Um Amor em Windenburg 28.
Jean chega antes de André Gusmão, e acha estranho encontrar Helena e
Joel parados fora de casa.
Joel anda até ele.
— Tio Jean! Você está aqui!
Joel o recebe com um abraço carinhoso.
— Eu estava com saudades de você! Ainda bem
que veio logo.
— Eu vim ver você
Joel.
"Meu filho... é tão bom te abraçar, sempre foi... Não vejo a hora
de poder viver com você." — Jean pensa
ao abraçar o filho.
— Tudo bem com
você, Joel? O que faz aqui fora, com a sua mãe?
— Estamos esperando o amigo da mamãe.
— É mesmo? E quem é
esse amigo da mamãe?
— Eu ainda não conheço, mas o nome dele é
Sr. Gusmão! Mas a mamãe o chama de André. Porque esse é o nome dele também.
— Então vai patinar
com o amigo da mamãe? Você prefere andar de patins com esse tal de "André
Gusmão" em vez de mim?
— De jeito nenhum!
Mas a mamãe disse que é um encontro, então temos que ir.
— Um encontro?
Helena percebe que as perguntas de Jean não eram apenas para Joel, e sim
dirigidas a ela.
Então ela resolve
esclarecer o que estava acontecendo. Helena limpa a garganta antes de falar com
o filho, mas tentando fazer com que Jean entendesse. — Não é um encontro,
querido.
— Mas a mamãe disse
que era um encontro com um amigo que ela gosta. Bem desse jeito!
— Isso significa
que vamos sair com um amigo que eu gosto, não é um encontro romântico. — Helena
tenta explicar.
— Mamãe tem razão,
ela não disse encontro romântico, mas o tio Heitor disse que eles formam um
belo par, e minha tia Jena gosta muito dele.
— Joel! Eu não me
importo com o que os seus tios acham do André, ele não é um par para mim! —
Helena responde tentando disfarçar o nervosismo.
— Interessante!
— Você sabia que
vamos mudar de casa? Já tem o nosso endereço? Porque eu quero que você nos
visite tio Jean.
— Eu não sabia
Joel, me conte mais.
Helena está
beirando ao desespero, mas não pode fazer nada para calar o filho.
— Mamãe disse que
nos mudaremos na sexta-feira, já empacotamos algumas coisas, eu vou poder ter
um balanço só para mim!
— Você está feliz
com a mudança?
— Eu amo a mamãe, e
aonde ela for eu vou. Estou feliz, mas quero que você nos visite também.
— Eu vou visitar
vocês, meu... — Jean para e respira, ele quase o chama de filho — querido...
Não se preocupe, vou vê-lo sempre que eu puder, e quando eu não puder ir, nos
falaremos pelo celular do mesmo jeito que fazemos todos os dias.
Jean se levanta e
olha para Helena, tentando disfarçar o ciúme que sentia. Ele dá um sorriso
irônico.
— Olha, mmm... eu
estava distraída quando estávamos conversando ao telefone e ele perguntou, e eu
meio que...
— Disse sim?
— É...
— Tudo bem, Helena.
Parece que vocês vão se divertir muito.
— Tudo bem
mesmo?...
— Claro. A final,
quem sou eu para opinar sobre alguma coisa? Sou apenas um conhecido seu, nada
de especial.
Helena engole seco.
— Mamãe, por que o
tio Jean não pode vir patinar com a gente? — Joel pergunta inocentemente.
— Boa pergunta. —
Jean espera para ver a resposta de Helena.
— Ah! Bem... Jean
tem outros planos para hoje.
— E também não fui
convidado. Nos seus planos não incluem uma quarta pessoa.
— Então da próxima vez podemos ir com o tio
Jean, mamãe? Por favor? Por favor?
— É mamãe, vamos
marcar?! E Joel, sempre que quiser me ver, é só ligar. Estarei aqui antes que
você pisque.
Não tarda muito, e André Gusmão chega. Ele estaciona o seu carro ao lado
do carro de Jean.
Ele observa Jean ao
lado de Helena, mas não se intimida.
— Olá Helena. Você está linda, como sempre.
— Oi. É bom ver
você, André. E obrigada!
André olha para
Joel e o cumprimenta. — Você deve ser o Joel! Prazer em conhecê-lo.
— Olá, Sr. Gusmão.
Mamãe disse que você é um cara muito legal, ela gosta de você, e meus tios
Heitor e Jena, também gostam.
— Sério? Que bom,
já tenho pontos a meu favor. Sua mãe é uma pessoa maravilhosa. — André se
endireita e olha para Jean.
— Não acredito que nos conhecemos. André
Gusmão.
— Jean Martinez.
— Eu sei quem você
é. Quem não conhece o famoso e implacável empresário, Jean Martinez?!
— Engraçado. Eu
nunca ouvi falar de você. — Jean responde em um tom seco e frio.
— Estou magoado. Helena nunca comentou
sobre mim? — André responde ironicamente.
— É que, eu ainda
não tive uma oportunidade... — Ela responde quase se engasgando.
— Entendo, minha
querida. Não nos conhecemos há muito tempo, mas nos tornamos amigos especiais.
Jean olha para ele
e fica em silêncio.
— Eu acho melhor a
gente ir! Vamos André?
— Certo. Prazer em
conhecê-lo, Jean. Até a próxima.
— Para onde vocês
estão indo exatamente?
— Parque Flor da
Magnólia, para andar de patins e comer algumas besteiras. Eles não disseram?
— Sim. Eu só queria
confirmar com você, Sr. Gusmão. Espero que você devolva Joel e sua mãe
inteiros. — A voz de Jean é baixa, mas soa quase como uma ameaça.
— Ambos estão
seguros comigo. Pode apostar. Se você precisar de uma verificação de
antecedentes criminais, peça ao Heitor!
— Heitor vai fazer
uma recomendação brilhante, tenho certeza. Mas também tenho certeza de que meus
detetives podem desenterrar alguns esqueletos do seu armário.
— Talvez sim. Na
verdade, eu adoraria a visita de um pessoal especializado para fazer uma
limpeza. — André sorrir, e chama Joel para acompanhá-lo até o carro.
— Tchau, tio Jean! Cuidado com os
esqueletos, são assustadores!
— Eles não me
assustam! E, Joel... divirta-se, mas cuide da sua mãe, fique de olho em tudo,
tá bom? — Joel balança a cabeça confirmando.
— Eu já vou indo...
— Está ansiosa para
o seu encontro?
— Não é um
encontro!
— Vocês parecem bem
próximos. Já tiveram outros além desse?
— Podemos conversar outra hora? Eu preciso
ir agora.
— Então já teve...
Pode ir, não vou atrasar mais o encontro com seu amigo especial.
— Jean... Somente
você é especial para mim. André é apenas um bom amigo.
— Tudo bem, me desculpe. Não posso cobrar
nada de você, eu só... Você pode ir tranquila.
— Obrigada. Vai
estar aqui quando eu voltar?
— Não. Eu preciso
resolver algumas coisas, só passei para ver o meu filho, e... Pode ir Helena,
não os deixem esperando.
— Até mais, então.
Meia hora depois,
estavam no "Willow Creek Park".
Helena e André,
estavam tendo dificuldades para se equilibrar nos patins, mas Joel estava indo
bem.
— Isso não
costumava ser tão difícil! — Helena reclama.
— Eu domino a arte
de patinar, só estou indo devagar para não deixar vocês envergonhados. — André
inventava uma desculpa.
— Ah tá! Dá pra
perceber o quanto você é bom nisso. Pelo menos o meu filho está se divertido!
Algumas
escorregadas e quase tombos depois, os três deram uma pausa para comer alguma
coisa.
— Está se
divertindo Joel?
— Muito, Sr.
Gusmão! Esse encontro tá muito bom, quando eu chegar em casa vou fazer um
desenho de hoje.
— É mesmo! E que
tal um tema?
— Qual?
— Você pode
desenhar minha lápide e escrever: “Morreu pelas mãos de Jean Martinez."
— O que é uma
lápide?
— André! — Helena
chama a atenção dele — Depois eu explico para você Joel, mas não leve a sério o
que ele falou.
— Tá bom, mamãe.
Posso ir brincar de pirata?
— Claro meu amor.
Vai lá!
— André, o modo
como as crianças entendem as coisas é diferente dos adultos, que somos nós! E
você está exagerando, Jean não é tão cruel assim.
— Ah é? Eu aposto
que a essa altura todos os meus segredos mais obscuros estão sendo expostos ao
mundo, cortesia dos detetives particulares de Jean Martinez.
— E você tem tantos
segredos a esconder? Por a acaso cometi um erro quando disse sim para esse passeio? E ainda trouxe meu filho comigo.
— Vai saber quando
ouvir as sirenes. Tenho certeza de que ele vai me prender, se encontrar alguma
coisa que não goste.
— André! Sério?...
André Gusmão se diverte
com Helena.
— Sabe Helena, nós
podíamos andar abraçados, fingir que somos um casal.
— Eu não sei...
acho que não é uma boa ideia. Lembra que o Jean pediu para o Joel me vigiar e
depois contar tudo para ele?
— Eu não tenho
medo... Tá bom, talvez um pouquinho só, mas vale a pena um soco na cara se você
me der um beijo.
— Sr. Gusmão, pare!
Somos amigos, lembra?
André suspira
lamentando-se — Eu lembro sim, e percebi que há algo rolando entre vocês. Ele
não te superou. Me conta o que aconteceu?
— Aconteceram
muitas coisas, nós... conversamos, brigamos e estamos tentando nos entender. —
Helena não queria contar para André, o que realmente tinha acontecido, não
naquele dia.
— Eu soube da
reunião no hotel dele, a que você estava lá.
— Eu prefiro não
falar sobre isso com você...
— Eu pensei que
fossemos amigos confidentes. Você me magoa Sra. Leão. — André brinca com
Helena.
— Desculpe André, é
que aconteceram coisas bem fortes naquele hotel, uma delas foi meu ex noivo
tentando me ter à força, mas eu vou te mandar o relatório completo depois, por
escrito, eu prometo!
— Eu fiquei
sabendo, mais ou menos... As notícias voam, você sabe como é o mundo das
fofocas.
— Então entende por
que não quero falar sobre o assunto agora?
— Sim.
— E quanto ao
assunto da paternidade? Você já tem uma data certa para contar a ele?
— Eu...
— Olha, eu sei que
é difícil para você, deve doer bastante mexer com coisas do passado, você o
amou e desse amor nasceu um filho..., mas isso não dói tanto quanto não contar?
Quero dizer, as pessoas pensam que você é do tipo que sai por aí destruindo
corações e que sai com tanta gente que nem consegue saber quem é o pai do seu
filho. Se você confessasse tudo e todos soubessem que na verdade ele é o fruto
de uma história de amor...
— As pessoas pensam
isso de mim?...
— As pessoas não
conhecem a mulher maravilhosa que você é, eu conheço e torço muito por você...
Eu queria te ver bem, sabe?...
— Não se preocupe,
André. Não me importo com o que eles pensam a meu respeito, eu sei quem eu sou.
Apesar de ser uma ex milionária deserdada, renegada pelo pai, e mãe solo.
— Bem... eu admiro
muito você, te conheço e... você não precisa ser mãe solo. Quero dizer, estou
bem aqui, não estou?
— André, você acha
que nós dois...?
— Daríamos certo?
Se você quisesse, daríamos sim!
André beija Helena
de surpresa, ela fica imóvel sem acreditar no que ele estava fazendo.
Helena o afasta
delicadamente, ela não queria que ele ficasse magoado, pois gostava muito da
amizade que os dois tinham.
— André...
— O quê? É só você querer que eu já vou
buscar o anel da família.
— Um verdadeiro
cavalheiro. Estou emocionada, mas...
— Você não quer! Eu
sei, pude sentir no seu beijo, na verdade... eu que te beijei. Me desculpe! Não
vou fazer isso de novo.
— Tudo bem, Sr.
Gusmão. Ainda somos bons amigos?
— É claro que
somos. Pode contar comigo para o que precisar.
Joel brincava distraidamente, não percebeu nada acontecendo entre sua
mãe e o amigo dela.
Depois da tentativa frustrada de beijar Helena, André a convida para
conversar sentados.
— Eu preciso te contar uma coisa, já que
somos bons amigos, você precisa saber em primeira mão que, eu vou me mudar.
— Mudar? Para onde?
— Para uma casa
menor, mais simples em um bairro de classe média baixa.
— Nossa, não é nem
um bairro de classe média, é média baixa! Mas por que essa mudança tão
repentina? Você vive bem na mansão Adams.
— Eu tive uma
discussão com meu pai, ele está pressionando o Heitor. Disse que não me quer na
família, de forma alguma. Ele quer que o Heitor me expulse de casa, ou isso ou
prometeu fazer uma guerra familiar.
— E eu tenho
certeza de que o Heitor não concordou com isso! Ele se preocupa com você, e não
vai te abandonar.
— Você está certo, mas meu pai é teimoso.
Ele vai tentar fazer Heitor comer o pão que o diabo amassou... Ele ainda está
chateado com os 20 milhões que perdeu com a empresa do Fernando Marques.
— Uau! Eu não sabia que eram tantos milhões
assim, o seu casamento poderia ter sido muito lucrativo para ele.
— Pois é, mas eu
conheci Marcos que na verdade, era Jean, engravidei e não deu para casar com o
Fernando, e quer saber? Eu sou muito agradecida por não ter me casado com
aquele idiota, não há um dia sequer que eu não agradeça a Deus por ter me dado
o meu filho. Mas agora o meu pai quer que eu tire o sobrenome dele, vou ter que
mudar para... nem sei ainda.
— E o que você acha
de... sei lá, "Sra. Gusmão?" Soa muito bem.
— André?... —
Helena rir.
— Se você quer sair
da casa do Heitor, então tudo bem, mas você deveria ir para um lugar mais
seguro. Você verificou as estatísticas de crime nessa área? Sabe que tem um
lugar bem melhor para você ficar, não é?
— Não sei. Aonde?
— Residência
Gusmão. Não é uma mansão, mas é uma casa bem espaçosa, com 3 quartos amplos, sendo
duas suítes, Joel iria adorar a área de recreação do condomínio, o bairro é de
classe média alta, bem seguro e tem ótimas escolas.
— Obrigada por ser
tão amável e gentil, Sr. Gusmão, e por se preocupar com o nosso bem-estar, mas
eu já tenho um lugar! Apesar de ser um bairro mais simples, a taxa de
criminalidade é baixíssima, é perfeito para criar meu filho... um lugar onde eu
possa pagar, ser independente sabe?... E não vou mudar o Joel da escola, pelo
menos nisso quero manter o nível.
— Mas o que o Jean
diria sobre isso se ele soubesse que Joel é filho dele?
Helena respira
fundo quando pensa em Jean chegando na casa, e a reprovação dele em relação a
mudança dela. Ela pensa por um momento em contar para André que Jean já sabia
do filho, mas desiste.
— Eu não quero
pensar nisso agora...
— Tudo bem, mas o
que Heitor e a Jena disseram? Você já falou para eles?
— Já sim. Heitor
disse que não quer, que eu me mude, mas Jena entendeu e o forçou a concordar
comigo.
André rir ao pensar
em Jena falando com Heitor. — Não há nada que Heitor não faça por ela. Ele
nunca poderia dizer não para sua esposa.
— O amor deles é
muito intenso. É tão perfeito.
— Nunca achei que
fosse possível duas pessoas se amarem tanto. — André entrelaça os dedos com
Helena, e Joel observa tudo. — Será que um dia eu encontrarei uma mulher assim,
que eu possa amar de verdade? Uma que coloque uma coleira em mim?
— A Jena não faz
isso com o Heitor, ela é um amor de pessoa! — Helena rir bem alto com o que
André diz.
— Ele parece um
cachorrinho adestrado perto dela, é tão bonitinho de se ver. Sinto uma certa
inveja.
— Você gostaria de
ser adestrado Sr. Gusmão?
— Eu adoraria, mas
você não me quer!
— Talvez, a gente
tinha uma chance de dar certo, se eu não fosse...
— Apaixonada pelo
Martinez?
— É... Desculpe.
— Não se desculpe,
eu é que cheguei no momento errado..., mas saiba que eu a respeito muito, se
não posso tê-la como namorada, faço questão de ter sua amizade, quero estar por
perto se precisar de mim, de qualquer forma.
— Obrigada, André.
Não vou abrir mão da sua amizade, por nada.
As horas passaram,
e os três já estavam voltando para casa. André tinha estacionado o carro
próximo do parque.
Continua...
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