Hugo e Amanda ainda vão se casar, eu sei que vão.” — pensou, com um sorriso bobo.

— Nossa! Eles não desgrudam mais? Que pouca vergonha, dentro da loja, com cliente olhando! — reclamou uma senhora, cliente assídua.

— Ahhh, mãe, para de reclamar! Eu é que queria estar no lugar dela! Aquele homem é um pedaço de mau caminho! — respondeu Jéssica, a filha de cabelo rosa.

— Você não tem vergonha, não? Acabou de se divorciar! Sossega esse fogo, Jéssica!

— Ai, ai... Quero arrumar um assim agora! — Jéssica brincou, revirando os olhos, com um sorrisinho provocador.





Dez dias depois...

Hugo e Amanda estavam cada vez mais próximos, inseparáveis. Para ele, já não havia outro motivo para continuar naquela cidade, exceto ela. O dinheiro que Vivian devia fora pago, e seus planos iniciais apontavam para um novo país, uma nova vida.





Mas ele cortou o contato com Vivian. Avisou que não o procurasse mais.

Agora, tudo o que queria era convencê-la a partir com ele.

Amanda era a primeira mulher que ele amou de verdade. E embora ainda não tivesse contado toda a verdade, já sabia: não poderia deixá-la para trás.

Disse apenas que faria uma breve viagem de negócios.

Mas por dentro... o dilema crescia como tempestade no horizonte.





A sexta-feira caiu com a alma lavada — o céu chorava uma chuva fina e constante. Hugo e Amanda conversavam na garagem coberta, sob o som das gotas caindo nas telhas.

— Você precisa mesmo viajar?

— Preciso. E… queria que você fosse comigo.

— Mas e a floricultura? Não posso simplesmente fechar a loja…

— Só por uns dias. Depois você reabriria, com tudo mais florido do que antes.

— Hugo… eu posso perder os meus clientes, sabia? Eles vão se afastar se a loja ficar parada por muito tempo.

Hugo suspirou fundo, com o peito apertado pela verdade que ainda guardava. Ele a olhou com aquele carinho silencioso que só os apaixonados entendem.

— Essa viagem… seria uma oportunidade de você me conhecer melhor. Ver quem eu sou de verdade. E o que minha vida já foi.

— Eu não posso ir… mas são só alguns dias, certo? Depois você volta pra mim?

— Sim… só alguns dias. — Mentiu por amor, esperando encontrar coragem até o momento decisivo. — Dorme comigo hoje?

— A gente já dormiu junto na semana passada…

— Já faz cinco dias! Estou com saudade do seu cheiro, da sua pele, da sua boca… Amo você.

— Eu também te amo. E não queria ficar nem um dia longe de você.

— Então viaja comigo?

— Não posso, amor… Você precisa mesmo ir?






— Preciso. Mas... vamos deixar isso pra depois. Agora, quero que desça comigo pro meu quarto. Preciso fazer amor com você… não consigo mais esperar.

— A gente pode sair amanhã, e…

Ele passou o braço em volta do pescoço dela, encostando o corpo no dela, com desejo à flor da pele. Amanda sentiu a excitação subir como fogo quando ele pressionou seu membro contra seu corpo.

— Não. Tem que ser hoje… agora. Tô cheio de vontade de você. Não me faz te tomar aqui mesmo…

— Você faria isso aqui… na garagem?

— Faria. Tem dúvida?

— Nenhuma… Vamos logo pro seu quarto.







Amanda riu, nervosa e excitada, enquanto o seguia até o porão. O quarto escondido era o refúgio dos dois — um segredo cúmplice sob os olhos da chuva.

— Pronto. Conseguiu me trazer de novo pra cá!

— E você não gosta?

— Adoro! Mas morro de vergonha do Pedro.

— Ele não sabe que você está aqui. E com essa chuva, já devem estar dormindo.

— Talvez… mas parece que ele sabe.

— É só impressão. Mas entendo. A gente precisa de mais privacidade.







— Nossa!…
Amanda o olhou, intensa e encantada. O azul dos olhos dele parecia mais profundo naquela luz fraca.






— Que foi? — Hugo perguntou, envergonhado com o olhar dela.

— Você é tão lindo… Ainda não acredito que se apaixonou mesmo por mim. É tão bom sentir esse amor, de um homem maravilhoso como você. Não é só a beleza física — é o que tem por dentro… Você é luz na minha vida, Hugo. Obrigada por existir nesse meu mundo. Você deixa tudo mais colorido.






Ele não soube o que responder. Amanda o desarmava — ela tocava partes dele que ele nem sabia que existiam. Com ela, Hugo não precisava fingir dureza. Ele podia apenas… amar.






Fizeram amor naquela noite e dormiram abraçados, como se o mundo todo coubesse entre lençóis.




Passaram-se mais dez dias.




O namoro de Hugo e Amanda seguia firme. Eles estavam mais à vontade com o relacionamento, e Amanda já não escondia do irmão que dormia com o namorado. Pedro e Sarah haviam se acostumado com as carícias trocadas nos cantos da casa.

— Hugo, vamos na casa da Luísa no próximo fim de semana. Já combinei com ela.

— Vamos, amor.

Mesmo à distância, Amanda e Luísa mantinham contato por telefone. Walter, o ex-namorado, parecia ter desistido de reconquistá-la — talvez por saber que ela havia entregado o coração a outro.







Hugo, por sua vez, aproveitava a calmaria da cidade interiorana, respirando o anonimato como se fosse liberdade.






Luísa e Taehyun também mantinham um relacionamento sério desde o dia da festa. Luísa morava em Oasis Springs.




Chegado o fim de semana, Hugo e Amanda foram visitar Luísa.






Luísa! Tae! Que saudade! — Amanda desceu do carro correndo e foi abraçar a amiga. — O Hugo quase atropelou as plantinhas!

— Em minha defesa, eu não posso deixar o carro no meio da calçada! — Hugo rebateu, meio risonho.





Luísa estava com um novo visual — havia mudado o corte e a cor do cabelo.

— Você ficou linda com esse cabelo. Adorei!

— Obrigada! Tive que mudar, você sabe como enjoo fácil.

— Sei mesmo! Achei até que ia voltar com o penteado da Beyoncé.

— Não fiz de novo porque as pessoas ficam me confundindo com ela... coisa chata, sabe?

— Hahaha! Sei!






— E vocês ainda tão namorando? — Luísa perguntou apenas para provocar, sabendo muito bem que eles estavam juntos.

— Sim! Você e o Tae também, né? Fico feliz por vocês dois!

— Parabéns, Tae. Você sobreviveu àquela noite e foi aprovado. — Hugo brincou, lançando um olhar cúmplice ao casal.

— Ela não resistiu ao meu charme, me pediu em namoro naquela mesma noite! — Tae entrou na brincadeira.

— Mentiraaaa! Você que nunca mais saiu daqui, tá quase se mudando!

— Não é má ideia... vou pedir você em casamento hoje mesmo!

Todos riram juntos, com aquela alegria gostosa que só os reencontros trazem.







Pouco depois, Tae chamou Hugo para assar uma carne na área externa. Amanda e Luísa foram conversar na sala de estar. Luísa mostrava orgulhosa a nova TV, já que a anterior havia sido destruída por um vândalo que invadiu sua casa. Ele não só quebrou o aparelho, como pichou a parede. Luísa teve de pintar a sala inteira.




— Você ainda não contou nada pra ninguém?

— Não...

— Amanda, você sabe que precisa falar sobre isso. E se ele quiser te incomodar de novo ou fizer coisa pior?

— Eu nunca mais vi ele, e nem temos certeza de que foi mesmo ele!

— Você sabe que foi, Amanda! E se acha que não foi, por que me ajudou a comprar outra TV?

— Luísa! Você é minha amiga. Eu quis ajudar. A floricultura tá vendendo bem, pelo menos melhor do que quando era da minha mãe. Pude ajudar você, e ajudei!

— Eu agradeço, mas você tem que contar pra alguém… tenho medo que ele apareça quando você estiver sozinha.

— Ele não vai chegar nem perto de mim. Fica tranquila, tá? Tô bem!







Uma hora depois, a comida estava pronta. Todos comiam e bebiam entre risos. Tae assara bifes com batatas. Luísa preparara saladas verdes e um molho especial para acompanhar a carne.





— Sabe, Amanda… eu e a Luísa estamos considerando morar juntos. Dividir o aluguel.

— É sério? Vocês dois vão mesmo morar juntos?

— Tae! — Luísa exclamou, meio sem jeito. — Não era pra contar agora!

— Ah, não fica com vergonha, minha deusa de ébano! A gente tá curtindo muito o nosso namoro. Eu venho dormir aqui todos os dias. Só queria contar pra Amanda, pra ver se você me deixa vir de vez!

— Eu… nossa… tô muito feliz por vocês. De coração!

— Que bom. Agora posso me mudar, amor? — Tae sorriu pra Luísa, enquanto Hugo apenas observava em silêncio.






Dois meses se passaram desde o início do romance entre Hugo e Amanda.






Sarah já estava com sete meses de gravidez. Luísa e Tae moravam juntos. Pedro aceitava de bom grado o namoro da irmã com seu amigo e patrão. A empresa deles crescia, mas Hugo começava a se incomodar com o destaque que ganhava. A viagem havia sido adiada, e ele só queria continuar ao lado da mulher que amava.

O casamento de Vivian se aproximava. Otacílio, após procurar outro hospital e novos médicos, melhorou. Queria estar presente para sua noiva naquele grande dia.







Hugo sentia-se livre para viver seu amor. Estava mais despreocupado e levava Amanda para passear e fazer compras com frequência. O medo de ser reconhecido parecia ter evaporado.






— Você não precisa me carregar no colo só por causa de umas bolhas no meu pé! Posso tirar os sapatos…

— Não. Você não vai andar descalça por essas ruas contaminadas.

— Mas eu consigo andar com o sapato! Pode me colocar no chão.

— Você vai nos meus braços até o carro. Não insista em querer sofrer machucando os seus pés!

— Meu amor, meu príncipe… eu já disse que te amo hoje?

— Hmmm… não consigo lembrar. Acho que não disse!

— Eu acho que disse sim, mas vou repetir quantas vezes você quiser ouvir: eu te amo, Hugo.

Feita a declaração, Amanda o beijou com ternura e paixão.






Em casa, Pedro e Sarah assistiam televisão no quarto. Sarah estava levemente indisposta naquele dia.






— Como você se sente, meu amor? Ainda está com cólicas? — Pedro se aproximou com o cenho franzido, deitado ao lado da esposa. Ele havia tirado o dia de folga só para ficar ao lado dela.

— As cólicas já passaram… só tô cansada mesmo. Não se preocupe, Pedro. — Sarah tentou sorrir, mas o olhar dela estava apagado, como uma lâmpada oscilando em fim de vida.

— Por que não quis ir ao médico, hein? Eu acho que a gente devia ir. Você tem estado tão cansada…

— Fazer o quê lá? Eles já me passaram os remédios pras dores. Já passou, juro. Tô bem!

— Tem certeza? — Pedro não se convencia. O instinto dele, aquele radar silencioso dos apaixonados, sussurrava que algo não ia bem.






Sarah, para tranquilizá-lo, o puxou para um abraço terno, e ali, no silêncio das batidas de seus corações, tentaram esquecer a sombra da dúvida. Ficaram apenas namorando, deixando o tempo passar devagar.





Enquanto isso, Otacílio havia feito novos exames. O novo médico considerou excessiva a medicação que ele tomava, mas não suspeitou de envenenamento. Os remédios eram comuns para a condição cardíaca. O que ele não sabia era que Murilo — médico, cúmplice e amante de Vivian — trocava os comprimidos por versões mais fortes. Agora, fora de alcance de Murilo, a saúde de Otacílio melhorava.

— Gostou da lingerie que comprei pra você, amor?
— Adorei, meu bem!
— Que bom. Vou comprar mais algumas. Quero compensar o tempo que você não pôde me ter. Agora tô melhorando muito. Vamos fazer amor sempre que você quiser. Prometo!
— Isso é maravilhoso. Senti saudades de você. Era muito triste te ver doente, meu amorzinho.







— Agora você vai ter seu noivo todos os dias! E quando nos casarmos, será ainda melhor! — disse ele, acariciando Vivian com desejo.— Preciso só de alguns minutos para ficar pronto, aí vamos para a cama.

— Claro, meu amor. Leve o tempo que precisar! — respondeu ela, sorrindo forçadamente.

"Velho desgraçado, nojento! Preciso me livrar desse maldito logo. Não suporto mais ele me tocar!" — pensava Vivian, quase desesperada.







Otacílio demorou para se preparar. Fizeram amor com posições que poupassem seu esforço. Vivian fingiu prazer o tempo todo. Depois, foi direto tomar banho e escovar os dentes, chorando de raiva.






Mais tarde, Vivian e Murilo se encontraram em um local afastado em Windenburg.





Ela o pressionava por uma solução para o que estava acontecendo com Otacílio.

— Ele não confia mais em mim, e a culpa é do seu ex-namorado! Depois daquele dia, decidiu fazer novos exames em outro hospital.
— Eu sei que foi culpa dele, mas não aguento mais aquele velho. Ele tem que voltar a dormir! Resolva isso, Murilo! Te paguei muito bem.
— Vivian… como posso, se ele trocou de médico?
— O problema é seu! Quero uma solução!
— Podemos pensar em algo depois do casamento…





— Se soubesse o que é transar com aquele velho desgraçado, não diria isso! Não me peça calma!
— Me desculpe, meu amor! Sei que não é fácil pra você.
— Não me toca!
— Vivian, calma… por favor.
— Enquanto ele estiver me tocando, você não encosta em mim!




Ela chorava. Murilo se sentia culpado.

— Vamos pensar com calma, meu amor?
— Meu erro foi me apaixonar por você… É horrível transar com um homem e amar outro. Penso em você o tempo todo. Sinto nojo dele quando lembro de como me sinto com você!
— Amor… me perdoa?
— Não consigo mais… Você não pode me tocar. Me sinto suja. Amo você, Murilo! Só quero viver em paz com o homem que amo.

— Eu também te amo meu amor!… Pensarei em como resolver essa situação hoje mesmo. Ele não vai mais tocar em você.






— Então resolve logo, por favor! Nem mil banhos me faz sentir limpa depois de transar com ele, é tão diferente de você… Porque me apaixonei por você, Murilo? Não era pra ter acontecido, agora não quero mais ninguém, além de você. — Vivian soluçava enquanto chorava. — Fique calma, em breve ficaremos juntos de novo. É uma promessa e eu cumprirei!… Eu também só penso e só quero você, Vivian. Pensar nele obrigando você a fazer o que não quer… Tenho vontade de matá-lo pessoalmente! — Eu tenho que ir agora, ele tá pegando no meu pé o tempo todo. Depois a gente se fala.






Vivian se afastou. Murilo a observava, tomado pela revolta.

"Tenho que dar um jeito de trocar os remédios dele, mas com mais cautela… talvez uma dosagem intermediária. Assim ele piora devagar, sem desconfiar. Aquela velha carcaça não vai mais tocar no que é meu. Vivian é minha. Ela está sofrendo por me amar."

Vivian havia conseguido o que queria. Sabia manipular quem se aproximava demais.

"Idiota! Chega a ser ridículo a burrice dele. Imagina que eu me apaixonei por esse trouxa! O único homem que eu amo é o Hugo… Por onde será que ele anda? Será que foi mesmo embora sem se despedir de mim?"







Após conversar com Murilo, Vivian almoçou com Otacílio em casa. Manteve o sorriso, o charme e a máscara — tudo que ele esperava. Assim que ele saiu, ela trocou de roupa e também deixou a residência.






Foi até uma das propriedades de Otacílio em Windenburg: uma biblioteca pública construída para a comunidade local. Lá funcionava também o discreto escritório de contabilidade das Empresas Brandão, onde Rayca trabalhava.








Imagem gerada por IA.

"Espero que ela tenha boas notícias pra mim... pelo menos isso compensa um pouco o nojo que sinto cada vez que aquele velho me toca. E ainda faltam dois meses pro casamento... dois eternos meses!"






Vivian havia pedido que Rayca desviasse uma quantia maior do que o habitual. Toda semana, a funcionária depositava discretamente valores na conta da amante. Mas, dessa vez, a transferência não aconteceu. Rayca a chamou para explicar o motivo.

A biblioteca ficava num bairro de classe média baixa, e o clima era silencioso, com cheiro de papel antigo e café barato.





— O que você tá me dizendo, Rayca?... Não tô entendendo! — Vivian estava impaciente, sentada na frente da mesa, olhando a outra com uma expressão carregada.

Rayca, atrás do computador, digitava enquanto tentava manter a calma.

— Vou te explicar melhor, meu bem. Otacílio está desconfiado… me pediu um relatório completo das finanças e das ações. E, pra completar, sugeriu a contratação de um novo contador. Ele quer outra pessoa trabalhando comigo. Você entende por que não pude transferir o valor que me pediu?

Vivian bateu com a palma da mão na perna.

— Velho desgraçado!

— Eu juro que não sei como ele começou a desconfiar… Sempre fui cuidadosa, e até onde sei, ele confia em mim.

— Eu sei exatamente o que aconteceu! Ele recebeu uma dica... desde então anda vendendo saúde e desconfiando de tudo. E agora até o dinheiro virou problema.





— Mas de quem ele recebeu essa dica?

— Do meu primo... do Hugo.

Rayca arregalou os olhos.

— E isso afetou a saúde dele como?

— Não vou te explicar detalhes! E já que você não consegue ser útil, não faz sentido continuar essa conversa.

Vivian se levantou abruptamente.

— Vivian? — Rayca se ergueu também, confusa. — Como assim?







— Adeus, Rayca!
— Mas como assim, adeus?





Ela correu até a porta e se colocou na frente da amante.

— O casamento tá chegando. E eu ainda não juntei o dinheiro que preciso pra… me livrar do Otacílio!

— Me livrar? — Rayca engoliu seco. — Você quer dizer... desmanchar o noivado, né?

— É claro, né? Pensou o quê, que eu ia matar o velho?

— Não! Imagina… eu jamais pensaria isso de você, meu bem! Mas, Vivian… não precisa de tanto dinheiro assim. Podemos fugir, montar algo nosso, viver juntas...

— Nem fudendo, Rayca! Não vou viver uma vida de classe média contigo. Prefiro aguentar aquele velho até ele morrer! Tá nas últimas mesmo, não dura muito!

— Meu Deus... — Rayca levou a mão à boca, chocada. — Vivian… você é mais ambiciosa do que eu pensei.

— Agora você sabe. Amor não enche barriga, querida. Dinheiro compra tudo. Inclusive, felicidade. Agora me dá licença por favor?!






Vivian desvia de Rayca e caminha em direção à porta.

— Então… tudo isso com a gente foi só interesse?

Vivian respirou fundo, com teatralidade.

— Mais ou menos isso. Tirando o fato de que… eu me apaixonei por você. — Ela sustentou o olhar, fingindo ternura.

Rayca piscou, emocionada.

— Se me ama, por que não tenta viver comigo sem precisar roubar?

— Porque, Rayca… eu não quero uma vida mesquinha. Mesmo te amando. Planejei o melhor pras nós duas. Mas você falhou. E agora eu vou casar. Sem amantes. Sem distrações. E quero que pare de se prender a mim.

— Você está… terminando comigo?

— Estou.




Rayca não aguentou. Abraçou Vivian por trás, desesperada.

— Por favor… me perdoa?

— Não tem o que perdoar. A culpa não é sua. Mas isso não pode continuar. Se eu não conseguir levantar o dinheiro pra vivermos juntas longe daqui… vou ter que me casar com ele.

— Eu posso tentar… desviar pelo menos metade do valor que você pediu hoje. Talvez dê sem ele perceber...

— Não precisa! Vai ser pior se ele descobrir.

— Então o que vamos fazer?

— Me dá um tempo… preciso pensar.

— E agora, pra onde vai?

— Beber. Em algum canto. Só preciso de silêncio.

— Tudo bem, meu amor. Vai com calma… nada se resolve com a cabeça quente e o estômago cheio de álcool.






Rayca tentou beijá-la. Vivian virou o rosto.

— Já falei que preciso de um tempo. Me deixa ir.








Rayca deu um passo pra trás, machucada. Viu Vivian sair sem olhar pra trás. "Idiota do Murilo, trouxa da Rayca… que bando infelizes apaixonados. Nem sabem que o único homem que eu amei na vida foi o Hugo. Onde será que ele tá agora? Será que teve a coragem de ir embora sem se despedir de mim?"



Continua…
Sarah.

Imagem gerada por IA.


Comentários

  1. A loira burra nem imagina que ela vai de arrasta pra cima também se a Vivian tiver sucesso. Oh mulher besta!

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