Newcrest.
Manhã de terça-feira. 08:00.
Depois de uma noite de sono tranquila, a casa despertou aos poucos para um novo dia. Todos pareciam bem-dispostos, menos Amanda, que mal pregara os olhos. A lembrança do que aconteceu com Luísa martelava sua mente como uma sirene abafada — constante, incômoda. Ela tentou esconder seu cansaço sob sorrisos e palavras leves, mas Hugo notou o silêncio diferente nos olhos dela. Supôs que fosse ansiedade pelo namoro recente, mas não quis pressionar.
O café da manhã aconteceu sob um céu limpo e uma brisa fresca de outono. Após as últimas xícaras, todos seguiram para a garagem organizar os itens que levariam para a loja. Irariam no carro de Amanda, e Hugo passaria o dia com elas na floricultura. Pedro ficaria em casa, imerso no trabalho.
Entre caixas de flores e risadas discretas, o casal apaixonado aproveitava cada oportunidade para ficar junto. Hugo parecia determinado a mimar Amanda — como se quisesse compensar com carinho tudo o que a vida já havia lhe negado. Beijavam-se às escondidas, pois Amanda ainda não se sentia confortável fazendo isso na frente do irmão. Ficaram namorando ao lado do carro, trocando olhares cúmplices enquanto Sarah se aprontava para acompanhá-los.
— Hugo, a Sarah tá vindo! — Amanda sussurrou, divertida.
— Ainda dá tempo de mais um beijinho... — ele brincou, já se inclinando.
— Agora não dá mais! Tô ouvindo o passo dela… tá vindo!
— Tudo bem... mais tarde a gente continua. — Ele sorriu, deu um beijo demorado no rosto dela e soltou sua mão com relutância.
Na noite anterior, na mansão de Otacílio Brandão.
O ar na mansão estava impregnado pelo perfume pesado dos remédios. Otacílio dormia em sono profundo, induzido pela medicação fortíssima que tomava todas as noites. Vivian, atenta aos horários e às doses, controlava tudo com precisão quase cirúrgica. O médico pessoal do velho — cúmplice e amante — era parte do plano.
Vivian reservou um dos quartos da mansão para encontros discretos com seus parceiros: Rayca Elíseo, a contadora, e Murilo Limedo, o médico. Nenhum sabia do outro. Aos olhos deles, Vivian era apenas uma noiva infiel. Mal sabiam que estavam sendo conduzidos como peças num tabuleiro que só ela enxergava inteiro.
Rayca, quinze anos mais velha, vivia obcecada por Vivian. Apaixonou-se perdidamente depois de ser seduzida no próprio escritório. Desde então, estava rendida. Desviava dinheiro da conta antiga de Otacílio para outra, criada sob uma identidade falsa que Vivian usava. Não sabia que, ao final do plano, estava marcada para morrer. Vivian a envolveu com mentiras doces, promessas de fuga e juras de amor.
— Sabe que eu te amo, meu amor? Quando a gente tiver o dinheiro, vamos sumir juntas…
— Eu também te amo, minha ruiva gostosa. Não paro de pensar em você. Que feitiço é esse?
Vivian sorria, enroscada no lençol, como se acreditasse nas próprias mentiras. Não falava em assassinato. Apenas dizia que deixariam Otacílio — vivo, mas mais pobre. Rayca acreditava. E estava presa.
Murilo, por outro lado, era um caso diferente. Casado, pai de dois filhos. Vivian não pretendia matá-lo. Bastava manipulá-lo com ameaças veladas à família. Enquanto isso, aproveitava o que ele podia oferecer.
De volta à terça-feira, Newcrest.
A floricultura já estava de portas abertas. Sarah vendia lanches com seu jeito prático, Amanda cuidava do caixa, e Hugo atendia as clientes.
Algumas, claramente, estavam ali mais pelos sorrisos dele do que pelas flores. Amanda tentava se manter profissional, mas o ciúme a corroía em silêncio.
Duas mulheres, que estiveram presentes na reinauguração, pareciam determinadas a conseguir algo além do número de telefone do rapaz.
Sarah observava tudo de canto de olho. Via a tensão em Amanda, que mordia os lábios e evitava encarar as clientes.
"Coitada da minha cunhada, — pensou Sarah, com um sorrisinho no canto da boca."
"Ela tá morrendo de ciúmes daquelas oferecidas. Ainda bem que só eu gosto do meu pretinho, porque se uma delas encostasse no Pedro, eu acabaria com raça delas!"
Mais tarde, Amanda pediu para Hugo ficar em seu lugar por alguns minutos. A caixa de sachês de sementes havia acabado, e ela foi até a estufa buscar mais. Caminhou com passos firmes, mas o coração inquieto.
"Não é fácil namorar ele… Se perto de mim já é assim, imagina quando tá sozinho? Essas mulheres não dão trégua! Não deixam o Hugo em paz nem por um minuto…Não quero mais que ele venha me ajudar na loja! Pelo menos assim essas pestes param de se jogar em cima dele!"


Amanda, na estufa, vasculhava caixas e mais caixas, tentando encontrar os sachês de sementes. Por fora, parecia calma. Por dentro, fervia. A cena das mulheres bajulando seu namorado era um filme repetido — e cada vez mais incômodo.
Enquanto isso, do lado de fora, Hugo era abordado com insistência por uma cliente que claramente havia ultrapassado os limites do bom senso.
— Mas eu tô aqui todos os dias desde que abriu a loja, eu sei que você não tem namorada! Então por que não me diz pelo menos o seu número? Sou cliente fiel, sempre compro alguma coisinha… Poxa, Hugo, tá difícil pra mim. Eu penso em você todos os dias! Você não é gay, é?
Ele respirou fundo, e respondeu com firmeza:
— Não. Mas tenho uma namorada.
— O quê?! Como assim?!
— Se você vem à loja todos os dias por minha causa, então pare de vir. Estou com alguém que amo. E mesmo se não estivesse, não daria meu número. Gosto da minha privacidade. Você é bonita, sim… mas não somos compatíveis.
A mulher arregalou os olhos, sem saber se ficava ofendida ou envergonhada.
— Nossa… eu não esperava por essa…

Minutos depois, Amanda estava na bancada, montando um arranjo floral.
O trabalho com as flores costumava acalmá-la. Mas, naquele dia, sua mente estava longe dali. Pensava em Luísa, na noite difícil que a amiga enfrentara… e no medo que não lhe dava trégua.
"Ainda bem que o Tae tá com ela. Vou pagar pelo menos a TV. Mas… e se foi mesmo o Walter que invadiu a casa dela? Será que ele seria tão baixo a esse ponto? Ir até outra cidade só pra se vingar?… Eu nem quero mais ele. Só quero saber se foi ele mesmo!"

Hugo a observava de longe. Notava que ela mexia nas flores com distração, como se cada pétala escondesse um pensamento.
Se aproximou devagar e, com delicadeza, tocou seu rosto.
— Oi, amor…
Amanda se sobressaltou.
— Oi! Que susto…
— Desculpa, não queria te assustar. Tá tudo bem?
— Tá… tudo bem.
Ele estreitou os olhos. Não acreditava.
— Não parece. Tá preocupada com algo? Com alguém?
Ela hesitou. Quase falou. Mas ainda não tinha certeza sobre Walter. E não queria envolver Hugo antes de ter provas.
— Eu… acho que tô com fome. Daqui a pouco peço o almoço pra nós três!
Lá do fundo da loja, uma sombra de ressentimento escorria por entre as prateleiras de flores. A cliente que levara o fora observava o casal se abraçar. Sentia-se traída por algo que nunca teve.
"Olha só com quem ele tá namorando… A sonsa jurava que não tinha nada com ele! Eu sabia! Mas tudo bem… já levei um fora astronômico mesmo. Que sejam felizes, os pombinhos. Nunca mais volto nessa loja!"
As outras clientes, ao contrário, sorriram com ternura.
— Ahh, eles formam um casal tão bonito…
— É mesmo… ela parece tímida, e ele parece estar perdidamente apaixonado!
Hugo abraçou Amanda com mais firmeza.
— Quando quiser conversar, me conta. Tô aqui pra te ouvir. Amo você. Quero cuidar de você, pra sempre estar bem.
Ela sorriu, tocada pela sinceridade dele.
— Eu também te amo… mais do que você possa imaginar. Mas se ficar me abraçando assim, a loja vai ficar vazia — suas fãs vão embora!
Hugo riu e, em vez de recuar, a beijou ali mesmo. Um beijo firme, amoroso, seguro. Um recado silencioso às clientes: meu coração já tem dona.
Do lado de fora, um par de olhos ardia em ciúmes.
Walter.
Estava prestes a entrar, decidido a falar com Amanda. Mas congelou ao ver o beijo. Observou em silêncio, cada músculo do rosto contraído pela raiva.
"Então é por isso que ela não quer voltar pra mim… Ela já tem outro. Quem é esse desgraçado?!"
Hugo se afastou, sorrindo.
— Vou pedir nosso almoço, já que você tá com tanta fome!
— Quero arroz, bife, batata frita e salada! E pede o mesmo pra Sarah!
— Tudo bem. Vai ser almoço de campeões!
Ele pegou o celular para usar o aplicativo. Enquanto caminhava até a estufa, o telefone tocou. Era Vivian.
Vivian caminhava em direção à sala de café da manhã quando o celular vibrou. Uma notificação do banco.
Saldo: R$ 300.000,00
— Eu não acredito nisso! Eu não fiz essa transferência!! — COMO ELE CONSEGUIU ENCONTRAR A MINHA CONTA?! HUGOOO!!!
Ela soube na hora quem era o culpado. Hugo não fez questão de esconder. A transferência estava lá, escancarada.
— Tudo bem… tudo bem, Vivian… — respirou fundo, tentando controlar a raiva. — Você vai recuperar o controle. A gente dá um jeito de ganhar mais dinheiro… Mas primeiro, preciso falar com aquele filho da puta!
Minutos depois, Vivian e Otacílio tomavam o desjejum na mansão. Ele, sonolento pelos remédios; ela, impecável: vestido marrom e branco de grife, joias chamativas, salto alto marrom. Ele vestia um terno cinza, gravata azul listrada de vermelho e camisa social branca.
— Como está o seu chá, amor?
— Tá bom… mas podia estar mais doce…
— Você sabe que não pode exagerar. Açúcar faz mal pra sua saúde. Tenho que cuidar bem do meu noivinho… vamos nos casar em breve, quero aproveitar cada instante com você.

— Obrigado por cuidar de mim, meu amor!
— Não precisa me agradecer, você sabe que eu te amo e vou cuidar muito bem de você, meu amorzinho! Nunca fui tão feliz como estou sendo agora ao seu lado. — Ela sorriu, doce como veneno em calda.
— Me desculpe por não estar sendo um noivo presente, não tenho estado bem de saúde, mas vou recompensar quando melhorar.
— Não se preocupe, meu benzinho, o importante é você ficar bem. Teremos o resto de nossas vidas juntos!… E como foi a sua noite, dormiu bem? — “Velho desgraçado, você não vai melhorar nunca! Vou cuidar pra que o resto da sua vida seja breve!”
— Dormi a noite inteira, continuo com um pouco de sono e me sinto cansado. Acho que passarei no hospital mais tarde. Mas você não dormiu no quarto, de novo?
— Eu dormi no quarto de hóspede, me mexo muito na cama e não queria atrapalhar o seu sono, quando você melhorar dormiremos juntos.
— Claro, meu bem, você sempre pensando no meu bem-estar.
— Sempre! Você é o meu noivo e futuro marido, eu tenho que cuidar de você. Mas amor, não precisa ir no hospital, eu posso chamar o doutor Murilo, ele vem cuidar de você em casa, é mais confortável assim.
— Você tem toda a razão! Chamarei ele para uma consulta hoje.

Hora atual.
Vivian combinara de encontrar Otacílio mais tarde. Disse que precisava passar em uma loja de cosméticos. Assim que ele saiu com o motorista, Vivian ligou para Hugo.
Conversa ao telefone:
— Olá, Vivian.
— Bom dia, Hugo! Como você está? Acordou mais rico?
— Acordei com o que me era devido.
— Você tirou todo o dinheiro da minha conta! Nem um pingo de consideração por quem te ajudou por anos?
— O dinheiro era meu. Você me roubou. Só peguei de volta.
— Você não foi justo! Você tem muito dinheiro e ainda me tira o pouco que eu tinha… Isso não vai ficar assim.
— Você está me ameaçando?
— Talvez eu esteja. Fiquei sabendo que você tá prestando serviços pra algumas empresas… e que tem até funcionário. Como é o nome dele mesmo?... Ahh, Pedro Barros! Talvez eu passe no seu escritório. Vai que eu queira contratar vocês, né?
— …
— Por que você não vem até minha casa? Só pra conversar. Você me deve isso. Fui eu quem te ajudou a conquistar boa parte do que tem. Um milhãozinho não ia te fazer falta…
Hugo, pediu o almoço para Amanda e Sarah, antes de sair. Conversou com Amanda, disse que surgiu uma emergência e precisava ir atender um cliente, mas prometeu voltar para fecharem a loja juntos, Amanda ofereceu o seu carro, porque eles foram no carro dela para a floricultura, mas ele recusou, Hugo não queria que Vivian, pegasse a numeração da placa do carro de Amanda, então pediu um táxi.
Às 14h, Hugo chegou à mansão Brandão, em Windenburg. Uma empregada o recebeu.
Continua…
Otacílio.
Imagem gerada por IA.
Essa Rayca é burra de mais. Caiu no papo de alguém que trai e ainda faz coisa ilegal. Ela não sabe que quando se faz acordo com uma diaba como a Vivian sempre tem pegadinha?
ResponderExcluirAmei a cortada que o Hugo deu naquela cliente oferecida.
Sério que o Walter não vai largar o osso? Certeza que esse aí vai virar estampa logo.
Oi, Erick!
ExcluirA Vivian tem os meios dela de convencer as pessoas, mesmo sendo uma vigarista perigosa. Coitada da Rayca! KKKK
Pois é, o Hugo tem os milhões de defeitos dele, mas acredito que infiel ele não é, pelo menos quando está apaixonado.
O Walter está se tornando um problema, será que alguém vai ter que resolver isso? kkkkk
Obrigada por acompanhar a história!