O Poder Do Destino. Capítulo 10.

 

Essa história é fictícia e foi inteiramente criada por mim. Patrícia Leal.



Newcrest. Sexta-feira. Ainda na loja.


O dia da reinauguração da loja havia sido um verdadeiro espetáculo de vendas. Em toda a história da pequena floricultura, jamais se vira algo parecido. Hugo cumprira o que prometera — com seu olhar clínico para negócios e um talento nato para atrair clientes, fez o marketing acontecer, e os lucros ultrapassaram todas as expectativas.

Amanda, exausta e incrédula, decidiu encerrar o expediente antes do habitual. As prateleiras quase vazias testemunhavam o sucesso. Sarah e Luísa foram para casa no carro dela, deixando Amanda e Hugo encarregados de receber e organizar o novo carregamento de mercadorias que ela já havia solicitado com antecedência.







Pouco tempo depois, o caminhão chegou. Com a mesma eficiência que os unia em silêncio, eles descarregaram tudo, organizando as flores e plantas com cuidado — cada qual no seu devido lugar, como se estivessem plantando, ali, um novo começo.

Amanda, conferiu o caixa, fez um cálculo rápido, e arregalou os olhos.





— Hugo, você não vai acreditar no quanto a gente vendeu!

Ele ergueu uma sobrancelha, sorrindo de canto.

— Não vou?… Quanto?

Ele já tinha noção — observara os preços, os produtos, a quantidade saindo como água. Mas queria ouvir da boca dela.

— Quase cinco mil reais! Isso é quase um mês inteiro de vendas! — Ela dizia com os olhos brilhando, um brilho que ele estava começando a reconhecer, e a guardar.

— Então ganhei mesmo a aposta.






Duas horas depois, a loja estava limpa, perfumada e pronta para o novo dia. E eles, ali, sozinhos, envoltos em um silêncio leve que não incomodava — como se o mundo lá fora tivesse tirado o som para deixar só os corações falarem.






— Sim, você ganhou! Pode escolher a roupa e o lugar… — Amanda virou-se, rindo. — Mas… por que você quer escolher a minha roupa? Não gosta das que eu tenho?

Hugo sorriu, calmo, quase misterioso.

— Gosto, sim. E você não precisa sair comigo só porque fizemos uma aposta. Era apenas um impulso… uma desculpa. Eu já sabia que venceria.

— Já desistiu do prêmio? Agora há pouco você me convidou pra sair… E nem vem com esse papo de que sabia que ia vender tudo! Tá se achando demais! — Ela riu, mas havia algo diferente no tom: um afeto escondido atrás da provocação.

— Minha intenção era ver você feliz com o resultado, como disse antes. A aposta era só um pano de fundo. Eu tracei estratégias, tinha em mente o que fazer. Mas... se você não quiser ir, não vamos.






Amanda parou por um instante, mordendo levemente o canto do lábio, como quem pensava duas vezes antes de mergulhar — mas sentia o impulso da queda.

— Mas eu quero ir… Faz tempo que eu não saio. Acho que vai ser bom, não é? Me distrair um pouquinho?

— Vai ser bom pra nós dois — disse ele, com aquela voz serena que parecia capaz de acalmar até o vento. — O lugar é muito agradável… você vai gostar.

Hugo era perspicaz. Não só nas vendas, mas nos sentimentos alheios. Ele via o que as palavras tentavam esconder — e Amanda, mesmo sem perceber, já deixava transparecer um certo interesse. Ele sabia. E respeitava. Não a apressaria. A deixaria florescer no tempo dela.

— Agora que terminamos… — disse ele, com aquele jeito prático, mas gentil — Vamos voltar para casa. Você precisa descansar.

— Vamos. Tô morta de cansaço… e de fome. — Ela confessou, soltando um suspiro que parecia o peso do dia inteiro se esvaindo.

— Quer passar em um restaurante antes?

— Não, obrigada. Quero ir direto pra casa.







E assim foram. O caminho de volta foi silencioso, mas havia palavras nos olhares trocados. Palavras que ainda não se diziam em voz alta. Talvez amanhã. Ou depois.





Ao chegarem, estacionaram na garagem. Antes de entrarem, ficaram um instante conversando, como se nenhum dos dois quisesse quebrar o encanto daquele dia vitorioso. Amanda olhou para Hugo com um brilho de gratidão no olhar.

— Quero te agradecer de novo por ter ido e... você fez tudo acontecer de uma forma tão fácil. Foi incrível como vendemos tudo. Obrigada por ficar comigo até o fechamento e me ajudar com a organização. Eu não esperava isso de você.

— Por que não? — a pergunta de Hugo foi simples, mas seus olhos diziam mais: havia ali uma pontada de mágoa contida, como se ela tivesse tocado em algo que ele tentava esconder.

— Você chegou aqui com esse jeito de quem não se importa. Apesar do Pedro dizer que você já tinha ajudado ele, e que era muito bom, eu não sentia isso quando conversava com você...

— Falei alguma coisa pra você chegar a essa conclusão?

— Não... mas esse seu jeito, esse nariz empinado de riquinho da cidade…

Hugo sorriu de canto, um sorriso triste, resignado.

— Não sou rico. Caso contrário, não estaria morando aqui. Me desculpe... Eu não queria que você pensasse isso de mim. Eu me importo com você… com vocês.

A sinceridade da resposta, que na verdade não era tão sincera assim,desarmou Amanda. Ela sentiu o peito apertar, como se algo ali dentro se quebrasse em silêncio.

— Eu que tenho que pedir desculpas pra você. Sei que se importa com a gente. E... eu gosto de você, Hugo. Você é um bom amigo. Obrigada por isso.







“Ahhh, Deus! Preciso manter a calma... Que vontade de beijar essa boca dela… Não sei por quanto tempo resisto… Se sairmos juntos de novo, não sei o que farei. Não foi uma boa ideia!… Preciso mudar isso.” — pensou ele, fixando os olhos no rosto de Amanda, que ainda o encarava com ternura.






Ela o olhava como quem observa um céu estrelado depois de uma longa noite escura. Havia ali um carinho silencioso, uma admiração inesperada.

“Mas sei que não vou conseguir… porque não quero. Quero mesmo é tê-la em meus braços… Queria poder cuidar e protegê-la… Nunca me senti assim. Eu gosto do que sinto quando olho pra ela… Amanda…” — ele estava se apaixonando, e por mais que tentasse negar, já era tarde demais.

Amanda também sentia. Não da forma calma e confortável que esperava, mas com aquela confusão boa que o coração apronta quando encontra algo que não entende, mas deseja.
“Sei que ele só quer ser bom… Ele gosta de mim como amiga, porque sou irmã do amigo dele… Mas acho que não sinto a mesma coisa! Ele é lindo, gentil, bondoso… e cheiroso… Meu Deus, que cheiro bom que ele tem!…” — pensou ela, tentando não sorrir.






— É melhor a gente ir. Minha barriga tá roncando de fome! — Amanda tentou disfarçar os pensamentos, focando na fome real que sentia.

— Claro. Vamos!






— Nossa… Não consegui comer nada o dia todo. Tava muito nervosa. Eu ainda não acredito que vendemos todas as plantas!

— Na verdade, não vendemos todas. Oitenta por cento das que estavam para venda. E você devia ter comido alguma coisa. Ficar tanto tempo sem se alimentar faz mal.

— Eu sei... Mas não consegui comer. E oitenta por cento é muita coisa! Nossa… Eu não acredito mesmo!




Na área de churrasco, o cheiro da carne assada já tomava conta do ar. Pedro comandava a churrasqueira com o orgulho de quem prepara um banquete para os seus. Sarah e Luísa riam entre um gole e outro — Luísa com seu chopp gelado, Sarah com suco de laranja, visivelmente feliz, apesar da abstinência forçada pela gravidez.





Ao ver a cena, Amanda não resistiu:

— Começaram sem a gente?! — brincou, tirando risos da mesa.

— Chegaram bem na hora! Começamos agora e logo ouvimos vocês chegarem! — respondeu Sarah, animada.






Amanda se sentou entre as meninas, enquanto Hugo ainda estava de pé, prestes a ir para o quarto.

— Você sabe que não pode beber, né, Sarah? — Amanda provocou, rindo.

— Eu não tô bebendo! Só suquinho de laranja… — respondeu Sarah com um suspiro melancólico, fitando o copo como quem encara um castigo.






— Vem, Hugo, senta aqui com o Pedro. Eu me sento com as meninas! — disse Sarah, fazendo sinal para ele se aproximar.

— Obrigado, Sarah. Mas preciso ir para o meu quarto primeiro. Não demoro.

— Tá bom, vai lá e volta logo. Vocês devem tá morrendo de fome!

— Não muito. Aqueles salgados serviram para controlar a fome, mas a Amanda não comeu nada o dia todo. Seria melhor se alimentar antes de ingerir bebidas alcoólicas.






— O Hugo tem razão, você deveria comer antes de beber! Forrar o estômago primeiro! — Pedro completou, já servindo mais carne.

— Tô com sede… e esse chopp tá tão gostoso… bem geladinho…

— Mas você é fraca com bebidas, e beber sem comer vai te deixar tonta.

— Sei me cuidar. Nenhum de vocês é o meu pai… Eu nem tenho pai!

A frase caiu como uma pedra no meio da conversa. O silêncio que se seguiu foi imediato, espesso.

— Nossa, Amanda! Eles só se preocupam com você! — Luísa tentou aliviar, mas a tensão ainda pairava.







— Não se mete, Luísa. Isso é conversa de cachorro grande! — Sarah interveio, firme.

— Tá bom!… — Luísa murmurou, encolhendo-se no canto da mesa.

— Tudo bem. Eu já tô acostumado com ela… Deve ser a fome e o cansaço. Daqui a pouco ela volta ao normal. — Pedro disse, com um sorriso triste. Ele sabia que o nome do pai ainda era uma ferida aberta.

“Ela não perdoa ele… e nem posso perdoá-lo também. Não foi homem o suficiente para cuidar da família que tinha… Um covarde! Eu nunca abandonarei a minha esposa e meus filhos, nunca. Espero que a minha irmã encontre um bom marido que cuide dela também.”






Hugo pediu licença e foi para o quarto, mas não sem refletir:

“Esse assunto sobre o pai é algo doloroso para eles… Ficaram tristes e calados… Hmm… Vou me lembrar disso. É sempre bom conhecer os pontos fracos e fortes das pessoas, para usar a favor… ou contra, se precisar.”





Pouco tempo depois, ele voltou. Pedro, sempre prestativo, pegou uma cadeira extra da sala para acomodar melhor todos. Ele já havia comido mais cedo, então cedeu seu lugar para Hugo.

Hugo observava a cena à sua frente com olhos que tentavam entender aquele calor estranho no peito. Era uma sensação nova. Aquele ambiente familiar, barulhento e cheio de vida era o oposto do silêncio frio da sua infância.






Ele se sentia como um forasteiro num lar que nunca teve. E, ao mesmo tempo, desejava com força que aquilo pudesse ser dele também, mas a realidade o trás de volta, logo teria que deixar aquelas pessoas e aquele lugar de paz.

— Tudo bem, Hugo? — Amanda notou que ele estava distante.

— Tudo bem. — respondeu, sem conseguir disfarçar completamente a confusão no olhar.

— Não vai comer mais? Só comeu um pouco, e um homem do seu tamanho come muito. Já vi você fazer pratos bem maiores do que esse. Não gostou da comida?

— A comida está ótima. Acho que comi salgados demais. — tentou sorrir, buscando esconder a verdade.

— Se quiser comer mais tarde, você pode usar a chave reserva que coloquei na bancada de flores e pegar alguma coisa na geladeira.







— Obrigado, Amanda… Talvez eu queira comer uma fruta, mas aviso antes de entrar.

“Está preocupada comigo?... Percebeu minha mudança de humor. Preciso cuidar melhor das minhas expressões. Não posso deixar que ela veja o que se passa aqui dentro. Seria um erro me apegar a ela… e a essa família.”

— Não precisa avisar, todo mundo aqui sabe que é você que vai entrar na casa. — Amanda insistiu com uma leveza que tentava esconder o zelo.

— Se quiser alguém pra conversar, tipo… se tiver com insônia, sabe? Eu te passo o meu número. — Luísa, sempre direta, tentava mais uma vez se infiltrar no coração dele, ainda que fosse pela fresta de um mal-estar noturno.

— Vou trabalhar até tarde e não terei tempo para conversar, mas agradeço a sua disposição, Luísa. — A resposta veio serena, mas firme. Hugo sabia cortar esperanças sem ser cruel.

— Tudo bem, então… — ela murmurou, murchando como flor esquecida ao sol.






— Luísa, você não se cansa de tentar? — Amanda riu, meio cúmplice, meio exasperada.

— A esperança é a última que morre! — Luísa retrucou com um brilho maroto, ainda que um pouco apagado.

— Comi mais do que devia, não aguento mais! Agora vou namorar um pouquinho com meu maridinho. — Sarah anunciou com a satisfação de quem se fartou de comida e de afeto.

— Nem sei como coube tudo isso na barriga, ela já tá cheia o tempo todo! — Luísa provocou, rindo.

— Hahaha! Sua doida, tá cheia de neném, não de comida! — Amanda se juntou à brincadeira, e por um instante, o lugar se encheu de gargalhadas leves.

Hugo observava em silêncio. Ele não ria, mas sorria por dentro. Havia algo de doce naquele convívio. Algo que ele nunca teve. Nunca sequer ousou sonhar.

E mesmo assim, não conseguia tirar os olhos dela. Amanda ria ainda que timida, mas feliz. Ela parecia pertencer àquele lar — e, estranhamente, por um segundo, ele também.

— E você, que já repetiu duas vezes?! — Luísa cutucou Amanda.

— Mentira! Hahaha! — ela rebateu, ainda rindo.







🕯 A noite desceu sobre Newcrest.

Na sala de estar, Sarah recebia o carinho de Pedro, que a massageava com amor e ternura. Os gestos dele falavam de cuidado, de compromisso, de amor. Ele a conhecia nas entrelinhas — e nesse momento, era ali que ele a abraçava.






Enquanto isso, no quarto de Amanda, ela e Luísa dividiam o sofá, a televisão ligada mais para fazer companhia do que para entreter.

— Luísa, por que você ainda dá em cima do Hugo? Não se cansa de levar fora? — Amanda soltou de forma direta, como só se fala com quem se ama há anos.

— Nossa, essa doeu!

— Desculpa, mas ele não parece tá interessado.

— E parece que você tá com ciúme dele!

— Eu não! Já disse que ele…

— Não é o seu tipo? Para né, Amanda! Pensa que eu não reparei como vocês se olham? Eu só dei em cima hoje pra ver se você reagia!






— Aaahhh então foi por isso?… Coitada de você! Eu sou amiga dele e nada mais.

— Amanda, ele gosta de você!

— Você não sabe separar as coisas, Luísa! Disse a mesma coisa do Joaquim, e ele não tava interessado em mim. Passei uma vergonha quando ele me falou que era gay.

— Tá, eu me enganei daquela vez, mas agora tenho certeza: o Hugo gosta de você. E a chance dele ser gay é zero! Tá na hora de arrumar um namorado!

— Você fala de mim, mas e você? Cadê o seu namorado?






— Boa pergunta. Eu queria saber o que aconteceu com o Roberto… ele pediu um tempo e desapareceu, me bloqueou e sumiu da face da terra.

— Será que é porque, na noite seguinte do tempo que ele pediu, já foi substituído?

— Vacilou, perdeu! A fila anda!






📱 Enquanto isso, no quarto de hóspedes, Hugo, sentado à beira da cama, encarava o celular que vibrava em suas mãos. O nome na tela parecia acender algo dentro dele — um alerta, um peso, um passado.

Ele respirou fundo antes de atender.
Vivian. — murmurou.







— Oi, Vivian… O que você quer?

Mas não era ela.

A voz do outro lado da linha era grave e arrastada. Otacílio. Ele o convidava para ir até sua casa imediatamente, alegando urgência e citando o nome de Vivian como intermediária. Hugo franziu o cenho, desconfiado. A ligação soava errada — como se houvesse algo escondido nas entrelinhas.






"Vivian… sempre ela. Está armando alguma coisa, eu sei. A voz dele estava lenta, sonolenta… isso não me cheira bem. Mas vou descobrir."






Hugo tomou um banho rápido, como quem se prepara para uma guerra, e saiu.





Mansão Brandão — Bairro nobre de Windenburg.






O motorista de Vivian, o aguardava na porta.

— Boa noite, senhor. Sou Jonas. A senhora Vivian pediu para recebê-lo. Ela o espera.

— Boa noite. Obrigado por me receber.






Hugo seguiu o homem pelo interior da mansão. Os corredores eram amplos, luxuosamente decorados, cheirando a perfume caro e madeira encerada.





— Ela está sozinha? — Hugo perguntou, tenso.

— O patrão já está dormindo. A senhora está na área da piscina. Basta seguir em frente, atravessando a cozinha.

— Certo… obrigado, Jonas.






Os passos de Hugo ecoavam suavemente pelo piso de madeira, abafados apenas pelo murmúrio distante da noite lá fora. Ao atravessar a cozinha, seus olhos encontraram Vivian — e o tempo pareceu perder o compasso.

Ela estava ali, de pé, à beira do envidraçado que revelava o azul líquido da piscina. A luz da água dançava sobre sua pele como um feitiço, desenhando reflexos nas curvas perigosas de seu corpo. Vestia um conjunto preto provocante — uma saia curta, levemente torcida na lateral, e um top justo de alças finas que delineava seu busto com elegância estudada. As pernas, longas e firmes, terminavam em saltos de tiras amarradas com precisão quase simbólica. Tudo nela gritava domínio — até os brincos longos e o colar justo no pescoço, como uma assinatura.







O sorriso em seus lábios era puro veneno em seda: calculado, felino, nostálgico e perverso ao mesmo tempo.

"Meu amor... você sempre vem quando eu chamo. Sempre faz o que eu quero."

Vivian sabia jogar. E jogava bem. Desde o início, ela soube como usar as habilidades dele ao seu favor — chantagens emocionais, carícias estrategicamente oferecidas, e palavras doces entrelaçadas com veneno.

"Por que não consigo me afastar dela? Sei que sou manipulado. Vejo isso com clareza... e mesmo assim continuo a obedecer. É como se eu perdesse o controle. Com todos, sou racional. Com ela... sou vulnerável."







— Meu amor… como é bom te ver — ela disse com aquela voz doce, carregada de segundas intenções. — Obrigada por vir.

— Boa noite, Vivian. Usou o velho como isca para me atrair.

— Mais eficaz do que esperar que você viesse por mim, não acha?

— E onde ele está agora?

— Dormindo profundamente. Só vai acordar amanhã. Temos a noite toda pra... matar a saudade.

— Não estou com saudade de você.

— Ah, está sim. Veio arrumado, cheiroso... gostoso. Sabia desde o início que era por minha causa. Otacílio foi só um pretexto.







— E os empregados?

— Já resolvi tudo. Só Jonas está acordado, e ele é discreto. Nada vai nos atrapalhar.

— Então todos são cúmplices seus?

— Prefiro pensar que sou uma patroa generosa. Aumento os salários, ofereço vantagens… fidelidade é uma moeda cara.

— Você sempre consegue o que quer das pessoas… seduz, engana, manipula. Cada um, uma peça no seu tabuleiro.

— Só não consigo você… inteiro. Me humilho, me entrego, e mesmo assim você não me ama.








— Amor? Você já sentiu isso de verdade por alguém?

— Por você! Hugo, tudo o que faço é por nós dois. Desde que te conheci, só amei você.

— Eu não amo você.

— Ama sim. Posso ver nos seus olhos. Nós sempre voltamos um pro outro… como se estivéssemos amarrados por algo mais forte.

— Se fosse amor, não haveria essa prisão. Amor liberta… e com você, eu me sinto acorrentado.







Vivian se aproximou, roçando os dedos no peito dele.

— Ah, Hugo… que saudade de ser tocada por você… de sentir seu corpo contra o meu… de ser possuída como só você sabe fazer. Estou louca de desejo desde o momento que te vi.

Hugo prendeu a respiração. O calor do corpo dela, o perfume, as memórias...

— Tesão. — Ele murmurou, com os olhos sombrios. — Sim, eu senti. Muitas vezes. Mas isso nunca foi amor. E talvez… talvez seja só isso que restou entre nós.







Vivian estava de pé, oferecendo-se por inteira a ele. A silhueta dela parecia esculpida à meia-luz. Os cabelos ruivos, lisos e soltos, caíam sobre os ombros com um brilho de cobre sob a iluminação suave da noite. Havia algo perigoso naquela beleza — uma promessa vestida de provocação.

— Então o que estamos esperando? — sussurrou ela, se aproximando com um sorriso atrevido. — Tira a minha roupa, eu sou sua!







A voz saiu quente, envolvente. Vivian avançou e começou a desabotoar a camisa de Hugo com dedos leves e experientes. O toque dela encontrou sua pele, e ele estremeceu, o corpo reagindo por reflexo, quase automático — como se ainda estivesse preso a velhos instintos.






— Vamos para o meu quarto… ou você quer fazer aqui mesmo? — ela provocou, encostando-se nele. — A piscina é aquecida.

Mas Hugo não respondeu da forma esperada. O calor que costumava dominá-lo em momentos assim não estava lá. Algo dentro dele se moveu… e não foi desejo. 






Foi desconforto. Um incômodo estranho, como um alarme silencioso. O rosto de Amanda surgiu em sua mente — o olhar dela, a força com que mantinha a própria dignidade, mesmo ferida.







Ele afastou Vivian com um gesto brusco, como se despertasse de um transe.

— Hugo??… O quêê?? — ela recuou, surpresa e assustada. Nunca o vira reagir daquele jeito.






— Nunca mais toque em mim sem a minha permissão! — a voz dele saiu firme, cortante.

— Mas eu nunca precisei pedir antes… — murmurou, atônita.

— Não temos mais nada. Nem como parceiros. Nem como sócios. Se chegar perto de mim desse jeito de novo… vai ganhar mais do que um empurrão.

— Eu não entendo… o que aconteceu com você?

— Você achou que ia tirar minha camisa, desabotoar minha calça, me deixar louco de tesão, do jeito que você sabe que eu gosto… achou que eu ia te comer ali mesmo, como tantas vezes?

— E é mentira? Você sempre esperou isso de mim. Você ama o jeito que eu te deixo louco…

— Está errada. Eu não espero mais nada de você. Eu não preciso de você. Não quero você perto, a não ser pra resolver o que me deve.

— Tudo isso… é só por causa daquele maldito dinheiro?







— Não é só o dinheiro. É tudo. A sua presença me consome. Você deseja o que não pode ter. Nunca está satisfeita. Me leva pro abismo com você e… eu não sei o que é paz desde que você entrou na minha vida.

Vivian piscou, o olhar vacilante. Pela primeira vez, parecia ter sido atingida de verdade.

— Que palavras duras… pra ouvir de alguém que você ama.

— Você fala de amor como se fosse qualquer coisa. Eu não quero o seu amor, Vivian. Acabou.






Não acabou coisa nenhuma! — gritou, a voz quebrada entre raiva e desespero. — Você não vai me descartar como se eu fosse lixo! EU NÃO SOU QUALQUER MULHER!

— Então siga o seu caminho e prove isso. Mas me deixa em paz.

— O que foi que eu fiz? Eu vou te devolver o dinheiro, Hugo. Juro que vou!

— Assim espero. Me ligue somente quando estiver com ele.

— Tem outra mulher… não tem? Você conheceu alguém. Quem é a vagabunda?!







Hugo virou-se para sair, já sem paciência. Não valia a pena responder.

— Pode ter certeza… que ela é uma vagabunda morta! VOCÊ É MEU, HUGO! OUVIU?

— Eu não tenho paciência pra isso — respondeu, sem sequer olhar para trás.








— Se não tem ninguém… então por que me despreza assim? HUGO, EU TE AMO!

Mas ele já estava longe. E ela ficou ali, sozinha. Frustrada. Perdida.
Gritando por um amor que nunca existiu.







Mais tarde, já em casa.





Hugo se viu mergulhado num silêncio denso. A noite parecia pesar nos ombros dele como se também estivesse digerindo os acontecimentos.

Estava sozinho, mas a cabeça fervilhava.

Teria, afinal, se libertado da presença nociva de Vivian? Aquela que sempre soubera envolvê-lo como um veneno doce?

Mas seria mesmo liberdade… ou apenas a troca de uma prisão por outra?

Foi impossível não pensar nela.

Amanda.

O nome ecoava baixo, como uma brisa que batia em algo trancado dentro do peito. Seria ela o motivo de sua resistência? Seria por ela que, pela primeira vez, ele dissera não?

Durante o trajeto de volta, pensou nisso repetidamente. Questionava-se, revia seus atos, confrontava seus sentimentos com uma honestidade brutal.







Já em seu quarto, encostou-se na porta fechada, tentando conter o turbilhão interno.






— Eu não posso… — murmurou, mais para si do que para o mundo. — Não posso permitir isso...

A raiva vinha embrulhada em medo. Amar era uma fraqueza que ele jamais se permitiu. Um homem como ele não podia baixar a guarda. Não agora.

“Preciso sair desta casa... o mais rápido possível. Essas pessoas… não significam nada. Nada!”



Continua...


Comentários

  1. " Eu não entendo… O que aconteceu com você pra agir dessa forma comigo?" A doida deu o golpe nele e ainda pergunta?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Se fosse só o golpe, ela fez mais coisas viu? Não é à toa como ele trata ela.

      Excluir
  2. Que bom que Amanda teve lucro, so acho que ela vai sofrer se apaixonando por Hugo mas não da pra escolher essas coisas de coração.Vivian e osso duro de roer nao e atoa que o velho esta banguela kkkkkk.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Néia! Sim, essas coisas do coração é difícil de controlar.😐
      Otacílio tá pagando todos os pecados kkkkk

      Excluir

Postar um comentário