Um Amor em Windenburg 18.

 




Helena fica paralisada enquanto Jean dá um passo em sua direção. Sua respiração fica presa na garganta, seu pulso acelera a cada passo dele. Ele olha para Helena com uma expressão sombria.



Você deixou a cidade para fugir de mim, Ellen. De novo. — Jean olha dentro dos olhos de Helena, o corpo dela treme quando seus olhos se encontram. — Eu pensei que estava tendo alucinações, que eu tinha perdido a cabeça... Eu vi o rosto da minha Ellen, bem na minha frente, depois de todos esses longos anos.

— Marcos... — A voz de Helena não passa de um sussurro.



— E acontece que ela não é Ellen. Em vez disso, você é Helena Leão! Outra herdeira de um empresário milionário.

— Você também não é exatamente quem disse que era, Marcos Silva! — A voz de Helena sai baixa, mas firme.

— Não sou Marcos Silva, mas assino meus quadros com as iniciais M.S há quase uma década. Marcos é o nome do meu pai, e Silva o primeiro sobrenome de solteira da minha mãe. Me chamo Jean Marcos Martinez.

Então... Por que ninguém reconheceu Marcos Silva quando procurei por você?

— Você deve ter desistido de procurar muito cedo. Meu nome de artista não se tornou reconhecido até 3 anos depois que nos separamos.

— Ainda assim esse não é o seu nome legal...

— É um pseudônimo. Todos os grandes artistas têm um, até minha mãe publica seus livros com um! Eu não sou um mentiroso. Por outro lado... Ellen Oliveira era um nome completamente falso. Por que você me deu um nome falso?



Helena sente uma dor pesada no peito, as lágrimas queimam em seus olhos, mas ela os fecham com força.

"E pensar que eu poderia ter encontrado ele todo esse tempo, se eu tivesse insistido mais?"

— Eu... Não queria ser Helena enquanto estivesse em Windenburg.

Por que não?

— Porque eu estava presa em uma situação sem volta! Ok?... Eu senti que poderia finalmente ser eu mesma, sem fingimentos, livre mesmo que meu nome não fosse real! — Jean fica parado em silêncio. Nenhum dos dois movem um músculo. Depois de um minuto, ela olha para ele. O olhar frio dele gela o coração de Helena, a expressão é sombria e indecifrável. — Eu estava vivendo meus últimos dias de liberdade quando fui para Windenburg. Eu queria aproveitar o máximo possível!

— E você pensou que usar um nome falso e fazer um cara se apaixonar por você, seria aproveitar o máximo?



— Não foi bem assim! Você deu em cima de mim, e não parecia estar apaixonado, me pareceu querer só diversão.

— Então foi por isso que aceitou sair comigo? Você só queria se divertir, não é?

— Não seja hipócrita Jean! Você causou tudo isso! Se pelo menos tivesse me dito o seu nome verdadeiro desde o início...

— Não tente me culpar. Você não tem ideia do que passei depois que você foi embora! Quando acordei e não vi você naquela cama...

— E você não tem a mínima ideia do que eu passei depois que sai de lá, depois que voltei de Windenburg! — "Como ele pode virar o jogo assim? Eu sei que o que passei foi pior".



— Você está certa. Eu não sei o que aconteceu com você... Eu não sei por que você desapareceu. Virei o mundo de cabeça para baixo tentando te encontrar, mas era em vão qualquer esforço que eu fazia; procurei por uma pessoa que não existia.

— Você me procurou? — As lágrimas queimam, Helena pisca os olhos para contê-las.

— Por cinco anos, Ellen. Por cinco longos anos, procurei por você. — A voz de Jean era quase um sussurro de tristeza — Contratei os melhores detetives e ninguém soube me dizer onde você estava. Naquela noite, quando acordei e me dei conta de que você tinha ido, fui procurá-la na pousada, mas já era tarde, você tinha partido fazia meia hora. Os donos da pousada não sabiam me dizer para onde você tinha ido...

— Eles sabiam o meu nome verdadeiro, mas eu pedi para não contarem pra você...

— Eles não me disseram nada, nem nome, nem endereço, o número do telefone que me deu, estava bloqueado. Fiquei com raiva na hora e prometi a mim mesmo que iria te esquecer, então não insisti em saber de mais nada. Mas com o passar dos dias eu vi que seria impossível, eu tinha que encontrar você! Voltei na pousada determinado a arrancar qualquer informação que fosse, e pagaria o preço que me pedissem, mas eles não estavam mais lá.

— Como assim, não estavam mais lá?

— A pousada faliu e eles venderam, os donos foram embora da cidade. Eu a comprei e agora é a minha casa em Windenburg.



— Você comprou?...

— Eu queria viver lá, sentir que você esteve ali. Tentei comprar a casa onde fizemos amor, mas agora faz parte de uma reserva ecológica, impossível de comprar.

— Jean... Se eu pudesse mudar tudo...

— Todo esse tempo, você estava aqui, era parte da família da minha irmã. Vivendo bem debaixo do meu nariz... Passei todos os dias por cinco anos me xingando por não ter contado quem eu realmente era.

— Por que você não fez isso?

— Eu... eu ia te dizer meu nome verdadeiro, mas fiquei preocupado que você tivesse medo de mim.

— Medo de você?

— Eu faço parte de um império de negócios. Não é algo simples para a maioria das mulheres aceitar... as pressões, a expectativa, a fama... E as que aceitam, só querem por interesse financeiro.

— Você realmente achou que eu seria mais uma dessas?



Jean a surpreende quando envolve sua cintura com os braços, trazendo-a para perto, os corpos ficam colados, os cheiros os envolvem, sentimentos mistos de mágoa, dor e amor.

— Não. Eu tinha dúvidas no começo, mas logo vi que você não era interesseira. Eu me apaixonei por você... Ellen. Ia te pedir para ficar comigo, para ser minha!

— Jean eu... — "Eu sempre fui sua. Eu te amo!". — Helena não consegue falar, lhe falta o ar.

— Eu estava planejando viajar quantas vezes fosse preciso para onde você estivesse, faria o que você me pedisse, só para ficar ao seu lado porque eu... — Ele estava prestes a dizer algo, mas para e olha profundamente nos olhos de Helena.

— O quê?...

— Porque eu te amava, Ellen. — Depois de confessar que a amava, ele a solta.



— Mas você brincou comigo o tempo todo, eu fui apenas diversão para você. Se tivesse me pedido em Windenburg para ir com você, eu teria ido para onde quer que fosse. Eu teria ido com você até os confins da Terra. — Helena está despedaçada, mal consegue olhar para ele— Eu teria te dado tudo, feito qualquer coisa para ter certeza de que ficaria ao meu lado, mas você preferiu ir embora, fugir no meio da noite!!


 

— Ah, você teria mesmo? Então por que não me disse isso, por que você não teve coragem de me falar tudo isso enquanto estávamos juntos? Você era sempre tão evasivo, com essa história de artista em começo de carreira. Eu não queria atrapalhar a sua vida com...

— Com o quê Helena?

— Com os meus problemas! Eu estava noiva!

— Noiva??

— Sim. Meu pai ia me obrigar a me casar com um empresário do mesmo ramo de negócios dele, eu não poderia decepcioná-lo, levaria minha família a ruína... era um casamento por dinheiro.



— Deus! Agora tudo faz sentido! Quantas outras mentiras você me contou, além do nome falso? Você estava traindo seu noivo comigo. É por isso que você fugiu!

— Não fale assim comigo. Eu estava apaixonada por você! Nada saiu como planejado... Eu também teria feito qualquer coisa, se ao menos você tivesse me contado a verdade.

— É claro. Você teria desistido dele, provavelmente eu tenho mais dinheiro, e por isso seria mais lucrativo para o seu pai?!

— Jean, por favor pare! — Helena estava furiosa e igualmente triste.

— Quem é ele? E por que vocês não deram certo? Seu filho nunca fala nada sobre o pai dele. Ou talvez ele nem seja o pai ... Quantos você teve depois de mim? Foi por isso que ele te deixou não foi?

— Saia já do meu quarto! Você não tem o direito de falar comigo assim!

— Eu só quero entender você...

— Ofendendo a mim e ao meu filho?



— Eu... Helena, eu...

— Fora do meu quarto, agora!



Jean sai sem dizer mais nada, e Helena se sente derrotada. As lágrimas caem.



"Como ele pode me dizer todas essas coisas? Eu sou mãe do filho dele. Se soubesse de tudo que passei, do amor que senti e ainda sinto. Da solidão, da saudade, da dor que sinto quando me lembro de tudo que vivemos... De tudo que perdi por ter amado ele?".



"Isso é um pesadelo sem fim? Eu preciso superar Marcos Silva, ou Jean Martinez, quem quer que ele seja. Ele me odeia agora, e pode fazer da minha vida um verdadeiro inferno se descobrir sobre Joel ser filho dele!".



Os dias passam. Helena passou a maior parte da semana de mau humor, lidando com sua rotina de trabalho e de mãe solo.


Era sábado, ela estava relaxada no sofá assistindo a um programa qualquer, quando Heitor sobe as escadas.



— Helena? Você está ocupada?

Não, estou apenas descansando.

Heitor caminha até Helena, ele estava preocupado, pois Helena quase nunca estava de mau humor e ela passou a semana toda assim.



— Que programa animado, não é?

— É...

— Filme de zumbi?

— Acho que sim...

— Prima. É um filme antigo em preto e branco!

— Ah é?



— O que tá acontecendo Helena? Eu e Jena estamos preocupados com você.

— Não é nada Heitor, não se preocupe. Só estou cansada, mas vou ficar bem.

— Eu estou exigindo muito de você no trabalho?

— É claro que não. O que seria de mim sem meu trabalho? Eu adoro trabalhar. Sério primo, eu vou ficar bem.

— Então se anima, vou te dar mais trabalho!

— O que foi dessa vez?



— Na verdade não é bem um trabalho, é mais uma folga, você nunca sai para se divertir e eu quero que você vá a esse evento representando a empresa, e de brinde, ganhará o dia seguinte de folga!

— Que evento, Heitor?

— Não é uma festa badalada, mas irá pessoas importantes, alguns investidores das "Indústrias Adams", todo ano tem esse tipo de evento, é mais como uma reunião informal para os grandes empresários. Eu costumo ir com Jena, mas já que nós dois estamos ocupados amanhã...

— Mas amanhã, já?



— Sim, à noite em Newcrest! Será um coquetel para as pessoas se conhecerem pessoalmente, beber e conversar. A sua missão principal será se divertir e conhecer pessoas, se socializar em nome da empresa.

— Nem sempre conhecer pessoas é divertido. Mas tinha que ser logo em Newcrest?

— Pois é, eu sei que você não gosta de ir pra lá, mas seu pai não estará na festa, o padrão das empresas dele caiu e ele não está na lista de convidados. Fique tranquila!

— Tudo bem, onde vai ser esse coquetel?

— Black White Rock Hotel.

— Espera, esse hotel é o dos Martinez, o mais recente inaugurado?

— Sim, Jean será o anfitrião. Você pode falar com ele se precisar de alguma coisa.



"Ótimo! Outra chance pra ele me ofender de novo." — Helena pensa.

— Na verdade, ele já sabe que você irá, e mandou um presente de boas-vindas assim que soube. A Maria não te entregou?

— Ele me mandou um presente? Ela não me entregou nada.

— Maria está muito distraída depois que se casou de novo, agora anda suspirando pela casa.

— Deixa a coitada ser feliz, mas onde tá meu presente?

— Eu pedi pra ela levar pro seu quarto, faz duas horas que chegou!

— Acho que já estou aqui há mais de três horas...

— Então foi isso, ela não quis te incomodar. Você vai né?



Helena se levanta rapidamente e confirma a presença no coquetel.

— Eu vou sim! Pode contar comigo. Vou lá ver meu presente!



Ela vai até o quarto dela e ver um buquê de flores em cima da cama.



"Pensei que ele estivesse me odiando, mas me mandou flores? Não entendo quem é esse homem, Jean Martinez."



Helena retira as flores da embalagem, junto estava um bilhete que Jean escreveu, que dizia:

Eu não sei quais são suas flores preferidas, não deu tempo de conhecer seus gostos por flores, músicas, comidas e outras tantas coisas que eu queria saber sobre você. Escolhi a peônia, ela é considerada a flor da boa sorte, da honra e da beleza. Apesar do que aconteceu depois que nos separamos, eu fui o seu primeiro... Você se entregou virgem. Eu nunca vou me esquecer.

Queria te mandar um buquê de borboletas, mas creio que não será possível. Aguardo sua presença no coquetel representando as "Indústrias Adams".



"Se soubesse que você foi o meu único homem... Que nunca tive outro além de você. Pelo menos lembrou que gosto de borboletas... Tinha que lembrar, pois foi com ele que fui fazer a minha tatuagem... Não sei o que esperar do Jean. Ele pareceu tão cheio de mágoa, e se a gente conversar e começar a brigar de novo? Eu não quero mais disso na minha vida, os dias não estão sendo fáceis!"



Chega o domingo. Helena vai para o coquetel no "Black White Rock Hotel".



Continua...


Comentários

Postar um comentário