Um Amor em Widenburg 27.
Jean cansou de esperar que Helena contasse o que ele já sabia.
— Esperei que me contasse por conta
própria, mas já me cansei desse jogo de paciência. Eu sei que sou o pai do
Joel.
— Como?... Não sei
o que você está pensando, mas...
— Você vai continuar mentindo para mim,
Helena? Já chega!!
— Jean, deixa eu te
explicar, você está enganado!
— Eu sei que não
estou! Ele é meu filho e se continuar negando eu vou exigir um exame de DNA.
— Meu Deus... Jean,
não precisa!
— Por que você não me contou logo? Ele é a
minha cara, eu sei que você não teve outro além de mim, eu sei de tudo que
aconteceu com você depois que me deixou em Windenburg. Já que você não quis me
contar, eu investiguei a sua vida, o que fez e o que deixou de fazer. — Helena
treme com o olhar dele, ela não conseguia dizer nada. — Você não se casou
porque Fernando Marques descobriu que estava grávida, e desde então não teve
outra pessoa em sua vida, sem contar que o garoto tem sete anos, o mesmo tempo
que passamos separados, eu fiz as contas com a data do nascimento dele. Diga
Helena, ele é meu filho?
— Ele...
— Pelo menos uma
vez na vida tenha coragem de falar a verdade, Helena!
— Ele é... seu filho.
— Eu sei, já fiz o
exame de DNA.
— Você fez? Como?
— Amostras de
cabelo e saliva, a medicina está bem avançada.
— O que você vai
fazer agora? Vai tirar o meu filho de mim?
— Que tipo de
pessoa você pensa que eu sou, Helena?... Hoje mesmo acordamos juntos, eu disse
que te amava e pedi você em casamento... Eu sempre fui verdadeiro com você, mas
você mente o tempo todo! Você não me quer na sua vida.
— Não é verdade...
— Se não é verdade,
por que alugou essa casa? Você acha que eu iria morar aqui com você e o Joel?
Essa casa não é nem de longe parecida com uma das minhas, nem mesmo um quarto
de hotel é tão desconfortável e pequeno! O meu filho não merece viver nesse
lugar, eu posso dar tudo para ele... Se você não me quer, não quer o que eu
tenho para oferecer, é escolha sua, mas ele vai ter!
— Então você vai mesmo tirar ele de mim?
— Eu nunca o
tiraria de você!... Você me deixa louco, estou no inferno e no céu ao mesmo tempo!
Eu não sei mais o que fazer para que você entenda o que eu sinto, o que eu
quero para nós três.
— Jean... você é
tão instável, como quer que eu me sinta segura com você falando desse jeito? —
Helena se esforçava para conter as lágrimas que queimavam em seus olhos.
— Eu não quero nada agora, na verdade, a
única coisa que penso em fazer nesse momento é abraçar meu filho... sem medo,
sem me esconder, sem anseios. Eu sou o pai dele, esperei pelo momento certo
para dizer a ele que eu sou o pai... pretendia que você falasse junto comigo,
mas você não quis! Todo esse tempo amando aquele menino, olhando para ele e desejando
que ele fosse o meu filho... E depois de saber que ele era mesmo, como doía
abraçar, conversar com ele as escondidas, tudo para não te magoar, para que
você não se sentisse insegura.
— Por favor, não
fala nada agora, você vai confundir a cabeça dele. Como ele vai entender que eu
e você...?
— Você tem razão,
pelo menos nisso. Ele vai ficar confuso... Joel é um menino precioso, eu não
quero fazer meu filho sofrer... Tanto tempo perdido, eu poderia ter dado tudo a
ele.
— Não foi culpa
minha...
— Vou voltar para
New Crest. Você tem até o final da semana para contar a verdade para todos.
— Como?...
— Simplesmente
contando a verdade! Me chame se quiser apoio, estou ansioso por esse momento.
Jean sai batendo a
porta, entra no seu carro, sai cantando pneu no asfalto, fazendo um barulho
enorme.
"Eu só queria um pouco de paz... íamos ficar bem aqui, sem ter de
precisar nos esconder de ninguém, pelo menos até eu ter certeza de que poderia
contar a ele, mas agora tudo foi por água abaixo, ele já sabe que eu menti pra
ele, já sabe que é o pai do meu filho."
Helena andou pela cidade sem pressa e sem destino, apenas para
esclarecer as ideias. Já eram 18:00 horas e ela chega em casa, a família estava
reunida na sala assistindo a uma sessão de comédia.
"Esqueci que hoje é a noite das guloseimas!"
Helena chega, cumprimenta a família e se senta rapidinho para não
atrapalhar, as crianças estavam se divertindo e rindo muito com a comédia que
passava na tv.
— Heitor, Jena... nós podemos conversar? —
Helena queria contar sobre a casa que alugou, ela sabia que Heitor não
aprovaria, mas tinha esperanças de que Jena entenderia.
— Claro. Algum
problema, Helena? — Jena pergunta, pelo tom nervoso de como Helena falou, ela e
Heitor já sabiam que alguma coisa de errada estava acontecendo com ela.
— Não. Mas vamos
conversar em outro lugar, eu não quero atrapalhar a diversão dos meninos. — Ela
disfarça, pois não queria que Joel ouvisse a conversa.
Os três vão para um outro cômodo da casa, uma academia da família que ficava ao lado da sala de tv.
— E aí? Parece que há algo incomodando você. — Jena fala preocupada.
— Eu vou me mudar.
— O quê? Para onde? — Heitor pergunta boquiaberto, sem querer acreditar no que Helena acabou de dizer.
— Foundry Cove. É uma casinha de tijolinhos, precisa de uma reforma, uma boa pintura, mas eu quero morar sozinha.
— Você não pode fazer isso. Joel adora morar aqui. — Heitor não aprova a mudança da prima.
Helena solta um
longo suspiro antes de falar, ela pensou em tudo que aconteceu nos últimos
dias, no reencontro de seu amor do passado que é pai do seu filho, na discussão
que teve com o seu pai, na pressão que Jean está fazendo para que ela conte
sobre eles, e agora que ele descobriu que é o pai do seu filho. Mas ela decide
não contar nada, por enquanto.
— Sou muito grata
por terem me dado um lar, por me apoiar quando meu pai me expulsou, por cuidar
do meu filho e principalmente por amá-lo, mas desde que saí de casa, sempre
tive uma vida fácil com vocês e eu sei que não posso viver assim para sempre,
eu quero poder cuidar da minha própria vida, ter uma casa só minha. Viver no
mundo real de agora, entendem?
— Helena, nós
podemos comprar uma casa para você, era só ter falado que queria e... — Heitor
é interrompido por Jena, ela olha para ele que logo entende.
— Nós entendemos.
Conquistar sua vida, sua casa por seus próprios méritos, é importante para
você, não é? — Jena entende o que Helena os queria dizer.
— Sim. Estou
finalmente pronta para seguir em frente... Obrigada por serem compreensivos, generosos
e amorosos comigo e com o meu filho. Jamais poderei agradecer o suficiente.
— Mas... Não acho
que seja seguro. Temos uma dinâmica familiar tão boa aqui, por que mudar isso?
Você vai levar o nosso Joel? — Heitor fala com tristeza.
— Heitor... pense
em como ela se sente dependendo de nós para tudo. Ela deve se sentir presa.
— Mas... — Heitor não se conformava.
— Apoio sua
decisão, Helena. Meu marido também... Heitor só está com medo de que você se
afaste de nós, mas eu sei que isso não vai acontecer.
— Nunca! Vocês são
minha família, e eu jamais me afastarei de vocês, e quanto ao Joel, ele vai
poder vir aqui quando quiserem, vai poder dormir de vez em quando, passar os
finais de semana. Não vou tirá-lo de vocês, são parte de nossas vidas.
— Tudo bem... Eu não gosto da ideia, mas...
se você realmente tiver que ir, eu não vou te impedir.
Helena sorrir e abraça os primos amorosamente.
— Eu amo vocês dois. Meu irmão e vocês,
foram nossos anjos da guarda. Obrigada por tudo.
— Ei, você não vai
pedir demissão também né? — Heitor
brinca com a prima.
— Claro que não!
Vocês me ensinaram tantas coisas... Caramba, vocês me ensinaram a ser mãe. Não
há muitas pessoas no mundo tão altruístas quanto vocês dois.
— Tudo bem, mas se
precisar ou quiser voltar, será sempre bem-vinda de volta, as portas estarão
abertas, não importa o que aconteça. — Jena finaliza a conversa e todos ficam
bem.
Anoitece, e Helena vai colocar Joel para dormir.
— Filho, preciso falar com você.
— Claro mamãe. Fiz
alguma coisa de errado?
— Não meu amor...
eu preciso te explicar algumas coisas, mudanças que vão acontecer na nossa
vida, na minha e na sua.
Helena tenta
explicar da melhor forma possível para o filho, que ela teria que se mudar da
casa, que eles viveriam em um lugar menor do que aquele, mas que Joel poderia
vir passar os dias que quisesse com os primos.
— Mas nessa nova casa, eu vou poder ver o meu tio Jean?
A pergunta do filho faz Helena se calar por um instante.
— Você gosta mesmo do seu tio Jean, não é?
— Sim mamãe... ele também gosta muito de
mim. Ele vai poder ir me visitar?
— Ele vai sim.
Joel ficou feliz com a resposta da mãe.
— Filho, todas as decisões que a mamãe
tomou na vida, foi pensando no seu bem-estar... você ainda é muito pequeno para
entender, mas quero que lembre disso. Eu te amo mais do que tudo nesse mundo.
— Eu também te amo mamãe. Muito, muito,
muito.
Helena contou uma história para o filho, que de tão cansado dormiu antes
que a história acabasse.
"Que aperto no coração, eu não consigo nem respirar direito... O
amor que Joel sente pelo pai sem mesmo saber quem ele é... é tão grande e
bonito... Como será que meu filho vai reagir quando souber que o tio Jean, é o
pai dele?"
"Vou sentir falta desse banheiro, bem diferente do que vou ter na
minha nova casa."
Helena se senta na varanda do seu quarto, apreciando a vista e pensando
no que iria enfrentar nos dias que viriam.
"Eu preciso me mudar antes do final de semana... Jean só me deu
quatro dias para contar que ele é pai do Joel. Lucas e Heitor tem tanta raiva
do meu amor de Windenburg, o que eles vão fazer quando descobrir que é o
Jean?"
O telefone de Helena toca, era André Gusmão. Ela atende.
Conversa ao telefone:
Helena: — André!
André: — Boa noite!
Como está a minha mais bela amiga?
Helena: — Tudo bem, André. Sem nenhum motivo para
você criar uma emergência falsa para me tirar de qualquer coisa hoje.
André: — Só pra
constar, eu faria isso em um piscar de olhos.
Helena: — Bem... é bom saber disso.
André: — E o que
você está fazendo agora?
Helena: — Sentada na varanda do meu quarto,
pensando na vida.
André: — Alguma
coisa aconteceu? Quer conversar?
Helena: — Muitas coisas acontecendo ao mesmo
tempo... — Memórias começam a surgir na mente de Helena, do incidente com
Fernando Marques, dos momentos de amor com Jean, da discussão com seu pai, da
discussão com Jean descobrindo sobre o filho, da casa que ela alugou. André
continua falando, Helena pisca alguma vezes, sem ouvir o que André diz do outro
lado da linha, até que ele a chama.
André: — Helena?
Helena: — Sim!
André: — Ótimo! É
um encontro! Vou pegar você e o Joel amanhã por volta das 16:00 horas, ele vai
amar andar de patins e brincar no parque com outras crianças. Sério, vai ser
muito divertido!
Helena: — Andar de patins? O quê?
André: — Você não
prestou atenção!
Helena: — É claro que sim! Até parece... Eu
definitivamente estava prestando atenção!
André: — Tem
certeza de que não quer conversar? Você parece um pouco longe.
Helena: — Hum... Estou bem. Não se preocupe.
André: — Tudo bem
por hoje, mas amanhã a gente conversa. Nós somos amigos e você não me parece
muito bem.
Helena: — Tá bom... Acho que conversar um pouco vai
me fazer bem.
André: — Então boa
noite. Te vejo amanhã as 16:00 horas!
Helena: — Boa noite... Até amanhã.
"Eu não acredito que concordei com um encontro sem pensar?! Com
todos os problemas que já tenho e ainda me metendo mais e mais!"
Helena finalmente adormece.
Quarta-feira 7:00 da manhã.
— Vamos crianças! Mais rápido ou vamos
chegar atrasados! — Jena estava indo levar as crianças para a escola.
Heitor já estava indo para o trabalho, Helena iria participar de uma
reunião em outra empresa representando as "Indústrias Adams".
Tarde. 15:55.
André já tinha ligado avisando que estava chegando.
— Onde o senhor Gusmão está mamãe?
— Quase chegando.
— Vai demorar? Eu
quero andar de patins logo!
— Não filho. Fique
calmo, já vamos sair, ele vai chegar a qualquer minuto.
Joel estava impaciente para ir ao parque andar de patins, Helena tentava
acalmá-lo pois André chegaria a qualquer momento, e de repente ela ouve o som
de um motor de carro se aproximando.
"Finalmente! Acho que é ele, mas..." — Helena reconhece o som do motor do carro.
— Ei, mamãe! Não é o carro do seu amigo!
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