Enquanto Raquel passava por todos os tormentos na ilha Krástis Agares.
Seus amigos, na base “B” dos caçadores do “Clã Raziel”, não sabiam da sua busca por sua irmã.
Raquel estava descansando de uma caçada, realizada com sucesso, nos dias anteriores, ela havia eliminado um grupo inteiro de vampiros que estava vivendo escondido na casa de uma família que eles hipnotizaram e fizeram de escravos, em Magnólia Promenade. Foi quando Algor Fenrys, um dos membros mais antigos e experientes do clã, concedeu um merecido descanso de dez dias para Raquel (Tessa Graham); e ela aproveitou essa folga para ir em busca da irmã, sem o conhecimento dos demais caçadores.
Mas um entre eles estava preocupado com Raquel. Higor Fenrys conversava com seu pai, Algor Fenrys, e com seu irmão mais velho, Algon Fenrys. Os três eram exímios caçadores e Higor também comandava uma equipe, assim como Raquel. Os dois eram muito próximos um do outro, ele a auxiliou no ingresso e também no treinamento no clã. Inclusive, no início, Raquel era da equipe de Higor, mas logo começou a comandar seu próprio grupo.
— Tenho certeza de que Raquel está descansando nas montanhas, como ela mesma nos disse, Higor! E não se preocupe. Ela sabe se defender, caso corra perigo. — Algor tentou acalmar o filho, ele sabia o que Higor sentia por Raquel e apoiava a relação dos dois. Além disso. Algor acreditava mesmo que Raquel estava bem.
— Sei disso, meu pai, mas Raquel estava estranha, mais calada do que o normal… Não sei se foi mesmo escalar nas montanhas… Tentei falar com ela, mas não levou o rádio nem o celular. — Os caçadores sempre andavam com os aparelhos, que funcionavam por via de um satélite exclusivo, para se comunicarem entre si.
— Ela continua triste pelas duas perdas da família. E ainda há a possibilidade de haver uma terceira, pois pelo jeito que anda Daniel, não demora a se juntar a sua esposa e filha… Dê tempo para ela se recuperar.
— Você tem razão… A família Camargo está passando por momentos difíceis, mas não quero perder Raquel… Você sabe que eu…
— Sim, meu filho, eu sei. Mas tenha paciência. Ela aparecerá. Só está fora há quatro dias.
— Sim, mas eu estava me comunicando com ela. Tem dois dias que não nos falamos desde que ela me disse que teria que se isolar por um tempo… Só que sinto que tem algo mais nisso.
Na ilha Krástis Agares, Hakon presidia mais uma audiência.
Um de sua raça encontrava-se lá para comunicar o nascimento de mais um bebê: sua filha, nascida naquele mesmo dia.
Os vampiros, nascidos de raça antiga, podiam procriar com os de sua raça, mas os bebês eram frágeis, nos primeiros anos de vida, e tinham que passar pelo menos cinco anos dentro da terra, se fortalecendo para que, posteriormente, pudessem vir à superfície. A gestação durava o mesmo tempo que a de uma mulher humana (nove meses), mas, no sétimo mês, a mulher dessa raça já se recolhia para uma caverna, uma espécie de maternidade onde ficavam até ter os bebês, altamente protegidas e bem cuidadas, e depois eram levadas para outra caverna, onde ficavam com sua filha ou filho, por mais cinco anos. E raramente nascia uma menina; era mais comum que as mulheres dessa raça só tivessem meninos. No entanto, nas demais raças nasciam bastantes garotas. E as três raças que podiam procriar eram: os Kathakanos, os Ventrue e os Krástis Agares.
Apesar de nascer mais meninos, na raça superior e mais antiga, que era a Krástis Agares, não era qualquer um que podia ter posições de comando, somente os que nasciam com a essência e os poderes da Família Real. E, nesse caso, no momento, Hakon era esse nascido.
Diele Marts pedia permissão para ser o próprio guardião da esposa e de sua filha, pois enquanto ela estivesse na caverna, ele queria participar do início de vida da pequena e, além disso, também desejava cuidar da esposa que estava muito fraca; o parto tinha sido complicado e ela esteve muito perto de morrer.
Com o enfraquecimento das raças, devido ao sangue, que não era mais tão puro, as mulheres demoravam muito para engravidar e muitas morriam antes mesmo de darem à luz. Os cuidados tinham que ser redobrados quando essas estavam reclusas e com o bebê recém-nascido.
Por isso, Hakon autorizou Diele a ir, apesar dele precisar de mais antigos na ilha. A questão é que o príncipe compreendia que Diele tinha uma missão maior: cuidar da filha que havia nascido. E como a esposa de Diele teve uma menina, que, embora fragilizada, estava viva, essa tinha que ser bem cuidada e protegida; assim, nada melhor do que o pai e a mãe, juntos, perto do rebento.
Todos comemoravam o nascimento da filha de Diele, mas, naquele momento, a alegria teria que ser quebrada, pois havia outro assunto a ser resolvido: o de Raquel, a caçadora.
Cada vez mais os antigos, e também os vampiros, que moravam na ilha dos Krástis Agares, visitavam a mansão para saber como ela, a caçadora, havia conseguido chegar lá. Mesmo confiando muito no seu príncipe, eles estavam um pouco temerosos por ela estar ali, e não apenas pelo perigo que ela representava, mas pelo caminho que ela poderia ter aberto para outros caçadores irem até lá. Assim, eles tentavam disfarçar as dúvidas diante de Hakon, mas ele sentia todas as emoções dos presentes ali, e até dos que ali não estavam.
Hakon era atormentado pelas emoções e medos de todas as formas do seu povo, ele era o responsável pelo bem-estar de muitos e esse era um preço alto para se pagar por ser um príncipe de sangue puro. Hakon tinha poderes que nem ele mesmo ainda compreendia, apesar de seus dois mil anos de existência. Mas seu irmão mais velho, Jacques, sabia muito bem quem era e o que Hakon carregava, por isso, em nenhum momento sequer ele desejou ser o príncipe.
Após autorizar Diele a ir para a caverna-maternidade cuidar de sua família, agora era a vez de tratar sobre a caçadora.
Brandon lia alguns pedidos e dúvidas do povo élfico, pois, no dia seguinte, eles teriam uma audiência com Hakon.
Brandon foi interrompido por Arakiel, que o chamou para o centro da sala. Diante do trono de Hakon, ele estava recebendo a decisão do julgamento de Raquel e de sua irmã Renata, que era esposa de Brandon.
Hakon decidiu executar Raquel, mas antes ia lhe conceder o direito de ver sua irmã. As duas seriam colocadas frente a frente. E o príncipe considerou matar Renata, mas por intervenção de Armin, seu irmão mais novo, resolveu poupá-la. Obviamente que Brandon agradeceu imensamente seu príncipe.
— Não agradeça a mim, mas sim a meu irmão. Por ele que poupei a vida de sua companheira que, para nós, não é de grande importância. Ela não pode procriar e nem serve nas batalhas. Mas por você ser um amigo e ter se mostrando útil, deixaremos que ela viva.
“Por mim, ela morreria juntamente com a irmã. ” — Belina pensou. Ela não aprovou o julgamento de Hakon, mas não era tola de contrariá-lo, então o obedecia e aceitava sua decisão.
Arakiel tinha um dos dons que Hakon possuía. Ele sentia principalmente o medo e a raiva das outras criaturas. E ele não gostou do que Belina sentia, por isso agora estava de olho nela. Apesar de ter indicado a morte da caçadora com a irmã, no início, ele jamais desobedeceria e seria contra qualquer decisão de seu príncipe, mesmo que essa fosse a indicação da sua própria morte.
Armim Astaroth era o equilíbrio entre os irmãos. Os dois o protegiam e o respeitavam. E ele não possuía grandes dons, mas unia os irmãos e os acalmavam.
Hakon e Jacques eram grandemente poderosos, mas também amaldiçoados com demônios dentro de si, Armin possuía um dom único de acalmar as feras que habitavam nos irmãos. Sempre que Jacques sofria os tormentos da fera, Armin o visitava e conjurava o Feitiço da Calma, e Hakon não precisava constantemente disso, mas Jacques sim. A única forma de impedir que isso acontecesse e de que a criatura se libertasse, o transformando em um monstro perigoso até para os seus, seria uma parceira. Mas Jacques não era como os demais. Ele desejava ter uma ligação especial com a mulher que seria sua companheira para toda a vida. Na verdade, não só Jacques, mas os Astaroth, tanto os homens quanto as mulheres, eram assim na forma de escolher seus parceiros. Depois que os encontravam, conjuravam o Feitiço de Ligação e viravam uma única criatura, ligados pelo espírito.
Então, depois do julgamento, eles iriam para “A Rocha”, onde Raquel ainda estava presa, e levariam Renata.
Eles foram para “A Rocha”. Raquel foi levada novamente para a cela de torturas, enfraquecida pelo ataque de Hakon, ela ainda não havia se recuperado mentalmente, pois o poder telepático do príncipe foi demais para ela, que ainda não despertou totalmente os seus poderes. Estava acordada, mas tonta, atordoada, fraca, pois nem água bebeu nesses dias em que estava presa.
Hakon a olhava, e aquela presença o incomodava de uma forma estranha. Ele não sabia realmente o que sentir, mas ficava com muita raiva por isso estar acontecendo.
Raquel sentia a presença dele, mas estava fraca demais para reagir.
Então, com a chegada de Renata à cela, ele sentou-se e decidiu observar.
Renata sofria ao ver a irmã daquele jeito.
“Isso tudo é culpa minha!” — Renata pensava.
Raquel, mesmo que quase inconsciente, sentia a presença de Hakon, e de ninguém mais além dele, o que era estranho, pois ela antes sentia principalmente a presença da irmã.
— Raquel, minha irmã, estou aqui! … — Renata conseguia ouvir os batimentos cardíacos de Raquel, que estavam fracos, mas o conforto que sentia por ela ainda estar viva, acabou quando se lembrou que a morte se aproximava da irmã.
Brandon observava de fora da cela, com medo de que Raquel fizesse algo com Renata quando descobrisse que ela era uma vampira, e naquele momento não se esforçou para disfarçar. Hakon sabia dos temores dele e apenas mantinha os olhos nas duas também.
Raquel ouviu a voz de sua irmã, sentiu a presença dela, no entanto,
também sentiu que a irmã não era mais a mesma.
— Me perdoe… Você não devia ter vindo atrás de mim… Sua cabeça dura e teimosa! Por que não ficou no clã com os outros?!…
— Nossa mãe morreu e nosso pai está morrendo por causa disso!… Eu só queria atender ao último pedido dela! … Levar você de volta! Mas agora eu só posso te levar de volta depois que eu te matar!… Você é um deles!… Olha só como está vestida, você é a prostituta de algum?… Por que não fez como os outros que foram transformados? Você foi forçada? Se foi, então por que não se matou?…
Brandon endureceu-se temeroso pela reação de Raquel, ele temia agora muito mais pela vida da esposa.
— Estou aqui por vontade própria. Fui salva por eles e depois que soube quem são de verdade, decidi ficar… Estou casada com um vampiro e o amo muito, não sou prostituta de ninguém!
— Odeio e amaldiçoo você, Renata!!! Preferia que você estivesse morta!… Meu pai vai preferir morrer agora!!! — Raquel chorou muito e era grande a sua tristeza.
— Nossa mãe…? Como ela morreu? — Renata também sentia muita dor e tristeza pela morte da sua mãe, pela futura morte de seu pai e, agora, por sua irmã, que logo seria executada.
— Você é uma bebedora de sangue, demônio das sombras sem emoções!!! Por que se importaria com a gente? Não somos mais a sua família!!!
Hakon sentiu o tamanho da dor das duas e decidiu não matar Raquel naquele dia. Ele já não sabia como lidar com os sentimentos que aquela criatura causava nele: raiva e, agora, comoção, piedade por um ser tão arrogante e insignificante… Hakon nunca sentiu emoções assim por uma mulher humana, talvez fosse por essa singularidade dela que o deixava curioso, pelo fato dela ser telepática e ter invadido a sua mente recentemente, era um feito que poucos dos seus conseguiria. Um potencial a ser considerado… Assim ele queria acreditar.
— Não me odeie assim, eu sou a sua irmã… Se você soubesse quem eles são de verdade…
— Cala a boca!!! Sai daqui!!!… Eu não conheço mais você, você não é a minha irmã! Sai daqui antes que eu mesma te mate!!! — Raquel falou com uma ira tão grande quanto a sua dor, e se Renata não saísse dali ela seria mesmo capaz de matá-la.
Hakon ordenou que Renata saísse da cela.
— Já basta!
E ela obedeceu, pois sabia que não podia fazer mais nada para convencer a irmã, no entanto, imploraria pela vida dela para o príncipe Hakon.
Raquel estava afundada em trevas de tanto sofrimento. Ela imaginou diversas formas de como encontraria sua irmã, mas nunca imaginou que Renata se permitiria viver assim, como uma criatura que elas mais abominavam.
— Eu a odeio!!! Assim como odeio todas as criaturas das sombras!!! E se me deixarem viver, um dia mato você e todos que estão aqui!!!
Brandon, aliviado depois que viu sua amada fora de perigo, confortou-a em seus braços.
— Minha mãe morreu, Brandon! Meu pai está morrendo e minha única irmã… Vai morrer também!…
— Eu ouvi, meu amor. Me sinto mal por não poder ajudar com sua irmã, e sofro por te ver assim, sentindo tanta dor.
—
Me ajude! Vamos implorar pela vida dela à Hakon!… Ele sempre é justo com os demais! Me ajude a salvar a minha irmã! — Renata estava desesperada por saber que sua irmã morreria em breve.
— Não posso pedir mais nada. Ele poupou a sua vida porque Armin pediu. Você errou em não nos dizer que tinha uma família no “Clã Raziel” e que sua irmã é uma caçadora telepática que pode se tele transportar. Ela oferece perigo aos demais e você sabe que muitos humanos dependem de nós.
— Vou pedir mesmo assim! Ela é minha irmã, eu cuidarei dela, mesmo que ela não pense mais assim! Se Raquel souber da verdade, ela também passará para o nosso lado.
— Não faça isso, Renata! Temo por sua vida, meu amor! Você viu que ela jurou te matar!
— Ela só está com muita raiva… Eu a amo!… Fomos criadas juntas e não posso deixar que ela morra!
Renata ia implorar por misericórdia, para que Hakon não matasse Raquel, mas ele os surpreendeu. Chamou os dois para uma conversa em particular.
Hakon então lhes mostrou dois vampiros recém-criados, alguns dos que Raquel matou, e, entre eles, estava Janete, a que era companheira de Cásper. As balas ultravioletas não a transformou em cinzas, apenas a queimou como um ácido.
— Todos querem a morte da caçadora, sua irmã não biológica, mas eu decidi deixá-la viva por um motivo: vou estudar a mente dela.
— Estudar a mente dela? Mas como pretende fazer isso? — Renata perguntou.
— Isso não é da sua conta! Fique feliz em saber apenas que ela viverá… por enquanto.
— Mas, meu príncipe, o senhor mesmo disse que não faz prisioneiros humanos… por favor, deixe-a ir! Apague as memórias dela e deixe que ela volte para casa… Eu imploro, senhor!
— Você tem sorte por ter Brandon como companheiro. Ele é leal, obediente e de muita utilidade, mas você não!… Me diga um motivo para que eu não a expulse, além do fato de ser a esposa dele! — Hakon ficou tentado a apagar a memória de Renata e expulsá-la da ilha, deixar ela viver sem a proteção da família, como uma vampira qualquer.
— Senhor, por favor, perdoe a minha esposa. Ela está agonizando em dor e por saber que perdeu a mãe e que agora perderá o resto da família. É claro que isso não lhe dá o direito de lhe desobedecer ou mesmo de sequer pensar nisso. Obrigado por me considerar útil. Agradeço por me deixar servi-lo, meu príncipe, e por deixar que a caçadora, mesmo não merecendo, fique viva.
— Você fez uma péssima escolha, Brandon, essa vampira pode ter sido uma caçadora, quando humana, talvez eles a consideravam uma guerreira, porém, quando você a transformou lhe tirou essas possíveis habilidades… Sei do vínculo entre você e ela, é o mesmo que Cásper e Janete tinham, que agora está nessa mesa e sem vida. O que você faria se estivesse no lugar dele, sentindo a mesma dor? Perdoaria, seria tão complacente com a sentença da caçadora que tirou a vida da sua companheira?
— Não senhor!…
— Foi o que pensei! Irei me recolher agora. Fortalecer-me na terra. Passarei cinco dias fora resolvendo assuntos de outras raças e, quando chegar, conversarei com ela, a caçadora humana… Não se preocupe, Renata. Não serei cruel. Se eu decidir que ela morra, terá uma morte rápida… Enquanto isso, quero que cuide dela você mesma, a irmã.
— Meu príncipe, eu posso lhe fazer só mais um pedido? — Brandon temia deixar Renata a sós com Raquel, afinal, ela prometeu matá-la.
— Não precisa se preocupar com sua esposa. A caçadora dormirá grande parte do dia. Conjurarei um feitiço sobre ela agora e ficará apenas quatro horas, consciente, antes do anoitecer. Terá tempo para se alimentar e para suas necessidades fisiológicas. Sua esposa não correrá perigo se for sábia. E você não pode ficar aqui com ela. Preciso que venha comigo.
— Obrigado. Irei com muito prazer. — Brandon ficou aliviado ao saber que Renata não correria perigo, mas ia dar-lhe as instruções antes de ir.
Armin observava a tristeza de Raquel. Ela estava sentada, calada e atônita. Ele sentiu pena do estado daquela humana.
Ele pensava. —
“Ela é apenas uma criança… Tem tão pouco tempo de experiência e vida na terra… Como pode alguém carregar tanta dor e raiva com tão pouco tempo de existência?”
Seis dias se passaram.
Hakon voltou de sua jornada e, assim que chegou, já começou a receber visitas de seus aliados e protegidos. Dois representantes da tribo “Naedai” (que significa “Carvalho Branco” em élfico) estavam visitando e levando presentes para Hakon “O filho escolhido”, esse era o significado do seu nome.
Lilith, a princesa da família Ventrue, também estava presente. Hakon
havia trazido ela quando passou pela mansão de sua família. A princesa era
apaixonada por ele, mas sabia que não podia tê-lo como esposo, pois todos
sabiam que Hakon estava aguardando a prometida para que a profecia se
cumprisse.
Trilir, da mesma raça de Arakiel, era sua protetora e estava sempre com ela. Era ótimo ter um Dearg-Due por perto, pois eles conseguiam detectar perigos por partes das outras criaturas, e assim como conseguiam sentir seus medos e fraquezas, sabiam quem era de confiança. E os Dearg-Due só conseguiam sentir emoções negativas, mas Trilir sabia se divertir quando queria, diferente de Arakiel, que era sua paixão não correspondida. Ela já participou de muitas batalhas, estava sempre à procura de uma boa briga, Trilir adorava mostrar a quão poderosa ela era.
Arakiel sabia da paixão de Trilir por ele, mas fechou a sua mente para emoções desse tipo, apesar de que os dois haviam se relacionado em um passado bem distante. Os homens dessa raça podiam engravidar uma mulher de outra raça, mas não a da sua própria, então um relacionamento entre os da mesma raça era complicado, a menos que nenhum dos dois quisessem ter filhos.
Os elfos “Araash” (cujo significado era “Mulher do Arco”) e “Lamruil” (“Justo e Nobre”) estavam ali presentes para agradecer e para pedir por mais proteção a suas tribos, que foram atacadas, mas sem perdas, por um grupo de Krvopijac, uma espécie de mutação que também atacava como vampiros. Essas criaturas estavam enfraquecidas, mas ainda havia alguns que viviam escondidos em cavernas nas montanhas, se alimentando dos animais domésticos das fazendas. Eles tinham a aparência de humanos comuns, até começarem a se alimentar, pois se transformavam no que realmente eram: demônios.
A princesa Lilith estava impaciente pela atenção do príncipe. Ela também queria falar com ele, mas queria privacidade para isso, pois ele havia passado pela casa dos Ventrue, mas não tiveram chances de desfrutar de momentos íntimos.
Os elfos receberam o que foram buscar. Hakon ordenou que Brandon enviasse alguns dos vampiros de confiança para passar um tempo com eles, assim os protegendo, apesar dos elfos também terem seus guerreiros, que eram ótimos com arcos e armas brancas. Outro grupo seria mandado para caçar os vampiros que atacaram as tribos dos elfos.
Durante esses seis dias que se passaram, Renata fez como Hakon ordenou a ela, cuidou da irmã enquanto ela estava ali, à espera dele. Ele pretendia passar cinco dias fora, mas teve que descansar sob a terra para se fortalecer, atrasando um dia.
Renata preparava a comida e cuidava para que tudo ficasse em ordem, até a hora de Raquel acordar.
Arrumava o quarto, limpava tudo e deixava sua comida pronta na mesa.
O quarto foi preparado para a caçadora por ordem de Hakon. Era confortável. Renata temia pelo que Hakon ia fazer com a irmã quando ele voltasse, mas a esperança de que ele não iria matá-la era maior do que seus medos.
Então, Renata conseguiu conversar com Raquel durante esses dias, alguns minutos por dia, e tentou explicar o que os Krástis Agares faziam pela humanidade, o que realmente eles eram. Elas conversavam enquanto Raquel ainda estava sonolenta.
Raquel estava mais calma, mas não mudou de ideia em relação aos vampiros. Ela os odiava com toda a sua alma, mas não queria mais matar a irmã. E ela achou essa história de “defensores das criaturas” um pouco absurda, mas viu que Renata ainda era a mesma e que, apesar de sua nova aparência (mais pálida e com olhos vermelhos), ela ainda era a sua irmã.
“Já está na hora dela acordar… Vou deixar que coma primeiro e depois tento conversar com ela… Espero que esteja mais calma… Ainda não me aceita como sou e eu nem espero que aceite… Só quero que fique bem.” — Renata pensou. Do lado de fora, um vampiro vigiava a porta, para garantir a segurança de Renata, a pedido de Brandon.
O que Hakon ia fazer com a caçadora, ninguém sabia ao certo, mas Brandon reforçou as esperanças de Renata antes dele viajar, de que o príncipe não a mataria, e Renata acreditava que ele iria fazer a limpeza na mente de Raquel e depois soltá-la.
Na mansão Astaroth, Lilith conseguiu ficar a sós com seu príncipe.
— Agora você é todo meu! Podemos conversar?
— Estou ouvindo. Fale.
Lilith queria engravidar. Ela precisava dar continuidade a sua raça, já que sua mãe estava velha e só teve um herdeiro que, no caso, era ela. Mas a princesa Ventrue queria um filho do príncipe Astaroth, mesmo sabendo que ele não poderia se casar com ela.
— Novamente com essa ideia! Eu sabia que você iria tocar nesse assunto, mas já sabe qual será a minha resposta.
Os Ventrue eram uma raça de vampiros que não possuía habilidades de combate vampíricas, mas, por outro lado, praticamente inventaram a palavra “dominação”, perdendo apenas para os Astaroth, apesar deles também serem os mestres do domínio mental. Têm, porém, uma fraqueza particular: eles não são bons em combate corpo-a-corpo e só se alimentam com sangue de nobres. O sobrenome da família era o mesmo da sua raça.
Lilith explicou para Hakon que ele poderia ter filhos com ela, mas que não precisaria se casar nem conjurar o Feitiço de Ligação, pois esse a faria inteiramente dependente dele, mas, enquanto a prometida pela profecia não aparecesse, ele poderia deixar sua semente sobre a terra.
Os filhos com Lilith seriam fortes, pois tinha sangue puro e nobre, assim, ela daria uma ótima e bela reprodutora. Os filhos dos dois teriam grandes habilidades mentais e, além disso, o sangue de Hakon poderia corrigir a falha na genética dos Ventrue que os tornava fracos para combates. E o fato é que Hakon já havia pensado nessa possibilidade, mas precisava conversar com seu irmão Jacques, saber o que ele pensava sobre isso.
Hakon não prometeu dar filhos a Lilith, disse que iria pensar e depois que falasse com Jacques lhe daria uma resposta. Ela estava ansiosa por isso.
— Como Jacques está? Já faz muito tempo que foi para a caverna.
— Sim, faz duzentos anos, mas ele está bem. Não o vejo fisicamente já há algum tempo, mas conversamos sempre… Quero pedir uma coisa a você.
— O poderoso Hakon me pedindo algo. O que será?
Lilith não conseguia, nem se tentasse ler os pensamentos de Hakon. Os dois não liam a mente dos seres sem sua autorização, ao menos se fosse preciso; além disso, ambos respeitavam os que conviviam com eles. Hakon, sim, poderia ler a mente dela, mas ele não fazia.
Ele pediu a Lilith que visitasse “A Rocha” para ver a caçadora Raquel. Queria que Lilith tentasse ler a mente dela e, assim, ele começaria as experiências com Raquel. Lilith aceitou, é claro. Ela estava curiosa quanto a essa caçadora, queria mesmo ver a humana e decifrar seu segredo, descobrir como ela conseguiu entrar na ilha.
Continua...
Hakon tá segurando uma barra bem pesada. Não é fácil ser o responsável pelo bem estar de uma raça inteira.
ResponderExcluirNão sei pq não fui com a cara dessa Lilith.
É verdade Tatsumi, o peso de ser um líder é muito grande. Obrigada pela leitura!
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