O Poder Do Destino. Capítulo 20.
Queria ser amada — nem que fosse à força.
— Seja bem-vindo, meu amor! — disse ela com um sorriso largo. — Que bom ver você… só não estou mais feliz porque minha conta está quase zerada.
— Você ficou com uma boa quantia. O suficiente para se manter. Sei que pode conseguir mais.
— Você podia ter esperado um pouco mais! Eu preciso desse dinheiro pra investir nos meus negócios… falta tão pouco pra gente ficar milionários!
— Não me inclua nos seus planos. Já disse que não quero mais nada com você.
— Agora você é livre. Não deve mais nada a ninguém. Nem a Marcelo, nem a mim.
— Livre? Eu não vejo liberdade sem você!
— Por quê? Porque eu trago lucro? Porque você não sabe se sustentar sozinha?
— Você não entende… eu nunca trabalhei pra você. Eu te amo. Sempre fiz tudo por amor.
Vivian estranhou o tom. Hugo nunca falava sobre sentimentos. Era discreto, frio.
Mas ali… havia algo. Um eco distante de emoção. E isso a inquietou.
— E você sabe? — ela rebateu, encarando-o.
Ele hesitou por um instante — e então respondeu, firme como uma rocha:
— Não. Mas um dia saberei. E não será com você. Nunca senti amor por você. Éramos parceiros de negócios, e só.
— Parceiros de negócios que transavam o tempo todo?! Que dormiam juntos quase todas as noites? Que dividiam conta bancária? Isso não é só negócio!
— Era e sempre foi. Agora siga com a sua vida. Me deixe em paz. Não me ligue. Não me procure. Você já me pagou o que devia — e isso é tudo.
Vivian endureceu a expressão, ferida.
— Você tem alguém… não tem? Encontrou outra pra ocupar o meu lugar?! Quem é ela? Conhecida? Conheceu aqui?
— Ninguém ocupará o seu lugar.
Deu um passo à frente, sorrindo.
— Vamos conversar lá dentro. Reservei um quarto só pra nós dois. Tá muito calor aqui fora…
Mas Hugo apenas a encarou, com repulsa nos olhos.
Quando ela tentou se aproximar, ele a segurou pelo braço, firme.
Vivian queria tocá-lo como antes… mas o passado não se repetiria.
— O que pensa que está fazendo?
— Quero sentir o seu cheiro… o gosto da sua pele… Tô com saudade de você.
— Mas eu não quero que se aproxime de mim! Já disse que acabou!
— Mas você disse que ninguém vai ocupar o meu lugar! Você gosta de mim!
— Ninguém ocupará seu lugar porque não quero me envolver com gente como você. Não cometerei os mesmos erros. Me arrependo do que fiz com Marcelo — e sei que vou pagar por isso. Mas não quero mais nenhum vínculo com você.
— Foi legítima defesa! Ele ia matar a gente! Não se culpe… e não me culpe!
— Aquilo foi legítima defesa, sim. Mas e as mortes que você ainda planeja? Quantas vidas mais vai tirar, Vivian? Por ganância? Por prazer?
— Faço isso pra sobreviver. E faço por você também! Só quero viver bem… ser feliz ao seu lado. Eu te amo, Hugo!
Empurrou-a para longe.
Mas nenhum dos empregados ouviu.
Ou talvez tenham preferido não ouvir.
— Você se diverte me machucando?
— Achei que você gostasse. Sempre pedia isso durante o sexo, não? — ele cuspiu as palavras. — Já chega. Você me adoece com a sua loucura. Não me procure mais. Ou estará procurando a morte.
— Eu não vou desistir de você!
— Se preza pela sua vida… desista.
— Vamos direto para o seu quarto, senhor Brandão. Precisa tomar a medicação e repousar — disse Murilo, com a serenidade profissional que escondia intenções mais sombrias.
— Vou falar com minha noiva primeiro, e irei em seguida.
Otacílio parou, intrigado com a cena inesperada.
“O primo de Vivian? O que ele faz aqui… Ela não me avisou da visita, muito menos que ele já estava em casa.”
Murilo franziu o cenho. Não conhecia Hugo; Vivian ainda não os havia apresentado.
“Primo dela? O que ele veio fazer aqui?” — pensou, desconfiado.
“Por essa, a Vivian não esperava. O velho chegou antes do programado.”
Mesmo contrariado com os planos dela, decidiu manter o silêncio. Expor Vivian naquele momento poderia prejudicar a ambos — e Hugo sabia o quanto ela era capaz de se vingar.
“ O que esses dois estão fazendo aqui? Do jeito que o Hugo está com raiva, pode falar o que não deve!” — pensou, tentando controlar o pânico. Precisava afastá-lo antes que ele soltasse alguma verdade inconveniente.
— Eu também não. Esse é Hugo, o primo de Vivian. Ela não me avisou da visita — disse Otacílio, ainda com a testa franzida.
— Primo? Sua noiva tem parentes em Windenburg? — Murilo indagou, desconfiado.
— Ele só está de passagem pela cidade.
Hugo aproximou-se com naturalidade e cumprimentou Otacílio. O velho, educadamente, o apresentou a Murilo.
— Otacílio? Dr. Murilo? O que aconteceu para estarem em casa a essa hora?
— O senhor Otacílio me ligou dizendo que estava com mal-estar. Trouxe-o para medicá-lo em casa — explicou Murilo, lançando um olhar enviesado a Hugo.
A presença dele o incomodava. A tensão entre os três era palpável.
— Eu não sabia que seu primo nos visitaria hoje, minha querida — comentou Otacílio, lançando a Vivian um olhar que mesclava desconfiança e reprovação. Ele ainda se lembrava da frieza com que Hugo tratara a prima na última visita.
— Foi inesperado. Eu já estava decidida a ficar em casa quando ele me ligou dizendo que estava na cidade — começou Vivian, nervosa.
Mas Hugo a interrompeu, firme.
— Me desculpem por vir sem avisar. Vim por negócios. Havia uma dívida entre nós, agora resolvida. Não poderei comparecer ao casamento. Em breve estarei deixando Windenburg.
— Pois é, era uma coisa boba. Mas está tudo resolvido — disse Vivian, tentando parecer serena. — Que pena que vai embora antes do casamento.
— É uma pena mesmo… Já que está de partida, gostaria de convidá-lo para um almoço de despedida. Você é o único parente de Vivian que conheço — sugeriu Otacílio.
— Vamos marcar outro dia — respondeu Hugo, mantendo o tom cordial, mas o olhar firme se voltou para Murilo. — Ouvi dizer que o senhor não está se sentindo bem. Isso tem acontecido com frequência?
— Sim… Náuseas, tonturas. Mas Vivian e o doutor têm cuidado bem de mim. Logo estarei bom — respondeu Otacílio, tentando tranquilizar a todos.
— Talvez seja a hora de procurar outro médico, em outro hospital. Um segundo parecer seria prudente — disse Hugo, fixando o olhar em Murilo com uma frieza cortante. O subentendido era claro: ele sabia.
Vivian interferiu rapidamente.
— O Dr. Murilo é um excelente profissional. Otacílio não precisa de outro médico! — disse, forçando um sorriso. — E Hugo já está de saída. Ele me disse que tem um compromisso e está atrasado.
— Sim. Estou de saída. Adeus a todos.
— Ele disse “adeus”? Não íamos almoçar juntos antes de ele partir? — perguntou Otacílio, surpreso.
— Não conte com isso, amor. Hugo está com pressa para viajar — respondeu Vivian, tentando manter o controle da situação.
— Esse seu primo é diferente de você… Não parecem da mesma família. Chega a ser mal-educado.
— Eu avisei que ele não gosta de socializar. É o jeito dele. E, Dr. Murilo, não leve a sério o que ele disse. Confiamos plenamente em seu trabalho.
— Não me incomodei. A opinião de terceiros não tem importância. Apenas a dos meus pacientes importa. Mas devo concordar com o Sr. Otacílio: o primo é desagradável.
— Não se preocupe, ele não voltará mais a essa casa — garantiu Vivian, com firmeza.
Aceitou os medicamentos que Murilo lhe ofereceu — os mesmos que tomava há dias, e que, aos poucos, corroíam sua saúde.
Deitado, murmurou para si:
— Talvez eu devesse seguir o conselho do primo da Vivian… Não vejo melhora. Sinto que estou piorando a cada dia.
As palavras de Hugo ecoavam em sua mente. Fingiu ignorá-las, mas plantaram uma dúvida que crescia como erva daninha.
— O senhor vai acordar se sentindo melhor. Descanse para que o medicamento faça efeito — disse Murilo, com suavidade.
— Sim, vou descansar… Estou tão fraco que até levantar o braço é um esforço. Obrigado pelo pronto atendimento, doutor.
— Por nada. Só estou fazendo o meu trabalho. Agora tente dormir, por favor. Preciso voltar ao hospital.
— Isso mesmo, amor… descanse logo. Eu fico aqui, cuidando de você. — A voz de Vivian era um manto doce cobrindo uma lâmina afiada.
— Não queria te dar tanto trabalho, Vivian… Às vezes penso que você não merecia passar por isso. Talvez devesse ter escolhido um marido mais saudável… — Otacílio falava com dificuldade. O medicamento já fazia efeito, puxando-o para o sono como uma âncora no fundo de um lago.
— Não fale isso de novo. Eu amo você. Não quero outro. Esse mal-estar vai passar assim que você acordar. — "Dorme logo, seu desgraçado… Amo o seu dinheiro, e não posso sair do seu lado até que morra de vez!" — pensou ela, com o mesmo sorriso suave com que mentia.
— Dormiu. Dobrei a dosagem do calmante. Deve ficar assim por umas oito horas. — respondeu Murilo, num tom cauteloso.
— Ótimo. Quero transar com você. Aqui. Neste quarto.
— Aqui?... Vivian, eu não acho que…
— Vai recusar?
Foram para a mesa de centro. Vivian, no entanto, se sentia entediada.
— Murilo… puxa meu cabelo com força. Me bate!
— O quê?! Você quer que eu bata em você?
Depois do sexo:
— Te machuquei? — ele pergunta, preocupado.
— Não chegou nem perto. — Ela sorri, ironicamente.
— Que bom… eu… fiquei com medo.
— Que fofo. — "Homem mole… insuportável!"
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