Os Descendentes 02.

 




Após ser capturada e torturada, Raquel foi jogada em uma cela, para aguardar o que o destino lhe reservava nas mãos de Hakon.
Enquanto isso, em sua mansão, ele dormia tranquilamente em seu quarto, na sua “cama de humano”, como ele a chamava. Estava forte e nutrido pela terra, então não precisava repor suas energias debaixo dela, já que passou os dois dias e as duas noites anteriores enterrados, se fortalecendo.




Apesar de ter ficado intrigado com o mistério de Raquel, em como ela foi parar na ilha, ele tinha o total controle sobre sua mente e corpo, e podia descansar quando quisesse, nada tirava seu sossego. Hakon era tranquilo e seguro, sua mente era uma fortaleza impenetrável. Seus poderes mentais eram mais fortes até do que sua força física inacreditável. Ele era um Astaroth, não uma criatura qualquer, e por isso era temido e respeitado até pelo mais forte dos demônios.




Mas naquele instante de seu sono, que parecia profundo, sua mente foi invadida por outro ser.




Um ser que clamava pelo seu despertar…
— Hakon, Príncipe das Sombras, acorde!
A voz o chamava assim, mas Hakon não sentiu que fosse uma ameaça. Era uma voz tão doce e gentil que ele se sentiu seduzido por ela.





Então ele despertou, mas não conseguia ver com clareza. Olhou e viu uma mulher nua em seu quarto.




— Quem é você? Por que está aqui e como não consigo sentir sua presença?
“Precisa me tocar para me sentir… Sou o seu medo, mas também o que você mais deseja”. — A presença daquela mulher desconhecida, falava por telepatia com ele, apesar de Hakon não ter permitido isso. Então ele se perguntava como ela conseguia fazer isso.




— Como não posso ver o seu rosto? Que tipo de criatura é você, que invade o meu descanso e quebra o feitiço de proteção dele?



“Você precisa de mim. Não me deixe morrer…” — ela falou em sua mente.




Hakon sentiu uma vontade incontrolável de tocar naquele ser aparentemente frágil, uma mulher humana e desconhecida, sentiu como precisava dela, a necessidade de tê-la, mas não conseguia distinguir se aquilo era um sonho ou a realidade, e isso o deixava louco.




Ele estava desesperado para tê-la, para possuir aquela pessoa, mulher, um ser que ele mal sabia definir se era real, mas que estava deixando-o atormentado.




E logo perdeu o controle, libertando o lado demoníaco que há muito estava adormecido dentro dele, e, em sua agonia, uma mistura de prazer e medo, ele começou a ferir a criatura.
“Hakon, não faça isso!!! Sou a única que…”
— Saia da minha mente!!! Você não tem esse direito!!! Eu não deixei que entrasse nela! Me deixa fraco e vulnerável; por isso, precisa ser eliminada, criatura das trevas!!!




Logo Hakon acabou com a criatura, que ele acreditava ter sido invocada pela fraqueza de sua mente. Ele havia bebido do seu sangue e a matado.




— Estou fraco… me sinto envenenado por esse sangue… O que aconteceu?… Por que estou me sentindo assim?…




Então, de repente, ele despertou de seu sonho (ou pesadelo).




Furioso e confuso com o fato de ter sido invadido mentalmente. Queria saber quem estava fazendo isso, que criatura era tão forte para conseguir brincar assim com a mente poderosa do príncipe Hakon Astaroth.



“Descobrirei e destruirei quem ousou brincar comigo!” — ele pensou, sem conseguir esquecer o cheiro suave e doce daquele ser, da maciez de sua pele e do gosto amargo do seu sangue.




E quando amanhece.

Brandon consegue falar com Renata e lhe dar a notícia de que sua irmã Raquel, a caçadora, estava esperando para ser executada por Hakon.




— NÃO!! O que vamos fazer Brandon? Eu não posso deixar minha irmã morrer, e por culpa minha!! — Renata estava desesperada, sentindo-se culpada por Raquel ir até a ilha para resgatá-la, pensando que a irmã estava refém dos vampiros.
— ACALME-SE! Você devia ter me falado que tinha uma irmã, uma caçadora telepática! Agora veja só, ela encontrou você! E nós não podemos fazer nada por ela!




Brandon e Renata estavam juntos há quase o mesmo tempo de desaparecimento dela. Ele a salvou de ser morta por um vampiro forte. Os caçadores de Hakon aniquilaram os vampiros, mas, da equipe de Renata, ela foi a única sobrevivente, que por muito pouco não virou refeição das criaturas.
Renata foi então levada por ele para um abrigo, onde foi curada por um curandeiro dos Krástis Agares, e lá ela ficou sabendo o que eles realmente eram. Foi quando se apaixonou por Brandon, seu salvador, que a transformou, a pedido dela mesma, para que vivessem na mansão e servissem juntos a Hakon.




— Por favor, meu amor, não deixe que ela seja morta! Eu não posso viver se Raquel morrer por culpa minha!  Raquel é minha irmã, nós temos a mesma idade, ela é uma boa pessoa… Tão jovem, acabou de completar vinte anos! Ela não sabe quem somos de verdade, se soubesse não teria matado ninguém!
— Por que não me contou sobre ela, sobre sua família?
— Pensei que eles tinham acreditado que eu morri! — Renata temia pelo futuro quase certo de sua irmã.
— Não posso salvá-la… Hakon certamente vai matá-la hoje, depois do pôr do sol.
— Preciso vê-la!!! Por favor, me leve até ela!!!




— De que vai adiantar você ir até lá? Só sofrerá ainda mais!
— Preciso me explicar, Raquel não pode morrer achando que fui morta por vocês!
— Ela é uma caçadora, abomina a nossa raça… O que você acha que ela fará quando souber que você é uma de nós agora?
— Você está pensando que ela vai me fazer mal?… Brandon, Raquel é minha irmã, ela não vai me matar!
— Mas o príncipe Hakon, sim! Eles pouparam você por minha causa, pelo amor que sinto por você… Se sentirem que sua fidelidade está fraca, não hesitarão em tirar sua vida!




— Entendo o seu medo, mas minha vida não valerá a pena, não posso viver com a dor da culpa!
— E quanto a mim, Renata?… Amo você!…
— Me ajude a salvá-la!
— Isso é impossível!… Ela descobriu onde fica a ilha dos Krástis Agares, pondo em risco a vida de todos e o futuro de muitos! Matou cinco dos nossos. E os escolhidos cada dia diminuem mais… Ainda matou a companheira de Cásper, com a qual ele já tinha criado uma forte conexão… Hakon vai matá-la e também a você se insistir em tentar salvá-la.
— Sei que, de alguma forma, eu posso salvar a minha irmã… Me leve para vê-la?!
— Vou tentar… mas temo pelo pior!




Renata chorava desesperada, sentindo-se culpada. Ela amava a irmã, mesmo sabendo que, se Raquel percebesse no que ela havia se transformado, iria preferir que ela estivesse morta, e ainda arriscava ser executada com sua irmã.



Ele sentia-se mal por ver sua amada naquela situação, iria tentar levá-la até Raquel, para pelo menos, poder se despedir. Mesmo sabendo do que poderia acontecer, certamente ela sofreria ainda mais e correria o grande risco de ser eliminada, já que Arakiel, o cão de guarda sem emoções, indicou essa punição para Renata antes. No entanto. Armim interveio por Brandon e, por isso, Hakon considerou o pedido do irmão mais novo. Além disso, os serviços e a lealdade de Brandon também influenciou na decisão do príncipe de poupar a vida da irmã de Raquel.




“Se Renata for executada com a irmã, eu mesmo tirarei a minha vida, não posso viver sem a minha esposa”.




Raquel finalmente despertou, machucada e fraca por ser espancada pelo vampiro Cásper, que não era um Krástis Agares (ele tinha sido transformado por um vampiro que obedecia às normas), apenas cem anos depois, Cásper conseguiu servir na mansão de Hakon.
“Vou matar sem piedade aquele miserável! Será o primeiro!… Assim que eu conseguir tirar minha irmã daqui, trarei os outros caçadores e acabo com esse ninho de demônios!” — ela pensava.




Hakon resolveu ver Raquel antes do pôr do sol, pois depois do sonho que teve, não quis mais descansar e desejava saber logo como ela conseguiu penetrar o manto conjurado por Jacques, seu irmão mais velho.
“O demônio chefe e seus cães de guarda!” — pensou Raquel ao ver os três entrarem.





Hakon parou e olhou para Raquel, tentando penetrar na mente dela, mas o que encontrou foi uma barreira forte, embora essa não fosse impenetrável para ele, talvez para qualquer outro, mas não para ele. E isso só o fazia ficar mais curioso e atraído por ela. O que a fazia ser tão forte e como ela não sabia disso ainda? Ele se perguntava, pois tinha certeza de que Raquel falava a verdade quando dizia não saber como foi parar na ilha. Hakon sentia e sabia identificar perfeitamente as emoções de outros seres.




Antes de sair, Brandon fez o máximo possível para conter suas emoções e medos, pois sabia que Arakiel conseguia sentir e farejar as inquietações, e, por sua vez, Arakiel sabia que Brandon estava receoso quanto ao futuro de sua companheira, irmã da caçadora que estava prestes a ser executada.
— Deixe-me a sós com ela! — Hakon ordenou aos dois.
— Vai executá-la agora, meu príncipe? — Brandon perguntou.
— Não decidi. Tenho que lhe fazer algumas perguntas antes… Mas confesso que essa humana me intriga muito. Saiam!




Arakiel não disse uma só palavra. Ele não era de falar muito. E Brandon ficou calado, tentando equilibrar as emoções. Ele sabia que se Arakiel notasse qualquer possibilidade de traição, ou mesmo de desobediência, que não era o caso de Brandon, que daria a própria vida sem hesitar, pelo seu príncipe. Arakiel o eliminaria, e, Brandon não teria a menor chance, já que o “cão de guarda” era um antigo muito bem treinado pelo próprio Jacques Astaroth.




— Olha só quem resolveu dar as caras por aqui: o demônio chefe! — Raquel disse.
— Por que me toma como um demônio? Você não me conhece, ainda.
— Você é uma criatura das sombras, toma sangue humano, mata pessoas inocentes apenas por prazer e sede. Isso o define como um.
— Você é uma ignorante. Pensei que fosse diferente dos demais caçadores, mas vejo que não é tanto assim… Você tem uma mente forte, uma regeneração física mais rápida do que o normal, para uma humana.
— Impressionado é?…
— Não. Mas estou curioso. Vim para lhe perguntar uma última vez. Como conseguiu chegar até a ilha?




— Já disse o que aconteceu e o porquê d'eu estar aqui, mas se acha que estou mentindo, leia a minha mente. Vamos lá! Tente! — Raquel desafiou Hakon, mal sabendo ela com quem estava lidando.




— Criança tola, acha que não consigo ler a sua mente? Você é mesmo diferente. Digamos que tem um dom que a faz ser assim, mas eu também tenho alguns dons…
— Você não pode! Senão, já teria feito. Por que veio aqui pessoalmente por uma simples caçadora?





Hakon se concentrou. Apesar da arrogância de Raquel o incomodar, ele viu um pouco de si nela. Achava absurdo tentar se comparar com tal criatura insignificante e frágil como aquela garota. Então ele conseguiu quebrar a primeira barreira de proteção da mente dela.
— Vamos lá, seu demônio! Antes de me matar, pelo menos diga se minha irmã está aqui! — Raquel estava fazendo um jogo perigoso, brincava em desafiar um ser desconhecido.





E, por milésimos de segundos, Hakon apareceu na cela com Raquel, enforcando-a e deixando-a surpresa.




Raquel não tinha se sentido amedrontada em nenhum segundo desde que foi capturada, pois estar ali era o seu plano, no entanto, naquele momento, o medo veio à tona. E Hakon, que até então não havia sentido o desespero dela, agora se deliciava com o cheiro de seu terror.
“Você não parece tão segura agora, caçadora. E como é bom o cheiro do seu medo!” — ele falou com Raquel por telepatia, ela ficou ainda mais apavorada por saber que ele conseguiu entrar em sua mente.
— Sai da minha mente, seu maldito! — ela, desesperada, tentava se livrar das mãos petrificadas de Hakon, por mais que Raquel tentava nenhum dedo se mexia.
“Onde está o seu orgulho? A sua certeza de que estava protegida mentalmente? Agora posso ler tudo que está em sua mente, dominar os seus pensamentos e até a fazer minha escrava.” — Hakon sorriu sarcasticamente quando sentiu o medo de Raquel aumentar, por saber que ele podia dominá-la e torná-la sua serva, embora não fosse essa sua vontade. Ele não costumava possuir as mulheres humanas, e ainda mais à força.
— Prefiro morrer do que ser sua escrava, seu desgraçado! Eu só quero levar minha irmã de volta! Foi isso o que vocês fizeram com ela?!!




“Vocês, humanas, não são dignas! Não fizemos isso com sua irmã e nem fazemos com mulher alguma, seja de qual raça for.”
— Então onde ela está?!! O que você fez com ela?!!
Hakon soltou o pescoço de Raquel, ele sentiu nojo dos pensamentos dela.




“Isso a atormenta muito… Não saber o paradeiro da sua irmã, mas lhe digo que ela está bem.”
— Não acredito em você! Como pode estar bem se não apareceu em casa? Minha mãe morreu acreditando que ela estava morta!… Preciso ver ela!




— Por favor, eu preciso saber dela, ver como ela está… Não me negue isso antes de me matar…
Raquel se viu encurralada e tentou ser o mais convincente possível, mas o que ela pretendia era fugir dali com a irmã. Como ela faria isso, ainda não sabia. E, além disso, Raquel sentia um sentimento estranho, algo se movimentava dentro dela em conexão com o próprio demônio que existia em Hakon. Ela só não sabia explicar o que era.




Hakon, afrouxou as mãos em volta dos pulsos dela, olhou nos olhos de Raquel, despertando o que há muito estava adormecido. Sentiu o monstro dentro dele se agitar e se contorcer, ele viu algo nos olhos dela… Uma familiaridade, um “algo” em comum, que ele não sabia distinguir o que era e nem conseguia se lembrar do que fosse, e isso o deixava assustado. Ao mesmo tempo que a desejava, sentia vontade de matá-la.
Os dois então se olharam por um período curto, mas que pareceu uma era inteira, a energia dentro deles se agitava um pelo outro. Raquel sentiu o que ela mais temia e reagiu a isso.




— SE AFASTA DE MIM, SEU DEMÔNIO DESGRAÇADO!!!




— Nunca vai conseguir dominar a minha mente! NUNCA!!! — Raquel pensou que Hakon estava tentando hipnotizá-la, por isso teve um sentimento que a deixou mais do que desesperada.




“A sua mente me enoja. Eu não quero você! Jamais a tocaria. Até seu cheiro me incomoda, humana patética!… Vou matá-la para que outros não cometam o mesmo erro que você!”
“Posso ser insignificante, mas consegui chegar até aqui, e por isso não me negue o direito de ver minha irmã antes de morrer! Fui mais digna do que seus vampiros despreparados!” — e agora Raquel consegui ganhar a atenção do príncipe novamente, pois ela também conseguiu falar com ele por telepatia, feito esse que só os Astaroth conseguiam fazer entre si.





Hakon, desfez qualquer sentimento de piedade que talvez tivesse sentido por Raquel naquele momento.
Raquel ficou assustada. Agora ela temia não conseguir tirar sua irmã dali. Ela já nem sabia mais se conseguiria sair viva. Agora tinha a certeza de que Renata estava com eles, mas não sabia em que estado e nem como ela se encontrava, por isso a jovem caçadora ficou atormentada por seu próprio fracasso.




Hakon a suspendeu no ar, sufocando-a com seu poder de telecinesia. Mas ele deu apenas uma pequena amostra de sua ira, sem a machucar muito, pois ele ainda queria quebrar completamente as barreiras de sua mente, a caçadora humana era um mistério que pretendia desvendar.




“Permitirei que veja a sua irmã antes de morrer, e você poderá ver como ela está! Ou talvez eu mate vocês duas juntas.”




Após atormentar a mente de Raquel, ele a arremessa contra a parede pouco antes dela sufocar.




Raquel estava, ainda mais, machucada e atormentada, por não saber se conseguiria salvar a sua irmã e a si mesma.




E, assim, Hakon deixou Raquel viver por mais um dia, já que logo iria voltar.



Continua...

Comentários

  1. Já não fui com a cara do Hakon. Ele claramente não vai com a cara dos humanos apesar de ser parte do trabalho dele proteger eles.

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