O Poder Do Destino. Capítulo 07.

 



Essa história é fictícia e foi inteiramente criada por mim. Patrícia Leal.



Newcrest, quinta-feira.

6:30 manhã com clima agradável. 





Amanda decidiu acordar um pouco mais cedo para terminar o arranjo de flores que já havia vendido a uma cliente. Tomou seu banho, como de costume nas manhãs, e escolheu um vestido verde-claro de malha confortável. Por cima, vestiu uma blusinha rosa com botões e babados brancos. Nos pés, calçou seu tênis esportivo verde e branco — o mais novo que tinha.




Amanda foi até a garagem meia hora antes do combinado. Precisava desse tempo para terminar o arranjo de flores que prometera entregar à cliente ainda naquele dia. Sabia que, ao sair para tomar café com Hugo — conforme haviam combinado às sete em ponto —, não teria outra oportunidade. Por isso, concentrou-se em finalizar tudo antes.




"Tô tão nervosa... não devia ter aceitado sair com ele! Mas é só um café, né? E eu deixei bem claro: vamos ser apenas amigos." — pensou, enquanto mexia nas flores com os dedos inquietos.



No porão da antiga garagem, Hugo já estava pronto, apenas aguardando o horário combinado para saírem juntos. Vestia uma calça jeans cinza, camiseta branca de algodão e uma camisa xadrez preta e branca de botões. Nos pés, usava seu tênis de skatista preto — o mesmo de sempre, confortável e discreto, como ele.




Sentado na cadeira giratória, Hugo encarava o vazio com a mente tomada por pensamentos. As mãos entrelaçadas repousavam sobre os joelhos, como se segurassem a ansiedade que lhe rondava o peito.

“Será que ela vai desistir?... Acho que não. Sei que gosta de mim, apesar de tentar evitar. Ela gosta sim.” — pensava, com um meio sorriso contido no canto dos lábios.

O ambiente ao redor refletia bem o momento dele: caixas ainda fechadas em um canto do quarto, como lembranças de um passado em transição. Sobre a mesa, o computador permanecia desligado, e a luz suave do porão se filtrava pelas frestas da escada de acesso. Tudo ali parecia suspenso — uma pausa antes do próximo passo.

“Eu não consigo parar de pensar nela... Mas começaremos por uma boa amizade e depois veremos onde isso nos levará. Preciso me distrair um pouco.”

Ele respirou fundo, ajeitando-se na cadeira, tentando sufocar a ansiedade com um pouco de racionalidade. Mas, no fundo, o coração já tinha tomado partido.






"Sei que não deveria, mas não posso evitar... Ela me atrai em todos os sentidos. É bonita e determinada. Tem uma certa inocência, no entanto, já não é mais criança. É uma mulher adulta! Tudo isso é tão contraditório... Não sei bem como defini-la, mas gosto muito do que sinto. Gosto de como me sinto quando estou ao lado dela." — Hugo sorriu sem perceber ao pensar em Amanda. Ele, que não costumava ter um sorriso fácil.




— Pronto, terminei! — disse Amanda, satisfeita. O arranjo de flores brancas estava pronto.




Hugo subiu para ver se Amanda realmente iria sair com ele e, para sua surpresa, ela já estava lá.




— Bom dia, Amanda! Que bom ver você. Pensei que fosse desistir — disse ele, olhando-a com atenção. Achou-a especialmente bonita naquela manhã.

— Eu disse que ia, não disse?

— Disse, sim.

— Eu cumpro com a minha palavra. Se falei que vou, é porque vou mesmo!

— Tudo bem. Obrigado por aceitar tomar café comigo. Você está bonita.




Amanda desviou o olhar, sem jeito diante do elogio. Estava um pouco envergonhada de sair com ele. Não queria que Sarah e Pedro pensassem que havia mais do que amizade entre ela e Hugo.

— É melhor a gente ir logo. Daqui a pouco a Sarah e o Pedro vão acordar, e... eu não quero que eles fiquem perguntando aonde a gente vai.

— Certo. Então vamos agora! — concordou ele, com um sorriso discreto.




Quinze minutos depois, chegaram ao pequeno “Café Bistrô”.
Foram no carro de Hugo. No caminho, Amanda reclamou um pouco da distância, dizendo que havia duas padarias bem mais perto da casa. Mas Hugo insistiu: o lugar era especial — e o café, excelente.

De fato, Amanda adorou.
Era uma padaria pequena e aconchegante, cheia de flores.




— Chegamos! — disse Hugo, sorrindo. — Considerando a sua expressão, acho que você gostou.

— Uau!... Esse lugar é igual ao que eu e a Sarah queríamos montar! Parece mais um café com floricultura.

— E é isso mesmo. Gostou? — Hugo brincou, notando a admiração estampada no rosto de Amanda.

— Gostei! Quero ver como é lá dentro. Vamos logo, Hugo!





O lugar era simples e acolhedor. Cheio de flores e com lanches caseiros saborosos, era frequentado, em sua maioria, por moradores da região — e quase sempre estava cheio.



— Oi, bom dia! Que bom ver você aqui de novo. Hugo, não é? — A atendente o reconheceu imediatamente, cumprimentando-o com entusiasmo, sem perceber que ele estava acompanhado.

— Bom dia! Sim, me chamo Hugo — respondeu ele, de forma natural.

— O que vai pedir hoje? Você é nosso cliente especial!

— Eu gostaria de um cannoli e um café preto...

— Sem açúcar! Eu sei! — completou ela, sorrindo, como quem já conhecia bem os hábitos dele.

— Sim, obrigado.





— Hm... Com licença! Eu também quero pedir. Vim com ele.
Amanda interrompeu, incomodada com a atenção exagerada da atendente, deixando claro que Hugo não estava sozinho.

— Essa é a Amanda, minha... amiga. Trouxe ela para conhecer o Café Bistrô. Ela gosta de flores, achei que fosse gostar do lugar — explicou Hugo, de forma cordial.

— Que bom! Seja bem-vinda, Amanda. O que vai querer? — respondeu a atendente, tentando disfarçar o tom mais seco, mas não tão empolgada quanto antes.

— Lendo rapidinho o cardápio... acho que gostei do bolinho de avelã. Vou provar. E quero um café — disse Amanda, num tom neutro. — Mas quero adoçar ao meu gosto. Não gosto de café amargo.

— Pode deixar! Já preparo o pedido de vocês dois — finalizou a atendente, com um sorriso forçado.




Hugo agradeceu e conduziu Amanda até uma mesa perto da parede. Queria um pouco de privacidade para conversarem com mais liberdade.

Lá dentro, o ambiente era ainda mais bonito — e o perfume das flores preenchia o ar com leveza.




Minutos depois, a garçonete trouxe os pedidos. Eles tomaram café e comeram seus lanches em meio a um silêncio leve, quase confortável.

— O lugar é lindo, o bolinho estava gostoso... e o café, mais ou menos. — Amanda quebrou o silêncio.

— Mas...? — Hugo percebeu a inquietação escondida naquelas palavras.

— Não gostei da falta de ética profissional da atendente. Ela tava dando em cima de você na cara dura!

— Não estava, não.

— Estava sim! Até sabe do que você gosta... Eu nem sabia que você gostava de café amargo. Você é o "cliente especial" dela?

— É a quarta vez que venho aqui. O marido dela é meu cliente. A primeira vez que vim foi com ele.

— Sei não... parece que a mulher dele tá carente.

— Não sou eu quem vai suprir qualquer carência que ela tenha.
Hugo analisou o rosto dela com atenção. “Está com ciúmes... tão cedo assim? Achei que levaria mais tempo pra conquistá-la... Ela é bonita.”




— Mas... você pode fazer o que quiser. Se ela dá em cima de você ou não, não é problema meu. Não tenho que ficar dando palpites na sua vida... É só que... ah, deixa pra lá.

Amanda tentou disfarçar, mas o ciúme dançava no tom da sua voz.

— Não quero deixar pra lá. Quero que termine o que começou a dizer.

— Não tem importância.




— Tem sim. Eu disse que gosto de você. E é a sua sinceridade que me faz te admirar. Fala, por favor. — Hugo insistia. Queria saber até onde ela iria. Queria clareza para saber se podia dar o próximo passo.

— Então tá... depois não reclama.

— Manda.

— Eu não sou a pessoa certa pra falar disso... Na verdade, tô longe de ser. Mas se envolver com pessoas comprometidas não é nada bom. É perda de tempo e ainda mancha a reputação de qualquer um. No seu caso, nem tanto... mas no dela, vai pegar muito mal.

— Por que no meu caso não?

— Porque você é homem e solteiro. Ela é uma mulher casada!

— E esposa de um cliente meu... realmente, não valeria a pena. Mas eu não estou interessado nela.

— Que bom!... Pra você, é claro. — Amanda desviou o olhar.

……
Hugo ficou em silêncio. Ele não teve a resposta que queria. Em vez de uma confissão, recebeu um sermão sóbrio sobre reputações e triângulos amorosos.

Mas ele percebeu algo mais ali — mágoa. Amanda carregava marcas. Nas palavras dela havia uma espécie de dor antiga, como se estivesse revivendo o próprio passado. Hugo entendeu que ela se preocupava com a mulher, não por ciúme apenas, mas por ter vivido algo semelhante. Ela sabia o peso de se envolver onde não devia — e agora não queria repetir erros, nem que outros os cometessem.



Quando terminaram de comer, Hugo pagou a conta, agradeceu com educação e saiu com Amanda. Do lado de fora, o sol começava a esquentar as ruas com suavidade.

— Amanda, vamos nos sentar um pouco pra conversar?

— Sobre o quê? A gente já conversou, não já?

— Sobre a nossa amizade. Sobre mim e você. Ou qualquer coisa que queira saber sobre mim. Pode reclamar também. O tema é livre.




Amanda concordou, e eles se sentaram em um banco perto da cerca viva coberta de flores perfumadas. Estavam a sós — nenhum cliente à vista do lado de fora da padaria. A brisa era suave, quase como se o mundo estivesse dando uma trégua.




— O que tem a nossa amizade? — ela perguntou, ainda desconfiada.

— Ainda estamos no começo dela, mas... queria te fazer uma pergunta desagradável.

— Desagradável?... Que pergunta é essa? Não abusa da confiança que tô te dando, hein?

— Não abusarei. É sobre o seu ex-namorado. Sei que disse que não tocaríamos nesse assunto, mas...

— O que você quer saber sobre o Walter? Eu não gosto de falar dele! — Amanda interrompeu, a tensão crescendo na voz.

— Eu não quero saber nada sobre ele. Só quero tirar da sua cabecinha confusa essa ideia de que sua reputação está manchada porque aquele imbecil te enganou.





Amanda o encarou, surpresa. Esperava um julgamento, não defesa. Achou que ele a questionaria por ter perdoado o enganador... não por ter sofrido com ele.

— Eu... — a voz dela falhou. O nervosismo apertava o peito.

— Você é uma mulher linda, doce, amável, forte e corajosa. Tem um valor inestimável. Não deixe que o erro dele corrompa quem você é. Que homem não desejaria ter você? Se ele não viu o seu valor, a culpa não é sua.



— Ele... não me enganou por tanto tempo... Fiquei sabendo depois que ele tinha outra, e mesmo assim quis continuar.

— Você gostava muito dele, né?

— Eu achava que sim... mas era só medo. Medo de ficar sozinha depois de...

— Ele foi o seu primeiro? — Hugo perguntou com cuidado.

— Foi... Eu não sabia o que fazer. Não queria que ele me deixasse naquela fase da minha vida... minha mãe estava morrendo, e os momentos que eu passava com ele me faziam esquecer um pouco o que me esperava depois. Me iludi acreditando que ele me amava como dizia. Cheguei a pensar que a gente ia se casar, e que, assim, a tristeza ia diminuir... só um pouquinho. Mas foi tudo muito pior. Ele já tinha engravidado a outra, e não tinha mais como voltar atrás.

Ela fez uma pausa. O passado era pesado demais para falar de uma vez só.

— Não é bom lembrar disso... Mas quando vi ele perto da loja, quando a gente conversou... aquela mágoa sumiu. Eu não senti nada. Nem raiva. E acho que não preciso mais sofrer por isso.




O desabafo silencioso de Amanda deixou Hugo pensativo. Por instinto, tentou tocar a mão dela — mas Amanda retraiu os dedos. Ele respirou fundo. Caiu em si.
“Não posso continuar com isso... ela já sofreu demais. Logo terei que ir embora e vou deixá-la magoada. Mais uma vez enganada, mais uma vez abandonada. Eu não sou um canalha.”




— No que tá pensando? O que pensa de mim agora? Quero que me fale a verdade, assim como eu falei pra você. — Amanda notou a mudança no semblante dele e quis saber.

— Estou pensando em como eu queria ter uma conversa com seu ex-namorado. Preciso conhecê-lo.
Hugo desviou o olhar por um instante, antes de voltar os olhos para ela.
— E quanto ao que penso de você… continua o mesmo. Gosto de você. É uma mulher maravilhosa. E quero que encontre a sua felicidade. Você merece. É uma boa pessoa.

Amanda o olhou de um jeito diferente. Havia algo nos olhos dele que fazia tudo parecer verdadeiro — uma espécie de ternura que ela não conhecia. Talvez ele merecesse sua confiança.

— Você disse que perdoou ele. Por quê? — Hugo perguntou, antes de se levantar para chamá-la.

— Porque não devemos guardar mágoas. Elas viram doenças. Fazem mal pra alma, afetam a mente... e o corpo também. Eu também tive culpa no que aconteceu. Me deixei enganar e usei o Walter como saída pro meu mundo sombrio. Mas ele nunca foi a saída... Nada conseguiu diminuir a minha dor. E hoje... eu nem consigo mais chorar quando lembro de tudo que passei.

Hugo abaixou um pouco a cabeça, tocado pela profundidade da resposta.

— Ainda dói. E sempre vai doer, não é? Afinal... era a sua mãe.

Amanda apenas assentiu, os olhos fixos em alguma flor perdida na cerca viva.

— Sim…




Hugo aceitou a derrota. Ele não seria mais um a se aproveitar da fragilidade de Amanda. Levantou-se em silêncio. Já era hora de voltar para casa.

Estendeu a mão para ela, com um gesto calmo, quase solene.




— Vamos. Já está na hora de voltar.

Amanda o olhou, surpresa. Ele continuava sendo atencioso, respeitoso, gentil. Em nenhum momento tentou se aproximar com segundas intenções.

— Vem, Amanda. Eu te ajudo a levantar... Segura a minha mão.

Ela ficou em silêncio. Observava-o com atenção, os olhos demorados nos traços do rosto dele.
"Como ele é bonito... Eu pensei que ia ser chato vir aqui hoje. Apesar de ser tão diferente de mim, ele foi legal comigo... nem deu em cima. Acho que não sou o tipo dele mesmo. Melhor assim. Nunca ia dar certo... Mas podemos ser amigos? Sim... podemos ser bons amigos."




Ela segurou a mão dele.

E naquele instante, uma corrente invisível percorreu seu corpo — morna, intensa, reconfortante. Era como se todas as melhores sensações se concentrassem ali, naquele simples toque de dedos.





Os olhos dos dois se encontraram e ficaram assim, presos por alguns segundos. Nenhuma palavra foi dita, mas algo nasceu ali. Algo que nem eles souberam nomear.

“Eu só queria abraçá-la e protegê-la, de tudo e de todos… É tão linda e tão doce… Não consigo ignorá-la. Não sei como me afastar dela. No momento, só quero ficar assim.” — pensou Hugo, lutando consigo mesmo.

— Tá bom... vamos pra casa. — Amanda quebrou o silêncio, tentando disfarçar o nervosismo.
Era como se seu coração estivesse pulsando na palma da mão.







— Não se preocupe com o Pedro e a Sarah. Eles não vão se incomodar porque saímos juntos.

— Incomodados? Acho que não... mas a Sarah fala umas besteiras às vezes.

— É mesmo? O que ela anda dizendo?

— Nada, não! Não quero falar disso agora. Vamos?

— Tudo bem, vamos.





Hugo a levou de volta. Como um cavalheiro, abriu a porta do carro para ela entrar. O motor ligou, e o silêncio do caminho era confortável, quase cúmplice.




Dezessete minutos depois, chegaram. Eram dez da manhã.





A casa estava mais cheia, pois Luísa, amiga de Amanda desde a adolescência, havia acabado de chegar. Ela vestia uma calça jeans branca e uma blusa de lã amarela de mangas longas. Calçava um tênis de skatista nas cores preto e cinza. Trazia apenas uma mochila com itens pessoais, já que Amanda tinha adiantado e levado as roupas que Luísa usaria durante a estadia.

Luísa era morena, tinha cabelos castanhos cacheados de comprimento médio, olhos castanhos e o corpo bem distribuído: coxas grossas, cintura fina e um bumbum de dar inveja a qualquer uma. Tinha a mesma altura de Amanda e Sarah, e pesava cerca de 70 kg. Era bem-humorada, de bem com a vida, e não se apegava facilmente a relacionamentos amorosos. Luísa gostava de se divertir sem compromisso.

— Eu prometi ajudar na reabertura da floricultura, que vai ser amanhã. Era pra eu chegar mais tarde, mas como não precisei trabalhar hoje, vim logo cedo. Tava com saudade dela.
— Mas ela passou o final de semana com você e já tá com saudade? — Sarah perguntou, sorrindo.






— Claro que sim! Amanda é bem chata, mas é a minha amiga chata que eu amo.
— Entendo, ela fala a mesma coisa de você!
— Sério?? Que amiga, hein? — riu. — Ahaha!






— As duas são assim desde que se conheceram — comentou Pedro.
— Olha, parece que chegaram! — disse Sarah, ao ouvir o barulho do carro entrando na garagem.
— Mas, afinal, quem é esse Hugo? Algum boy que ela tá ficando? — Luísa perguntou curiosa.
Sarah deu um sorriso e respondeu:
— Não! Eles são só amigos. O Hugo mora no porão aqui de casa, o Pedro alugou pra garantir um dinheirinho extra.
— Claro! Quanto mais dinheiro, melhor, né?





Lá fora, Amanda e Hugo pararam por um momento antes de entrar em casa.




— Não vai entrar? Talvez você queira falar com o Pedro — Amanda o convidou. Ela queria passar mais um pouco de tempo com ele, antes que ele resolvesse ir para o quarto trabalhar.
— Não, não preciso falar com ele agora, mas obrigado por me convidar.
— Obrigada por hoje. Gostei de tomar café naquele lugar e… gostei de conversar com você. Não foi como pensei que ia ser.
— E como você pensou que seria?
— Achei que ia ser bem chato e que… — Amanda ponderou as palavras. — Bem, é melhor não falar tudo pra não estragar o dia. Mas obrigada. Foi bom sair com você.
— Eu também gostei de sair com você. Conversamos e tiramos algumas dúvidas, não é?
— Sim. Você é um pouquinho menos chato do que eu pensava — Amanda brincou.
— Só um pouquinho? Tudo bem, considerarei isso um elogio. Mas… a conversa sobre o seu ex-namorado não era necessária. Me desculpe.






— Você só tentou me ajudar.
— Eu consegui?
— Conseguiu, sim. Hugo… você foi muito legal hoje. E eu… eu… — Amanda hesitou. Não sabia se expressar. Tinha receio de se abrir para uma nova amizade. O que sentia a deixava confusa — não era apenas amizade o que queria.
— Fala, Amanda. Não precisa ter vergonha de dizer o que sente. Estou aqui como seu amigo. Um bom amigo.
— Claro… amigo — ela respondeu, e a palavra a deixou, de alguma forma, triste. — Eu não me sinto rebaixada por ter tido um relacionamento com o Walter, mas… se eu pudesse fazer diferente no passado, teria feito. Obrigada por conversar comigo. Eu pude ver que tava enganada a seu respeito. Até posso gostar de você como amigo agora.






— Você vai ter a minha amizade. Serei o amigo que estará ao seu lado para o que precisar. Porque gosto de você.
Hugo estava perturbado com o que sentia por Amanda.
“De uma forma que não consigo entender, eu a quero para mim… mas não posso fazer ela sofrer. Não quero que ela sofra por mim. Não, eu não quero!”
— Eu… também gosto de você — ela falou baixinho, olhando nos olhos dele.
— Já que gostamos um do outro e seremos bons amigos, podemos sair juntos outras vezes, para tomar café?
— Hmm… não sei. Vai me convidar de novo pra tomar café?
— Podemos sair pra almoçar, jantar, fazer compras… essas coisas que amigos que moram juntos fazem.
— Não moramos juntos!
— Moro no porão da sua casa.
— É…




Estranhando a demora de Amanda, Luísa, ansiosa, não quis mais esperar. Saiu para procurar a amiga — e, claro, também estava curiosa para conhecer o tal morador do porão.
Pedro e Sarah a acompanharam até o quintal.

Amandaaa! É assim que você trata a sua amiga? Estou aqui te esperando já faz um tempão! — gritou Luísa com um tom teatral, carregado de afeto.




 

Luísa?!… Mas você só vinha à noite! Eu não sabia que já tinha chegado! — Amanda respondeu, surpresa e com um misto de alegria e preocupação.

— Eu não tinha nada pra fazer, então resolvi vir logo. Quer que eu volte?

Não! Para com isso, Luísa! — Amanda deu um risinho nervoso. Gostava da amiga, precisava da ajuda dela para a reabertura da floricultura, mas agora sentia-se ligeiramente invadida.






Luísa olhou para Hugo e sorriu de orelha a orelha. Seus olhos se acenderam ao vê-lo — e Amanda sentiu um calor estranho no peito, um incômodo conhecido… Ciúme.

— Então esse é o Hugo?







— É, sim. Hugo, essa é a Luísa. Luísa, esse é o Hugo — Amanda fez a apresentação rápida, tentando não demonstrar sua irritação.

— Prazer em conhecer você, Hugo! — disse Luísa, com um olhar malicioso e um sorriso que dizia mais do que as palavras.

— Igualmente, Luísa — respondeu ele, no mesmo tom ambíguo.
Amanda franziu o cenho discretamente. Aquela troca de olhares estava lhe incomodando mais do que deveria.

Hugo, com sua percepção aguçada, entendeu rapidamente o jogo. Reconhecia expressões, entonações, posturas. Luísa era do tipo que deixava claro o que queria — e o que queria agora era se divertir. Mas, para ele, tudo soava superficial. Era só desejo, apenas atração física. Nada que o abalasse. Ainda assim, respondeu com leveza, mantendo a pose.

— Nossa, benza a Deus! Tem vaga no porão? — brincou Luísa, sem cerimônia.

Amanda mordeu a língua. Queria rir, mas não conseguiu.
"Sabia que ela ia fazer isso. Nunca muda. Dá em cima de todo mundo!" — pensou, sentindo o incômodo crescer.

— Infelizmente, não! — disse Hugo com um sorriso de canto de boca — Mas tenho certeza de que a Amanda, como uma boa anfitriã, arrumaria um espaço mais confortável para você.

"Infelizmente?! Mas que safado! Já tá todo fácil pra ela?! Ah, quer saber… não tô nem aí!" — Amanda desviou o olhar, fingindo não se importar, sem perceber o tom irônico da resposta dele.





Enquanto isso, Sarah observava tudo com olhos críticos. Aproximou-se de Pedro e sussurrou:

— Essa Luísa é muito saidinha pro meu gosto…

Pedro riu baixinho e respondeu no mesmo tom:

— Não se preocupa, ela é do tipo que ladra, mas não morde. A Amanda sabe lidar com ela.

— Espero que ela não venha com gracinha pro seu lado. Eu não tenho a paciência da Amanda, não!

— Imagine! Não sou o tipo dela… E mesmo se fosse, já sou casado!

Aham, sei…





— Preciso trabalhar, mas foi um prazer conhecer você, Luísa! Acho que almoçaremos todos juntos hoje. Até mais tarde! — disse Hugo, voltando-se para o grupo.

— Mas já vai?

— Sim.

— Que pena. O prazer foi todo meu, Hugo. Até mais tarde!

Amanda respirou fundo. Aquela troca toda havia lhe tirado o sossego.

— Nós temos que entrar também, né, Luísa?

— É, sim, Amanda! — respondeu a amiga, sorrindo como se não tivesse percebido nada… ou talvez tivesse percebido tudo.




Continua...



Comentários

  1. Amanda nem disfarça o Ciumes. Se ilude muito rapido.

    Em relação a guardar magoas Amanda tá certa, afeta mesmo a mente.

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    1. Oi, Erick! Sim, ela está se apegando rápido demais.
      Eu também penso dessa forma, o rancor adoece a mente.
      Obrigada!

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